A cúpula reunirá entre terça (8) e quarta-feira (9) os oito países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), criada em 1995 para preservar a floresta: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O encontro regional no Brasil visa conter a devastação da floresta.
A líder indígena equatoriana Nemo Guiquita, na véspera da Cúpula da Amazônia, pediu maior valorização da Floresta Amazônica. "A floresta não é um poço de petróleo, não é uma mina de ouro, é nosso templo", afirmou.
Guiquita, dirigente da organização Confeniae, que representa 1.500 comunidades amazônicas do Equador, é uma das líderes indígenas presentes em Belém, no Pará, para exigir aos países amazônicos que garantam seu direito à terra e combatam os crimes ambientais que ameaçam sua subsistência.
"Esperamos que nossos debates sejam incluídos nas conclusões [da cúpula], porque se as decisões são tomadas só a nível de Estados, nosso trabalho será em vão", disse à AFP a líder equatoriana, após participar neste fim de semana do evento Diálogos Amazônicos para discutir soluções para a crise climática.
Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, afirma que mais de 24 mil pessoas participaram dos Diálogos Amazônicos, o dobro do esperado. "É um momento histórico para nós, povos indígenas", comentou em Belém.
'Políticas públicas para a Amazônia com base em evidência'.
Nesta segunda-feira (7), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu mais políticas públicas para a Floresta, em uma coletiva de imprensa ao lado do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira.
"Como tivemos esse hiato de 14 anos sem ter uma convocação da cúpula, nós chegamos a ela com uma clareza. A primeira delas é de que a Amazônia está drasticamente ameaçada. A segunda, de que nós não podemos permitir que ela entre em ponto de não retorno. A terceira, de que é impossível reverter esse processo trabalhando de forma isolada. Vamos trabalhar de forma conjunta", pontuou.
O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, explicou que haverá uma declaração de Belém, já negociada pelos oito países e será aprovada nesta terça-feira (8). "Essa declaração de Belém, aprovada pelos presidentes no dia de amanhã, dá instruções para que os ministros do Exterior e as autoridades de nível ministerial instruam a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica nas novas tarefas e nas novas metas que são enumeradas nessa declaração", concluiu.
Indígenas querem ser ouvidos
Um dos principais desafios da cúpula será conseguir um compromisso conjunto para erradicar o desmatamento, motivado sobretudo pelo uso da terra como pasto para a criação de gado, mas que também é alimentado pelo garimpo ilegal, o tráfico de madeira, de armas e de drogas.
"Tanto faz o presidente daqui quanto os presidentes de fora, eles têm que nos ouvir. Os presidentes daqui, eles estão alinhando com ações para conter o desmatamento. Eu estive fora do país e também conversei com autoridades do exterior, e eles também estão preocupados com isso", disse o cacique Raoni Metuktire, que participou dos debates prévios.
A Amazônia se encaminha, segundo os cientistas, para um ponto sem retorno, a partir do qual emitirá mais carbono do que absorver, agravando o aquecimento global.
"Esperamos pelo menos um compromisso dos Estados de demarcar os territórios indígenas", disseToya Manchineri, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Barreira contra o desmatamento
As terras indígenas, que contam com diferentes graus de proteção legal, são consideradas pelos especialistas uma barreira contra o desmatamento, pela forma sustentável em que os indígenas as exploram.
"Pedimos aos grandes líderes mundiais um trabalho forte a favor da conservação. Nossa luta não é só para os povos indígenas, é para o mundo inteiro, para que muitas gerações possam seguir sobrevivendo neste planeta", declarou Guiquita.
Guajajara lembrou que a demarcação das terras indígenas “é a reivindicação primeira dos povos indígenas em todos os tempos". No Brasil, "em dez anos, foram 11 territórios demarcados, e agora", sob o governo de Lula, "em quatro meses já foram seis", comemorou. "Nós, povos indígenas, estamos juntos pensando não só os próximos quatro anos, mas nos próximos 40", acrescentou a ministra.
'Fazer as pazes com a natureza'
Além do combate ao desmatamento e à criminalidade, espera-se que os governos discutam estratégias para o desenvolvimento sustentável da região.
Para o colombiano Darío Mejía, do povo indígena Zenú e membro do Fórum Permanente para Questões Indígenas da ONU, os povos indígenas devem ser considerados "instituições milenares" e ter seus conhecimentos tradicionais respeitados.
"O mercado tem tido diferentes nomes: primeiro progresso, depois desenvolvimento, agora bioeconomia ou economia de transição. Mas se não forem superados os valores de competitividade, de guerra permanente contra a natureza, será muito difícil superarmos a crise ambiental", afirmou.
Enquanto o planeta enfrenta eventos climáticos extremos e guerras, "aqui [os governos] estão se reunindo para buscar acordos para fazer as pazes com a natureza. Tenho esperança de que isso resultará em um passo importante para todos", concluiu.