A dengue é uma doença febril grave e infecciosa, não contagiosa, que é causada por um arbovírus transmitido por uma picada de mosquito: o Aedes aegypti e familiares dele. Ela tem cura e não tem capacidade de se tornar crônica.
Cada pessoa pode ter os quatro sorotipos dela. No entanto, quem se infectou por um determinado sorotipo terá imunidade para ele. Por exemplo: quem teve dengue tipo 1 não a pegará mais. Contudo, pode contrair os demais tipos (2, 3 e 4).
Quem pode ter dengue
Segundo o infectologista da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), Keny Colares, todas as faixas etárias estão suscetíveis a ter dengue.
Pessoas com problemas no coração, no pulmão e/ou no fígado, ou outras comorbidades, como diabetes e pressão alta, têm uma probabilidade um pouco maior de ter a doença grave (que era chamada antigamente de dengue hemorrágica), explica o médico. Ele frisa, porém, que "isso não é um decreto absoluto".
"Se já teve contato prévio com o vírus da dengue, a chance dela aumenta na segunda vez ou terceira vez que tem a doença mais grave. Mas tudo é relativo, como quando discutimos a questão de risco", afirma.
"Tem gente que tem dengue pela primeira vez e tem dengue grave e pode adoecer severamente, e tem quem tenha dengue pela segunda ou terceira vez e tenha sintomas leves", exemplifica.
Quanto tempo duram os sintomas da dengue
Ele pontua que a dengue chega rapidamente e não costuma durar muito tempo. Os casos, geralmente, se revolvem em cerca de uma semana.
Do número de pessoas diagnosticadas com a doença, diz o infectologista, 60% ou 70% delas não apresentam nenhum sintoma ou têm sintomas tão leves que passam despercebidos. "Poderíamos resumir em uma síndrome febril aguda e diferenciada".
Sintomas da dengue
- Febre maior que 38,5 °C;
- Dor de cabeça;
- Dor atrás dos olhos;
- Mal-estar;
- Dor na musculatura;
- Dor nas articulações;
- Diminuição do apetite;
- Eventualmente, podem aparecer manchas vermelhas na pele;
- Dor de garganta forte, que dificulta a engolir (pode apresentar pus).
O médico salienta que, diferentemente de outras doenças que apresentam febre, mas que têm uma localização, a dengue não aponta tão claramente onde a infecção está, o que torna o diagnóstico mais difícil e pode fazer com que ela se confunda com outras enfermidades.
Dengue grave e fases da dengue
Keny Colares informa que a cada 100 pessoas contaminadas, estima-se que uma ou duas apresentarão sintomas mais severos. A partir do terceiro ou quarto dia, algumas delas vão melhorando progressivamente, ou priorando.
"Estes podem apresentar pressão baixa, sangramentos ou acometimento de alguns órgãos, como agressão ao coração, sistema nervoso ou ao fígado. Era o que antigamente chamava-se dengue hemorrágica. Hoje em dia denominamos dengue grave. Nela, a pessoa tem, ainda, queda da pressão".
O infectologista chama atenção para o termo "dengue hemorrágica", abandonado pela Medicina porque transmitia a ideia errônea de que o paciente diagnosticado com ela apresentava sangramento externo. "Na verdade, é como se o indivíduo estivesse perdendo líquido interno. São várias manifestações".
Conforme Keny Colares, os estudos sobre a dengue mostram que 2/3 dos que têm a doença não têm sintoma nenhum ou têm sintomas tão leves que nem chega a fazer diagnóstico. "Às vezes, tem uma indisposição, mas no outro dia já tá bem. Só 1/3 apresenta os sintomas característicos".
Como a dengue é transmitida
O vetor da dengue é o inseto, especialmente a fêmea, que precisa de sangue para amadurecer os ovos que ela precisará pôr para propagar a espécie.
Também segundo o médico, o mosquito pica as pessoas - muitas vezes vários indivíduos - e, durante a picada, ele mesmo pode se contaminar se fizer isso com quem já está com dengue.
"E aí ela passa a carregar o vírus. Quando ela pica quem não tem, vai transmitir o vírus para a pessoa. Isso faz com que a doença caminhe de uma pessoa para a outra", esclarece.
"Por isso, o combate à dengue é tentar se livrar do mosquito, evitar os criadouros, porque se não tiver o mosquito, o vírus não consegue 'saltar' de uma pessoa para outra. É importante controlar o vetor, que é o mosquito", adiciona.
Diagnóstico da dengue
O diagnóstico da dengue, ressalta o médico, começa por identificação dos sintomas sugestivos da doença. Alguns exames de laboratório chamados de inespecíficos - que não fazem diagnóstico, mas levantam suspeitas - como o hemograma, que conseguem ver as plaquetas, ajudam.
