Em mensagens recuperadas pela Polícia Civil no celular da professora Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, de 4 anos, mostram diálogos entre ela e a família. Ao pai, o funcionário civil da Aeronáutica Fernando José Fernandes da Costa e Silva, Monique escreveu "me sinto culpada" no dia 15 de março, uma semana após a morte do filho.
Na conversa, obtida pelo jornal O Globo, a professora disse à 1h18: “Devo merecer o que está acontecendo. Tudo foram escolhas minhas. Agora estou colhendo. Me sinto muito culpada”. Então o pai responde: “Todos nós erramos.” E Monique continua: “Eu deveria ter colocado ele na cama dele que era mais baixa. Deveria ter dormido no quartinho dele com ele”. Fernando finaliza: “Nada acontece se Deus não permitir.”
O trecho faz parte das 134 mensagens em que ela trocou com o pai e foram recuperadas pela Polícia. Ao todo, os agentes encontraram 360 diálogos entre a professora e a família, entre os dias 13 e 24 março. Dois dias depois, policiais apreenderam quatro aparelhos celulares da família na casa onde moram, em Bangu, no Rio de Janeiro.
Para a mãe, a também professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva, Monique enviou 226 textos, arquivos e trocou ligações. No dia 16 de março, a mãe de Henry conta que estar indo para o escritório do advogado André França Barreto, que, na ocasião, representava ela e o namorado, o médico e vereador carioca Jairo Souza Santos Junior, Dr. Jairinho (sem partido).
Na mensagem, ela conta que passou por “sete horas de interrogatório” no local durante o dia anterior, “fazendo um possível inquérito” e escreve: “Que Deus me ajude”. Então Rosângela responde: “Isso tudo vai passar. Foi o que eu lhe disse. Tem coisas que nós, mães não conseguimos evitar que o filho passe. Estou em oração por você e Deus escuta nossas orações.”
“Você foi a melhor mãe para o seu filho. Tenha certeza do que você foi e ele será sempre grato. Te amo e rezo sempre. Não tenha medo de nada. O que não foi feito ou da maneira que foi feito foi o seu entendimento como mãe. Mãe quer sempre educar mesmo que muitas vezes nos parece errado. Te amo. Isso tudo vai passar. Entregue a Deus a sua vida e espera a recompensa”, disse a avó de Henry à filha.
Depoimento à Polícia
Em declaração aos investigadores, Rosângela descreveu Henry como sendo um garoto doce, tímido, introvertido, educado e excelente aluno. Ela disse ter recebido uma ligação da filha no dia da morte do neto, 8 de março, em que Monique contou que “Henry não está respirando!”. Em seguida, a avó se dirigiu para o Hospital Barra D’Or, onde a criança foi levada, e soube durante o trajeto que o Henry faleceu. Rosângela contou que encontrou a filha “desolada” ao chegar na unidade de saúde.
Ao ser interrogada sobre a causa da morte do menino, ela disse que “pelo que soube” ele teve uma hemorragia causada “por uma queda”. A versão é diferente da que os investigadores acreditam. Para eles, Henry foi assassinado com emprego de tortura e sem oportunidade de defesa e apontam o padrasto da criança, Dr. Jairinho, como principal suspeito.
Monique e Jairinho estão presos por suspeita de homicídio duplamente qualificado, por emprego de tortura e impossibilidade de defesa.
Morte de Henry Borel
Henry Borel morreu na madrugada de 8 de março, no apartamento em que vivia com Monique e Dr. Jairinho, na Barra da Tijuca. Segundo as investigações, ele era agredido pelo vereador com bandas, chutes e pancadas na cabeça. Monique tinha conhecimento da violência desde o dia 12 de fevereiro, pelo menos.
O laudo da perícia sobre o corpo concluiu que a criança apresentava 23 lesões provocados por ação violenta e descartou a versão apresentada por Monique Medeiros, de que o filho teria se machucado ao cair da cama.