Depois do dia mais letal desde o início da epidemia do novo coronavírus na Espanha, com quase 500 mortos, as autoridades confiavam nesta segunda-feira (23) se aproximar do pico de contágios e descartaram restringir ainda mais a circulação para conter o avanço da doença.
>Pista de patinação no gelo servirá de necrotério em Madri
O governo do socialista Pedro Sánchez se dispõe a prorrogar por mais duas semanas, até 11 de abril, o confinamento quase total de seus 46,6 milhões de habitantes, de quem elogia o comportamento, e espera poder conter um vírus que não para de matar.
Nas últimas 24 horas, morreram 462 pessoas, elevando o balanço de vítimas fatais a 2.182, o dobro de três dias atrás, segundo cifras divulgadas pelo ministério da Saúde.
Quase 60% das mortes se concentram na região de Madri, a mais impactada pela epidemia, que ante a saturação de seus serviços funerários decidiu habilitar como necrotério a pista de patinação no gelo de um shopping center da capital espanhola.
Os contágios também aumentaram, embora de forma mais moderada. No último balanço passaram de 28.572 a 33.089, consolidando a Espanha como o segundo país mais castigado da Europa atrás da Itália.
"Parece que se vai suavizando progressivamente o aumento de casos que observamos a cada dia. No entanto, ainda não temos certeza de ter chegado ao pico", disse o diretor de emergência sanitária Fernando Simón, esperando alcançar este ponto esta semana.
Mas, "chegar ao pico significa que temos que dobrar os esforços", visto que provocará maior pressão nos hospitais, quando os novos pacientes se unirem aos que ainda estão em tratamento, advertiu.
Idosos "mortos" em suas residências
Embora o número de curados tenha aumentado nesta segunda-feira a 3.355 pessoas, ainda há 2.355 pacientes em unidades de cuidados intensivos, o que representa a metade dos leitos deste tipo no país.
Também preocupa a situação das casas de repouso para idosos, tão afetadas pela epidemia que solicitaram o auxílio do exército. Em algumas, militares encontraram "idosos absolutamente abandonados, quando não mortos em suas camas", disse a ministra da Defesa Margarita Robles.
E "os dias mais difíceis" estão por vir, repetem sem cessar o governo, que se mobilizou para evitar o colapso do sistema sanitário, dizimado pelo contágio de quase 4.000 profissionais.
Embora tenham sido compradas milhões de máscaras e centenas de milhares de testes de detecção, foram contratados mais de 50.000 profissionais de saúde, contando com estudantes e aposentados e um hospital de campanha foi habilitado em Madri com 1.300 leitos extensíveis a 5.500.
Também o setor industrial se engaja no combate à epidemia, com empresas como as perfumarias Puig, o estaleiro Navantia e a aeronáutica Airbus, entre outras, substituindo sua produção habitual pela fabricação de máscaras, respiradores ou álcool gel.
"Toda a atividade econômica está se orientando àqueles âmbitos que são prioritários", indicou a ministra da Economia, Nadia Calviño.
Novas restrições descartadas
"Contamos com (...) uma gigantesca equipe de 47 milhões de cidadãos, que estão dando uma lição de coragem e disciplina", comemorou o ministro da Saúde, Salvador Illa.
Escolas, áreas de lazer e lojas não imprescindíveis estão fechados em todo o país. Seus moradores só podem sair de casa para trabalhar ou realizar atividades básicas como comprar comida ou levar o cachorro para passear.
Embora a polícia tenha denunciado 50.000 pessoas e praticado 477 detenções por descumpri-lo, o acompanhamento é generalizado. Ruas, praças e parques estão quase desertos e a mobilidade caiu 85%-90%,segundo dados governamentais.
Algumas regiões como a Catalunha, a Andaluzia e Múrcia, e também o sindicato dos médicos, pedem um confinamento total, proibindo o trabalho presencial exceto em setores básicos, como a Itália faz desde a segunda-feira.
"Prefiro que pequemos pelo excesso, com uma ampla pandemia com estas características é melhor prevenir do que remediar", disse o líder conservador, Pablo Casado, cujo Partido Popular governa Andaluzia e Múrcia.
Para o Executivo, basta manter o cumprimento das medidas atuais.
"É difícil entender em que consistem exatamente estas solicitações quando já temos uma atividade econômica muito desacelerada", argumentou Calviño, destacando que setores como o têxtil, o químico, o farmacêutico ou o de transportes são indispensáveis para o funcionamento de um hospital.