O jovem negro Matheus Fernandes, de 18 anos, que trabalha como entregador de comida por aplicativo, foi rendido e ameaçado por dois homens que se identificaram como policiais enquanto aguardava atendimento numa unidade das Lojas Renner, dentro do Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador (zona norte do Rio), na quinta-feira (6).
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Armados, os dois homens obrigaram Fernandes a sair da loja e seguir até uma escadaria, onde ele foi ameaçado e teve que entregar a carteira com documentos. Um segurança do shopping presenciou o episódio, mas não interferiu - segundo o shopping, porque os dois rapazes se identificaram como policiais. Após protestos dos clientes do shopping, Fernandes foi libertado e a dupla foi embora - segundo a vítima, levando seu cartão bancário.
Fernandes foi ao shopping para trocar um relógio que havia comprado para o Dia dos Pais, comemorado no próximo domingo (9). Enquanto aguardava o atendimento em um balcão dentro da Renner, foi abordado pela dupla. "Eles tiraram foto minha, e eu senti que tinha alguma coisa errada", contou o entregador em um vídeo divulgado pelas redes sociais.
"Eles vieram falar que eu era suspeito de furto, porque estava com um relógio, mesmo tendo a etiqueta e a nota fiscal. Aí disseram que eu sou suspeito de furto, e começaram a me segurar, empurrar, balançar. Quando menos esperei, o rapaz da camiseta vermelha me deu uma banda, sacou a pistola pra cima de mim, botou a pistola aqui (aponta a cabeça), pensei que ele ia me matar. Eu comecei a gritar, para ver se alguém que me conhecia tomava alguma providência".
Imagens do entregador rendido pelos dois rapazes, sob o olhar de um segurança do shopping, foram gravadas e estão circulando pelas redes sociais.
Em nota, as Lojas Renner afirmaram que "os agressores não integram o nosso quadro de colaboradores ou de prestadores de serviço" e que "estamos tomando as medidas necessárias para esclarecer o fato e buscando contato com o Matheus Fernandes para dar a ele o suporte necessário". A empresa afirmou ainda que pediu esclarecimentos ao shopping Ilha Plaza "para entender o que ocorreu".
A assessoria de imprensa do shopping afirmou que "os agressores não são funcionários do shopping tampouco funcionários da empresa de vigilância do shopping". Segundo a empresa, "o vigilante do Ilha Plaza (que aparece uniformizado no vídeo) atuou de forma a contornar pacificamente a situação a fim de preservar não apenas o cliente, como também todas as pessoas que lá se encontravam". O shopping afirma que, embora os dois agressores tenham se identificado como policiais, eles não foram identificados, e isso caberá à polícia.
O caso está sendo investigado pela 37ª DP (Ilha do Governador), onde a vítima prestaria depoimento ainda nesta sexta-feira. Agentes estão em busca de testemunhas e solicitaram imagens do circuito interno do shopping, para esclarecer o episódio, segundo a Polícia Civil. Outras diligências estão em andamento, diz a polícia.
À TV Globo a mãe de Fernandes afirmou que seu filho foi vítima de racismo: "Foi por causa da cor da pele. Não tem outra explicação. Eu não sou tão negra, então eu posso ir ao shopping, mexer em todas as roupas, posso provar as coisas de graça. Se ele está sozinho, ele não pode fazer nada disso. Foi o que aconteceu. Ele sozinho não pode? Ele vai ter que sempre estar com alguém do lado? Alguém branco?", questionou Alice Fernandes Bione.
Também à emissora, Fernandes afirmou que chorou muito após o episódio: "Acontece, mas não era para acontecer. Não era para acontecer. Eu chorei muito, muito".