Há ainda outros exames de sangue que podem contribuir e mostrar se o caso é compatível ou não com a enfermidade. A confirmação pode ser feita das seguintes formas:
- Marcadores de laboratórios que identificam diretamente o vírus;
- Método RT-PCR, o mais usado, que identifica o genoma do vírus;
- Teste do antígeno NS1, que identifica um pedaço do vírus.
Keny Colares salienta que os testes costumam ser úteis na fase inicial da doença, especialmente nos primeiros cinco dias, porque depois o vírus desaparece do sangue, já que surgem os anticorpos.
Ele reforça que há como fazer a detecção dos anticorpos por sorologia, mas neste caso não há identificação direta do vírus, somente dos anticorpos que o nosso corpo produziu para combater o vírus. "Eles (anticorpos) começam a surgir no sexto dia".
"Se a pessoa fizer o teste muito cedo, ele vai dar negativo mesmo que ela esteja com dengue. Assim como aqueles outros testes que detectam o vírus, se a pessoa fizer depois do quinto ou sexto dia, mesmo que a ela tenha a doença, vai ser difícil de diagnosticar, porque eles são bem positivos no começo e se tornam negativos no fim", diz.
"Já o anticorpo é o contrário: ele tende a ser negativo no começo e positivo no fim. Geralmente, no quinto ou sexto dia começam a desaparecer os marcadores do vírus e a aparecer os anticorpos", afirma.
O que fazer quando se está com dengue
Se surgirem os sintomas sugestivos da dengue, avalia o médico, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde e ser consultada para ver se há sinais de gravidade da doença, se tem necessidade de solicitar exames, especialmente fazer um acompanhamento.
"A dengue é uma doença que deve ser acompanhada, ser revista, fazer exames, porque com o passar dos dias ela pode piorar. Ela, geralmente, passa a semana sendo monitorada para poder ver se aparecem alguns sinais de doença mais grave, o que vai acontecer em alguma parte das pessoas, mas na maioria das vezes não vai acontecer", explana.
Entre as formas de tratamento estão:
- Ingerir muita água;
- Hidratação oral (pela boca) ou intravenosa (pelas veias);
- Não se automedicar;
- Seguir as demais orientações da equipe médica.
Fatores de risco
O infectologista evidencia que o único fator de risco para a dengue é a pessoa não ter sido infectada por nenhum dos quatro sorotipos da doença, o que ele considera ser mais comum nos jovens. É provável que pessoas mais velhas tenham tido a enfermidade, com três ou quatro sorotipos, ao longo da vida. "No caso, elas não vão ter mais a infecção porque já teve antes".
No que se refere à dengue grave, ele complementa que há dois fatores de risco: pessoas com mais idade com problemas no coração, pulmão, fígado, pressão alta, diabetes, etc.; ou quem já teve a doença no passado. Assim, o estado de saúde fica mais grave quando ela é infectada pelo outro sorotipo.
Período de maior transmissão
O período de maior transmissão da dengue, aponta Keny Colares, é o que tem mais calor e chuva. No estado do Ceará, isso acontece a partir de janeiro e fevereiro, e vai aumentando no decorrer dos meses. O pico ocorre de março a maio. Depois a transmissão vai caindo.
"O mosquito tem predileção por determinadas épocas do ano, por ambientes com temperatura elevada e pequenas coleções de água".
Já o período de maior transmissão da doença para o mosquito são os primeiros dias, quando a pessoa está com muito vírus no sangue.
"Mas é só se o inseto picar a pessoa que ele vai ter a maior chance de se contaminar e transmitir para outro indivíduo. A partir do quarto ou quinto dia, a quantidade de vírus no sangue do infectado vai diminuindo".
Como prevenir a dengue
Ele realça que a dengue tem como prevenção principal o combate ao Aedes aegypti, já que ele não consegue se transferir diretamente de uma pessoa para outra, como a Covid-19.
A principal estratégia para o combate ao mosquito, enfatiza, é evitar os criadouros locais onde eles tenham as melhores condições para se proliferar, multiplicar, colocar os ovos e criar outros insetos.
"Ele (mosquito) gosta de pôr os ovos em pequenos recipientes de água, como tampa de garrafa, copos, pneus, caixa d'águas que não são bem vedadas, casas abandonadas que ficam com recipientes expostos", acentua.
"Onde se forma água limpa, que ele prefere. Pode formar criadouros, fazendo com que se desenvolvam centenas ou milhares deles. Se não deixarmos que os recipientes fiquem assim, impediremos o surgimento de novos insetos", frisa.
Keny Colares é formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Fez especialização, residência, mestrado e doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que tem um dos principais núcleos de doenças infecciosas do Brasil, com ênfase em virologia. Atualmente, é infectologista da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE).