A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu alerta que a pandemia de Covid-19 no Brasil deve permanecer em níveis críticos ao longo de todo o mês de abril. Os pesquisadores defendem a adoção de um lockdown para conter a transmissão e ressaltam que 23 estados, incluindo o Ceará e o Distrito Federal, estão em situação grave.
Em boletim extraordinário publicado nesta terça-feira (6), a Fiocruz ressalta que houve aceleração da transmissão da Covid-19 na última semana e permanência de valores altos de positividade dos testes. A letalidade da doença, que era de 2% no final de 2020, chegou a 4,2%.
De 28 de março a 3 de abril, o País registrou diversos recordes da doença, superando a marca de 3 mil mortes diárias. Os dados da semana passada apontam diminuição de 2% do número de casos por dia e aumento de 1,5% do número de mortes ao dia. Isso pode representar tendência de estabilidade, mas não de contenção da pandemia, conforme os especialistas.
O Ceará e outros dezoito estados têm taxas de ocupação hospitalar superior a 90%. Fortaleza e outras vinte capitais estão na mesma situação crítica.
Apenas Roraima está fora da zona de alerta, com taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensitva (UTI) em 49%. Estão no nível de alerta médio o Amazonas (taxa de 75%) e a Paraíba (77%). Todos os outros estados e o Distrito Federal estão em alerta crítico de ocupação dos leitos de UTI. Em 15 de março, apenas Roraima estava fora da zona crítica.
Entre os dias 29 de março e 5 de abril de 2021, as taxas de ocupação de leitos de UTI apresentaram reduções em Roraima (de 62% para 49%), Amapá (de 100% para 91%), Maranhão (de 88% para 80%), Paraíba (de 84% para 77%) e Rio Grande do Sul (de 95% para 90%). Em contrapartida, houve piora em Sergipe, com a taxa subindo de 86% para 95%.
Medidas de restrição
O boletim ressalta que a crise do sistema de saúde atinge 23 estados e o Distrito Federal, constituindo situação bastante grave.
"É essencial neste momento a adoção, ou continuidade da adoção, de medidas urgentes, que envolvem a contenção das taxas de transmissão e crescimento de casos por meio de medidas de bloqueio ou lockdown, acompanhadas de respostas na ampliação da oferta de leitos com qualidade e segurança, bem como prevenção do desabastecimento de medicamentos e insumos", afirma o boletim.
Conforme a Fiocruz, os efeitos das diferentes medidas de restrição adotadas pelos estados e municípios devem ser sentidos de 3 a 4 semanas após adoção consistente. Essas medidas produziram êxitos localizados, mas precisam ser seguidas por mais tempo para garantir diminuição do número de óbitos e de internações, de acordo com a fundação.
Os especialistas recomendam medidas de restrição das atividades não essenciais para todos os estados e regiões de saúde com taxa de ocupação acima de 85%. A recomendação é que as medidas sejam adotadas por pelo menos 14 dias, a depender da amplitude e do rigor da aplicação.
- A proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional;
- A suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país;
- O toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana;
- O fechamento das praias e bares;
- A adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado;
- A instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual;
- A adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos;
- A ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
"É fundamental neste momento de crise, que exige medidas combinadas e complexas, que haja uma coerência e convergência dos diferentes poderes do Estado brasileiro (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como dos diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal) em favor das medidas de bloqueio", ressalta a Fiocruz.