Adoção de pets pode ser aliada durante isolamento; veja os cuidados

Em meio à pandemia, ser tutor de um animalzinho pode ser uma boa forma de ter uma companhia e manter vínculo afetivo; a ação, no entanto, requer responsabilidade

Foi em meio ao isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus que Andreza Reis, de 26 anos, adotou Pipo, um gatinho de apenas dois meses. Morando sozinha há sete anos, a decisão de adotar o pet foi a forma que a analista de comunicação encontrou para ter uma boa companhia durante a pandemia. "Há algum tempo eu vinha pensando em ter novamente um bichinho porque sabia como era prazeroso", conta.

Antes de Pipo, Andreza já havia sido tutora de outros dois animais, um gato e um cachorro, quando criança. A escolha por um felino se deu por ser "um animal que tem muita independência e liberdade. Gosto desses aspectos da personalidade deles", diz.

A analista encontrou Pipo por meio de um grupo de animais para adoção em uma rede social. Ele, a mãe e os irmãos haviam sido encontrados na rua e estavam em um lar temporário. "Apesar de rápido, o processo de adoção foi consciente, a tutora temporária me fez várias perguntas importantes para se certificar de que ele teria uma boa estrutura e carinho para crescer de forma saudável", detalha sobre o processo.

Para Andreza, a companhia do gatinho tem ajudado a amenizar a sensação de solidão causada pelo isolamento. "É muito bom poder partilhar o dia a dia com eles. Divertem o ambiente e nos lembram da importância de preservar laços de carinho". Mas, também ressalta a responsabilidade de cuidar do bichinho e de facilitar o processo de adaptação.

Apesar de já planejar adotar um animal, Thyerre Cavalcante, de 35 anos, foi colocado ao acaso no caminho de Nia e Bali. Os gatinhos foram encontrados pelo educador físico em um terreno perto da casa onde mora. "Eu ia levar um só, mas acabei pegando os dois para fazerem companhia um ao outro, brincarem e crescerem juntos", relata.

Thyerre conta que a adaptação está sendo boa, com certos cuidados para garantir a segurança dos dois, como bloquear passagens em que eles possam fugir e afastá-los de tomadas.

"Esse ato de adotar parte muito de querer ajudar. Você ver um animal e, dependendo da situação em que ele se encontre, e sem atenção específica, é complicado, muitos sobrevivem, mas os que são mais frágeis é importante que as pessoas tomem consciência e doem amor e carinho", explica sobre a decisão de adotar os felinos que têm dois meses de vida.

Responsabilidade

A psicóloga Bruna Anastácia aponta a adoção como uma maneira de manter um vínculo afetivo especialmente para quem está sozinho durante a pandemia. "O ser humano é muito social, ele precisa estabelecer essas relações para que isso reflita no bem-estar emocional. Além da companhia, um pet gera uma dinâmica na rotina da pessoa para esses dias mais monótonos", diz.

Essa nova rotina pode ajudar, inclusive, as crianças, já que elas precisam desenvolver certas habilidades na criação de um bichinho. "Quando a criança tem um animal e os valores são ensinados, a gente vai ter várias aprendizagens envolvidas: o cuidado com o outro, a autonomia, a responsabilidade, o que favorece o desenvolvimento dela".

Entretanto, é importante ressaltar que a decisão de adotar precisa ser bem pensada, já que o bichinho ainda estará lá quando o isolamento acabar. A veterinária Vanessa Pires elenca os principais cuidados que deve se levar em consideração: precisam de atenção para gastar energia, vacinas e de atendimento clínico. Ela indica ainda fazer testes alérgicos.

"É preciso lembrar que eles precisam brincar, gastar energia, passear e que o tutor precisa dedicar um tempo de sua vida a eles. Se for um gato, é preciso saber que ele precisa estar em um ambiente seguro. Eles são caçadores e tendem a sair, para que isso não aconteça é necessário muitas vezes o uso de telas", explica.

Durante o período da pandemia, em que se é evitado os passeios ao ar livre, a dica de Vanessa é realizar brincadeiras dentro de casa, a exemplo de pega-pega e esconde-esconde. O estresse sem essas atividades pode gerar doenças urinárias ou de pele nos animais.

Já na pós-quarentena, o ideal é fazer um processo de readaptação, uma vez que os pets estarão acostumados com os tutores sempre em casa. "Espalhar brinquedos pela casa que possam distraí-lo, deixar um objeto com o cheiro do tutor e tentar passear antes de sair de casa para gastar energia" são as principais recomendações da veterinária.

Para adotar

Sarah Viana, fundadora do grupo Adote um Amor Pet, aponta que a busca por adoções diminuiu no período e acredita que um dos principais fatores é a questão financeira. "Muita gente perdeu emprego e criar um bichinho demanda muita responsabilidade". Normalmente, são adotados de 15 a 20 animais por mês, mas em abril não conseguiram nenhum.

Com cerca de 10 voluntários ativos, o grupo atua há cinco anos resgatando animais, conseguindo lar temporário e disponibilizando para adoção. "A ideia do Adote é que a gente desafogue os abrigos, que cada cidadão possa fazer a diferença", conta Sarah.

Para quem quer ajudar, pode doar dinheiro ou ração para os animais, além de oferecer a casa como lar temporário, uma boa opção para descobrir se é possível a adoção fixa. Seja de uma forma ou de outra, o importante é a vontade de colaborar com as vidas de tantos bichinhos.