A pesquisa de mestrado de Cristiane Garcia Teixeira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), encontrou um achado histórico: uma biografia de Dom Pedro II escrita por Machado de Assis. De acordo com a UFSC, a dissertação teve a orientação da professora Maria de Fátima Fontes Piazza. O trabalho ainda virou o artigo M’achado biógrafo: da investigação de uma revista a um texto inédito e foi publicado na revista ArtCultura.
O texto foi encontrado durante a pesquisa para a dissertação "Um projeto de revista n’O Espelho: literatura, modas, indústria e artes (1859-1860)". “É o resultado da análise que fiz do espaço geográfico do impresso: investiguei como os autores e seus textos se movimentavam dentro da revista, como se formou o quadro editorial do Espelho, juntamente com a análise de outros impressos que possuíam os mesmos colaboradores, ou seja, que faziam parte do mesmo grupo dos colaboradores”, informa Cristiane.
A pesquisadora aponta que foi uma “tentativa de buscar explorar uma possível rede de sociabilidade da qual O Espelho poderia ter sido consequência. Foi preciso conhecer quem escreveu para a revista para poder compreender o impresso em sua totalidade”. Cristiane conta que Lúcia Miguel Pereira, biógrafa de Machado de Assis, chama de “grupo da Marmota” os colaboradores do jornal de variedades que pertencia a Francisco de Paula Brito, chamado de A Marmota. Cristiane adota “grupo da Marmota” para se referir aos escritores de O Espelho, porque eram “praticamente os mesmos”.
Cristiane explica que o texto foi publicado em 6 de novembro de 1859 n'O Espelho. “Machado de Assis tinha vinte anos de idade quando começou a escrever nesta revista. Ele foi o colaborador mais assíduo, escreveu 38 textos em apenas quatro meses”, diz Cristiane. Ela ressalta que o número é alto: “Para se ter uma ideia da importância, entre 1855 e 1857 Machado escreveu, para a imprensa da Corte em geral, 36 textos”.
Como era típico de Machado de Assis, o texto foi escrito em primeira pessoa. “Já é possível perceber o negaceio na escrita do jovem Machado que alertava para o fato de não estar escrevendo sobre o imperador a partir de uma perspectiva política porque o ‘cálculo’ e a ‘conveniência’ não permitiam que fizesse isso”, comenta.
Cristiane afirma que “podem existir ‘textos escondidos’ em periódicos antigos, que podem mudar a maneira como trabalhamos a história da imprensa, literatura e dos intelectuais do século XIX. Sempre tem algo a se encontrar: as páginas amareladas da imprensa oitocentista são, em minha opinião, baús de tesouros”. Ela sugere que ainda existem inúmeras análises para serem realizadas e outras questões a serem respondidas, como os objetivos e motivos que levaram Machado a escrever a biografia.