PF instaura inquérito policial sobre suspeita de racismo em voo da Gol

No sábado (29), dois ministérios notificaram a Anac sobre o caso

Em nota publicada neste domingo (30), a Polícia Federal abriu inquérito sobre a suspeita de racismo em voo da Gol contra a passageira Samantha Vitena Barbosa. Na noite da última sexta-feira (28), durante voo que partia de Salvador (BA) para São Paulo (SP), a pesquisadora de 31 anos foi retirada da aeronave por ter se negado a despachar uma mochila

"A Polícia Federal instaurou neste domingo (30/4) inquérito policial para apurar a eventual existência dos crimes de preconceito de raça ou cor durante os procedimentos a retirada compulsória de passageira do Voo Gol 1575 no dia 28/4 no Aeroporto Internacional de Salvador/BA", detalhou o anúncio. 

Segundo a PF, a investigação foi instaurada na Superintendência Regional da Bahia e continuará em sigilo até a conslusão do caso. Em sua defesa, a Gol afirmou que a pesquisadora foi retirada por 'medida de segurança'.

Veja o vídeo

Ministérios notificam ANAC

Ainda no sábado (29), os ministérios da Igualdade Racial (MIR) e dos Direitos Humanos e Cidadania (MDH) notificaram a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O MIR afirmou ter "recebido com indignação as notícias acerca do caso da pesquisadora da Fiocruz, Samantha Barbosa, mulher negra, retirada do avião por se negar a despachar uma mala".

A notificação pede adoção de medidas para ajudar a investigar casos de racismo "praticados por agentes de empresas aéreas”. A pasta ainda propõe uma reunião entre os Ministérios e a Anac. 

"Notificamos a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para adoção de todas as medidas cabíveis no sentido de prevenir, coibir e colaborar com a apuração de casos de racismo praticados por agentes de empresas aéreas, aprimorando seus mecanismos de fiscalização", afirma nota do MIR.

Entenda o caso

Confusão teria se iniciado quando a tripulação do voo 1575, ordenou Samantha a despachar a mochila. Opção que não era viável para ela, tendo em vista, que carregava um notebook na bolsa, o qual poderia ser danificado no compartimento de carga. 

"(...) se eu despachasse meu laptop, ele ficaria em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar", diz Samantha na gravação, feita por outra passageira. "Os comissários falaram para mim que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de falar isso para mim. A culpa não é porque o voo está mais de 2 horas atrasado. Sendo que faz mais de 1 hora que eu coloquei a mochila aqui e o voo não decolou. Agora, há três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo. Eu perguntei e ele disse que não vai falar. E disse que se eu não sair desse voo, ele vai pedir para todo mundo sair, que eu estou desobedecendo e estaria cometendo um crime", desabafa a passageira, enquanto outras pessoas reagem: "É um absurdo!", "eu nunca vi um negócio desse na minha vida!".

Samantha foi expulsa do avião por três agentes da Polícia Federal. Na ocasião, um deles se aproxima dela e diz "estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante". Passageiras começam a protestar contra a expulsão da mulher, que não apresentou nenhuma resistência, ofensa ou agressão contra os policiais. 

Durante toda a gravação Samantha apenas questiona por qual motivo está sendo expulsa. E um dos agentes federais diz que é por questões de "segurança do voo". 

Fiocruz critica expulsão em voo

No sábado, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu nota de repúdio sobre a expulsão de Samantha Barbosa, que é aluna de mestrado em Saúde Pública da fundação.

“A Fiocruz vem se somar às manifestações de todas as pessoas e instituições que repudiam atos violentos como o que ocorreu num voo na noite desta sexta-feira (28/4), no trajeto de Salvador para São Paulo. A passageira Samantha Vitena, mestranda em Bioética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz, foi vítima de racismo e violência contra a mulher pela forma de tratamento dispensada a ela tanto dentro do voo, pela tripulação, como pelos agentes da Polícia Federal, convocados pela companhia aérea, para retirá-la à força sem justificativa e sem que Samantha apresentasse qualquer resistência ou motivo para tal”, disse a instituição.