O que se sabe sobre o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise

Polícia prendeu seis supostos assassinos do presidente do Haiti e anunciou a morte de quatro deles

Um dia após o crime, chegou a seis o número de presos pelo assassinato do presidente Jovenel Moise. No confronto com a polícia haitiana, já foram quatro suspeitos mortos, entre quarta (7) e quinta-feira (8).  

A enviada da Organização das Nações Unidas (ONU) ao país, Helen La Lime, disse que os acusados estão sob custódia policial. Na noite da quarta-feira, a polícia disse que perseguiu os supostos membros do comando e ainda está "mobilizada na batalha contra os agressores". 

"Desde esta noite, estamos lutando contra eles", declarou na televisão o diretor-geral da Polícia Nacional do Haiti, Léon Charles.

"Quatro mercenários foram mortos, dois colocados sob nosso controle. Três policiais que foram feitos reféns foram recuperados", acrescentou.

Quem seriam os culpados 

De acordo com o embaixador do Haiti nos Estados Unidos, Bocchit Edmond, o comando era composto por mercenários "profissionais", que se fizeram passar por agentes da agência antidrogas dos Estados Unidos, a DEA.

Pedindo calma à população, ele prometeu que "os assassinos vão pagar pelo que fizeram na Justiça". O aeroporto de Porto Príncipe foi fechado, e a República Dominicana fechou a fronteira com o país vizinho.

Além disso, um luto nacional de duas semanas foi proclamado a partir desta quinta.

Na quarta à tarde, Claude Joseph anunciou em um discurso sua decisão de "declarar estado de sítio em todo país", o que concede ao Executivo poderes reforçados por 15 dias. 

Quem foram os suspeitos presos

Até o momento, as autoridades haitianas confirmaram que seis pessoas foram presas e quatro mortas. A identidade das vítimas não foi divulgada. Um cidadão americano estaria entre os presos, segundo Mathias Pierre, ministro das eleições do Haiti.

Pierre não confirmou as informações da imprensa, que identifica o homem como James Solages. “Entre os agressores, seis estão nas mãos da polícia”, disse o diretor da Polícia Nacional, Leon Charles.

"Também sei que um grupo de possíveis perpetradores se refugiou em dois prédios na cidade e agora está cercado pela polícia", afirmou La Lime a repórteres em Nova York.

ONU diz que há mais presos

Segundo Helen La Lime, o número de suspeitos cercados pela polícia haitiana é superior a seis. A enviada da ONU disse que obteve essa informação nas últimas 12 horas.

Em declarações ao final de uma reunião de emergência a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU, solicitada por Estados Unidos e México e que durou apenas uma hora, a ex-diplomata norte-americana disse não ter informações sobre a identidade dos assassinos.

“Não sei quem está neste comando. Temos que esperar que a polícia haitiana faça mais investigações", disse.

"Estamos enfrentando uma situação muito séria agora" no Haiti, acrescentou. La Lime considerou que o primeiro-ministro interino, Claude Joseph, representa a autoridade responsável no Haiti, enquanto o novo primeiro-ministro, Ariel Henry, nomeado na segunda-feira pelo presidente Moise, não prestou juramento.

Sobre esse assunto, evocou o artigo 149 da Constituição haitiana. Ariel Henry contesta o poder reivindicado por Claude Joseph. “Se há de fato uma mudança neste procedimento, deve ser o resultado de um acordo político entre as partes interessadas”, disse La Lime, indicando que Joseph havia se declarado “aberto ao diálogo”.

Indicou, também, que durante uma entrevista com Joseph na quarta-feira, ele não questionou o calendário eleitoral, que prevê um primeiro turno presidencial em 26 de setembro e um segundo turno em novembro.

"Quando o primeiro-ministro se encontrou conosco ontem ele disse que estava tentando manter esse cronograma", disse a enviada das Nações Unidas.

“Agora cabe ao governo do Haiti e ao povo trabalhar para que essas eleições sejam realizadas e que o povo haitiano possa escolher seus líderes”, afirmou. 

La Lime também revelou que, durante a reunião do Conselho de Segurança, o pedido do Haiti por "assistência adicional de segurança" também foi levantado. "Devemos considerar essa ajuda", indicou. 

“Mas a chave está nas próximas duas semanas; realmente temos que trabalhar da maneira mais eficaz para garantir que esta investigação avance e que os autores deste crime horrível sejam levados à justiça”, acrescentou.

Como o presidente do Haiti foi assassinado

Moise foi morto por um comando armado, em sua casa, na madrugada de quarta-feira. Citando o juiz encarregado do caso, a imprensa local informou que o corpo de Moise foi encontrado com 12 balas e que seu escritório e quarto foram saqueados.

A filha do presidente, Jomarlie, estava em casa durante o ataque, mas conseguiu se esconder, disse o juiz Carl Henry Destin ao jornal Le Nouvelliste

"O escritório e o quarto foram saqueados. Nós o encontramos deitado de costas, calça azul, camisa branca manchada de sangue, boca aberta, olho esquerdo perfurado", descreveu o magistrado.
 

A esposa do presidente, Martine Moise, foi ferida e transferida de avião para Miami. Segundo o primeiro-ministro, ela está fora de perigo e em situação "estável".

Entenda a crise por trás da morte do presidente do Haiti 

O assassinato ameaça desestabilizar ainda mais o país mais pobre das Américas, que já enfrenta uma profunda crise política e de segurança. 

O Departamento de Estado americano pediu que o processo continue para a organização de eleições legislativas e presidencial - programadas, em princípio, para 26 de setembro, com um segundo turno em 21 de novembro.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, transmitiu a Claude Joseph "o compromisso" de Washington de "trabalhar com o governo do Haiti para apoiar o povo haitiano, a governança democrática, a paz e a segurança", disse seu porta-voz Ned Price. 

O Haiti está mergulhado em uma espiral de violência. Os sequestros praticados por grupos criminosos se tornaram rotina. Moise foi criticado por sua inércia em face da crise e sofria com a desconfiança de grande parte da sociedade civil.

Durante seu mandato, o presidente nomeou sete primeiros-ministros. O último foi Ariel Henry, que deveria tomar posse em breve.

Governando por decreto desde janeiro de 2020, sem Parlamento e com a duração de seu mandato em xeque, Moise implantou uma reforma institucional para reforçar as prerrogativas do Executivo.

Um referendo constitucional deveria ter sido realizado em abril, mas foi adiado para 27 de junho e, mais uma vez, para setembro.

Repercussão do caso

As mensagens de repúdio de Washington, da Organização dos Estados Americanos (OEA) ou da União Europeia (UE) foram acompanhadas nesta quinta-feira pelo papa Francisco, que expressou sua "tristeza" pelo "assassinato atroz" e sua "condenação a todas as formas de violência como um meio para resolver crises e conflitos".

Após a notícia, todas as atividades foram paralisadas em Porto Príncipe e nas cidades de sua província, segundo testemunhas. Moradora identificada apenas como Bernadette, de 44 anos, descreveu o evento como "um novo terremoto no Haiti", após o terremoto devastador de 2010. 

Já Jacquelyn, de 50 anos, moradora da capital, questionou a motivação dos autores. "Quem tem interesse em assassinar Jovenel Moise? Nunca saberemos disso".

Vindo do mundo dos negócios, Moise, de 53 anos, foi eleito presidente em 2016 com a promessa de desenvolver a economia do país. Assumiu o cargo em fevereiro de 2017.

Embora tenha trabalhado em vários setores econômicos, incluindo a plantação de banana, tinha pouca experiência política quando foi eleito.