Quinze anos após desaparecimento, Justiça portuguesa retoma pista sobre caso Madeleine McCann

A Procuradoria portuguesa anunciou que pediu a acusação de um suspeito na Alemanha

Os pais de Madeleine McCann, menina britânica desaparecida há 15 anos no sul de Portugal, disseram nesta sexta-feira (22) que "não perderam a esperança" de encontrar a filha. A declaração veio um dia após a Justiça portuguesa indiciar um homem na Alemanha.

"Embora a possibilidade seja remota, não perdemos a esperança de que Madeleine ainda esteja viva e que a encontremos", escreveram Kate e Gerry McCann em um comunicado publicado no site dedicado à filha. 

Ambos salientaram que o suspeito "ainda não foi acusado de nenhum crime específico relacionado ao desaparecimento de Madeleine".

A Procuradoria portuguesa anunciou na quinta (21) que pediu a acusação de um suspeito na Alemanha, sem especificar a identidade ou a natureza das suspeitas que pesam sobre ele, no âmbito de uma investigação sobre o desaparecimento de Maddie realizada "em cooperação com as autoridades inglesas e alemãs". 

As reações coletadas pela AFP da Procuradoria de Brunswick e do advogado do alemão identificado como "Christian B" não deixam dúvidas de que ele também se tornou o suspeito número 1 da acusação portuguesa. 

"É óbvio que Portugal também tem suspeitas sobre ele", mas "eu ficaria surpreso se da noite para o dia eles estivessem mais avançados na investigação do que nós aqui", disse Hans Christian Wolters, porta-voz da Procuradoria de Brunswick, responsável pela parte alemã do caso. 

"Não devemos superestimar esta medida tomada pelas autoridades portuguesas", disse Friedrich Sebastian Fülscher, advogado de Kiel (norte da Alemanha), que representa "Christian B".

"Em Portugal, até um homicídio prescreve após 15 anos. No caso de Maddie, se ela morreu em maio de 2007, isso acontecerá em algumas semanas. Suponho que a prescrição foi interrompida com esta medida", acrescentou. 

"O que aconteceu está relacionado com a prescrição. (...) Basicamente, é um truque processual da acusação" para manter o processo em aberto, disse Gonçalo Amaral, ex-inspetor português responsável pelo caso, demitido da força policial após acusar os pais da menina de matá-la acidentalmente e depois esconder o corpo.

Caso Maddie

Madeleine McCann, a Maddie, desapareceu em 3 de maio de 2007, pouco antes do seu quarto aniversário, na Praia da Luz, estância balnear da região do Algarve, em Portugal, onde passava férias com a família. 

O desaparecimento deu origem a uma extraordinária campanha internacional de seus pais para tentar encontrá-la. As fotos da pequena Maddie, com seus cabelos castanhos e seus grandes olhos claros, deram a volta ao mundo.

Após 14 meses de investigações controversas marcadas pela acusação, e depois pela exoneração, dos pais Gerry e Kate McCann, a Justiça portuguesa encerrou o processo em 2008, antes de o reabrir cinco anos depois devido a "novos elementos".

No entanto, o caso realmente não avançou até junho de 2020, quando a Procuradoria de Brunswick disse que tinha certeza que a menina morreu, acrescentando que suas suspeitas recaíam sobre um homem que foi detido em Kiel por outro caso. 

No momento do desaparecimento de Maddie, "Christian B.", atualmente cumprindo pena de prisão pelo estupro de uma mulher americana de 72 anos em 2005 no sul de Portugal, vivia a poucos quilômetros do hotel onde a menina desapareceu, segundo os investigadores alemães. 

A Procuradoria de Brunswick também iniciou um processo contra ele em outro caso de estupro, o de uma mulher irlandesa, e por abuso sexual de menores em Portugal. 

"Meus colegas estão trabalhando nesses outros casos para que possamos fechar este capítulo em um futuro próximo. Quando terminar, lidaremos exclusivamente com Maddie", disse Hans Christian Wolters, porta-voz da Procuradoria de Brunswick.