Washington. O presidente Donald Trump anunciou, ontem, a retirada dos EUA do Acordo de Paris contra as mudanças climáticas, por considerar que este seja "desvantajoso" para os trabalhadores e os contribuintes norte-americanos.
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"A partir de hoje, os EUA cessarão toda a implementação do Acordo de Paris não vinculativo e os encargos financeiros e econômicos draconianos que o acordo impõe ao nosso País", afirmou Trump em pronunciamento no jardim da Casa Branca.
No entanto, o presidente procurou deixar a porta aberta, ao afirmar que seu governo está disposto a negociar um novo acordo. "Então, estamos saindo, mas vamos começar a negociar e veremos se podemos fazer um acordo que seja justo. E se pudermos, isso é ótimo. E se não pudermos, tudo bem. Como presidente, não posso colocar outra consideração na frente do bem-estar dos americanos", expressou.
Repercussão
O ex-presidente Barack Obama, um dos artífices do Acordo de Paris, afirmou que a decisão de se retirar do pacto global faz com que os EUA "rejeitem o futuro".
"Mesmo na ausência da liderança americana, mesmo que esta administração se una a um pequeno grupo de nações que rejeitam o futuro, estou confiante de que nossos estados, cidades e empresas vão avançar e fazer ainda mais para indicar o caminho e ajudar a proteger o único planeta que temos para as futuras gerações", disse Obama em um comunicado.
O alcance desta decisão vai muito além da questão climática, visto que dá uma indicação sobre o lugar que os EUA aspiram a ocupar na arena internacional nos próximos anos.
Horas antes do anúncio, a China e a União Europeia defenderam com vigor o Acordo de Paris, que pretende limitar o aumento da temperatura global "abaixo de 2ºC" em relação à era pré-industrial. "A China seguirá implementando as promessas que fez durante o Acordo de Paris", disse o premiê chinês Li Keqiang.
Pequim foi, ao lado do governo de Obama, um dos principais artífices do acordo histórico de dezembro de 2015. Merkel considerava o acordo "essencial".
A Rússia, um dos maiores emissores de gases poluentes e signatária do pacto, afirmou que a ausência de "atores essenciais" poderia complicar sua aplicação. Os representantes da União Europeia adotaram um tom menos diplomático. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, considerou inaceitável a saída de Washington.
"Sou partidário da relação transatlântica, mas se o presidente americano anunciar nas próximas horas que quer sair do Acordo de Paris, o dever da Europa será dizer: isto não é correto".
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu a Trump que permaneça no Acordo de Paris.
Já o governo brasileiro se disse decepcionado com o anúncio de Trump. Por meio dos ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, o Brasil manifestou preocupação com o "impacto negativo" que a decisão pode causar e se comprometeu com o "esforço global de combate" às mudanças climáticas.
"O governo brasileiro recebeu com profunda preocupação e decepção o anúncio no dia de hoje, 1° de junho, de que o governo norte-americano pretende retirar-se do Acordo de Paris sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e 'renegociar' sua reentrada. Preocupa-nos o impacto negativo de tal decisão no diálogo e cooperação multilaterais".