Os bombardeios russos contra a Ucrânia atingiram um vilarejo na cidade polonesa de Przewodów, matando duas pessoas, nesta terça-feira (15). É a primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia que um míssil atinge um país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Polônia confirma que 'míssil de fabricação russa' atingiu seu território. Kremlin ainda não se manifestou.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Polônia, Lukasz Jasina, confirmou que o projétil que caiu em território polonês é de fabricação russa.
"Um míssil de fabricação russa caiu, matando dois cidadãos da República da Polônia", disse Jasina em comunicado, acrescentando que o embaixador russo em Varsóvia foi convocado para pedir "explicações detalhadas" sobre o ocorrido.
O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, pediu à população que mantenha a calma.
"Peço a todos os poloneses que mantenham a calma diante desta tragédia (...) Precisamos ter moderação e cautela", declarou Morawiecki após reuniões de emergência do governo em Varsóvia.
Ao longo desta terça, o exército russo atacou infraestruturas energéticas na Ucrânia, que provocaram apagões na vizinha Moldávia. "Partes da Moldávia estão sofrendo apagões como consequência dos disparos de mísseis russos contra cidades e estruturas vitais da Ucrânia. Cada bomba que cai sobre a Ucrânia afeta a Moldávia e seu povo. Pedimos à Rússia que acabe com essa destruição agora", tuitou o ministro das Relações Exteriores da Moldávia, Nicu Popescu.
Segundo as autoridades, o país sofreu cortes de energia na maioria das suas regiões e na capital, Chisinau.
O ministro das Infraestruturas e Desenvolvimento Regional da Moldávia, Andrei Spinu, especificou no Telegram que os cortes foram causados pelo "desligamento automático de uma linha de transmissão elétrica (...) por motivos de segurança".
Segundo Spinu, a energia foi restabelecida "quase totalmente" em duas horas, mas ele alertou que "os riscos de falta de energia" continuam "elevados".
"Qualquer bombardeio russo de usinas ucranianas pode levar à mesma situação de hoje", acrescentou.
"Peço que economizem [eletricidade] e sejam solidários", solicitou.
Bombardeio na Ucrânia
Os incidentes coincidem com um novo bombardeio russo em uma dezena de cidades ucranianas, de leste a oeste, incluindo Kiev. Segundo as autoridades ucranianas, os ataques foram dirigidos às infraestruturas de energia e mais de sete milhões de ucranianos estão sem luz. O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, informou que cerca de 85 mísseis foram disparados no país. "Estamos trabalhando, vamos restaurar tudo. Vamos sobreviver a tudo", disse.
O ministro da Energia da Ucrânia, Herman Haluschenko, classificou o ataque como o mais massivo a infraestruturas desde o início da guerra e como uma resposta "vingativa" da Rússia às perdas no campo de batalha, referindo-se a retirada de Kherson na semana passada. "[A Rússia] tenta causar o máximo de danos ao nosso sistema de energia na véspera do inverno", declarou.
A rede elétrica ucraniana já foi atingida por ataques anteriores que destruíram cerca de 40% da infraestrutura energética do país.
Zelensky acusa Rússia
O presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky acusou a Rússia de disparar mísseis contra a Polônia, e instou a aliança transatlântica a "agir" diante de uma "escalada muito significativa" do conflito.
"Mísseis russos atingiram hoje a Polônia, o território de um país aliado. Pessoas morreram. Por favor, aceitem nossas condolências", disse Zelensky. "Disparar mísseis contra o território da Otan é um ataque russo à segurança coletiva. É uma escalada muito significativa. Devemos agir", acrescentou.
EUA reafirma compromisso com a Otan
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou nesta terça-feira, 15, com o homólogo polonês, Andrzej Duda, e reafirmou o "firme compromisso" americano com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo comunicado emitido pela Casa Branca, o democrata ofereceu total apoio e assistência à investigação da Polônia sobre as explosões que ocorreram no país. De acordo com a publicação, os dois líderes disseram que eles e suas equipes devem manter contato próximo para determinar os próximos passos apropriados à medida que a investigação avança.
De acordo com a Reuters, embaixadores da Otan se reunirão nesta quarta-feira a pedido da Polônia, com base no Artigo 4 da aliança. Pelo artigo 4 do tratado fundador da aliança, os membros podem levantar qualquer questão de preocupação, especialmente relacionada à segurança de um país membro. Um diplomatas disse à agência que a aliança agiria com cautela e precisava de tempo para verificar como exatamente o incidente aconteceu.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, conversou hoje com Duda, sobre a explosão na Polônia, que vitimou duas pessoas e que tem a Rússia apontada como culpada. O secretário afirmou que a Otan está monitorando a situação e que os "aliados estão consultando de perto".
Otan se pronuncia
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está investigando relatos não confirmados sobre a queda de mísseis russos em território polonês, disse um alto funcionário da aliança militar transatlântica.
"Estamos investigando esses relatos e em estreita coordenação com nossa aliada Polônia", afirmou o funcionário, que pediu anonimato.
União Europeia
Líderes europeus também se manifestaram após as explosões na Polônia, e reforçaram solidariedade ao país, assim como o apoio à uma nação que é integrante da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte. O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, disse que o governo britânico está "analisando com urgência os relatos de um ataque com míssil" e que apoia os "aliados enquanto eles estabelecem o que aconteceu"
"Também estamos coordenando com nossos parceiros internacionais, incluindo a Otan", apontou o britânico, em seu Twitter. O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, afirmou na mesma rede social que o país "condena veementemente" o incidente em território polonês. "Todos fazemos parte da família Otan que, mais do que nunca, está unida e equipada para nos proteger a todos", apontou. O homólogo de Portugal, António Costa, disse que as notícias são preocupantes. "Estamos a acompanhar atentamente a situação junto das autoridades locais e dos nossos aliados na UE e na Otan", escreveu em seu Twitter.
A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, disse que o país "está acompanhando de perto a situação na Polônia e aguarda mais informações sobre os acontecimentos". Em seu Twitter, a líder concluiu: "apoiamos a Polônia e reagiremos quando temos em mãos o quadro situacional necessário".