Com a decisão do Conselho Federal de Medicina pela proibição da prescrição de esteróides anabolizantes para fins estéticos, as dúvidas sobre o uso de hormônios para tratamentos relacionados ao corpo perfeito tem crescido entre mulheres e homens. O 'chip da beleza', por exemplo, é um dos protocolos que tem sido utilizados em consultórios de todo o país, por exemplo. Mas, afinal de contas, o que ele, de fato, representa?
No último domingo (16), em meio à discussão do tema no programa 'Fantástico', da TV Globo, o relato da cantora Flay chamou atenção: a artista viu o corpo mudar com uma série de efeitos colaterais indesejados diante do uso do famoso chip.
Apesar disso, também há quem cite pontos positivos do mesmo no corpo feminino ou masculino. Dessa forma, o que realmente é indicado?
Por conta disso, reunimos material com as principais dúvidas que cercam o assunto, explicando qual a finalidade do tratamento atualmente. Confira:
O que é o 'chip da beleza'?
Apesar do nome tecnológico, o 'chip da beleza' é um implante hormonal, colocado no corpo, na maioria dos casos, como tratamento para aumento de massa muscular, maior disposição física, crescimento da libido e perda de gordura corporal.
O dispositivo, inclusive, é bem simples. Com até 1,5 centímetros, ele é um bastonete de silicone, normalmente implantando na região do quadril em mulheres e na região do flanco em homens.
"Basicamente, ele é um dispositivo contendo hormônios, principalmente a gestirnona, um hormônio esteroide, que tem efeitos parecidos com a testosterona. A prescrição aumentou de forma preocupante no Brasil nos últimos anos", é o que pontua a Dra. Silvia Helena Rodrigues, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A promessa é de um tratamento individualizado, com o objetivo de suprir as carências hormonais de cada paciente. Assim, nesse caso, alguns profissionais apontam que a estética passa a ser consequência, enquanto a qualidade de vida seria o primeiro marco.
Normalmente, o chip pode conter testosterona, estrogênio, gestrinona ou progesterona, algo que pode ser definido conforme cada paciente.
Qual o valor?
Segundo sites especializados em saúde, a implantação do chip da beleza não tem um valor específico, mas pode custar entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. O valor pelo procedimento deve diferir de acordo com o hormônio e a quantidade utilizada.
O valor em questão é pago por 8 a 10 meses de duração. Como o implante é absorvido pelo corpo por meio do pump cardíaco, representando o aumento da frequência cardíaca, a absorção deverá ocorrer de forma diferenciada em cada paciente.
Quais os efeitos colaterais?
As mudanças prometidas no corpo, no entanto, podem vir junto de uma série de efeitos colaterais indesejados, como ocorreu com a cantora Flay, por exemplo. Segundo a artista, o inchaço corporal e a acne acentuada se tornaram constantes após a colocação do implante, o que também pode ocorrer em outros pacientes.
Um dos mais apontado em mulheres é a virilização do corpo. Dessa forma, surgem efeitos como cne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz e aumento do clitóris. Nos homens, também pode acarretar crescimento das mamas, como lembra a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Entretanto, outros também podem surgir ao longo da utilização, aparecendo tanto em mulheres como em homens. É o caso da resistência insulínica, hiperglicemia e até aumento do risco de trombose, ainda que esse último se apresente como um problema menos preocupante.
Em relação à Flay, muitos dos sintomas apareceram. "Começou a cair bastante meu cabelo. A minha pele foi a minha maior tristeza. O meu rosto começou a encher completamente de espinha. Foi com o chip que ganhei 10 quilos", relatou a ex-BBB ao 'Fantástico'.
Efeitos mais graves
Entre os efeitos mais grave, a Dra. Silvia Helena Rodrigues, da SBD, comenta os seguites elencados abaixo:
- Risco de infarto ou derrame cerebral;
- Risco de hepatite medicamentosa grave;
- Arritmia;
- Alteração na fertilidade masculina;
- Risco de câncer no fígado e próstata;
- Agressividade;
- Ganho de peso;
Posição de entidades médicas
No início de novembro de 2021, o Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade (DEFAT) e a Diretoria Nacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia se posicionaram publicamente sobre o uso implantes com uso do hormônio Gestrinona no Brasil.
Na época, um documento com a posição foi enviado para Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB). Logo em seguida, a agência respondeu, por meio de nota, que a Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos (GGMED) ressaltou a inexistência de "medicamentos contendo o insumo farmacêutico ativo gestrinoma com registro sanitário válido no Brasil".
Atualmente, a situação continua negativa para aprovação em fins estéticos. "Os implantes de gestrinona foram inicialmente desenvolvidos para algumas condições clínicas como a endometriose, miomas, reposição hormonal, mas foram sendo desviados para usos meramente estéticos, pois se viu que conseguem reduzir a gordura corporal e aumentar a massa magra", explica a Dra. Silvia Helena.