O Estado do Ceará registra ataques contra o poder público, desde o último dia 20 de setembro. Ontem, a sequência de ofensivas chegou ao 10º dia seguido. Se comparados ao início das recentes ações, os ataques vêm diminuindo em número e potencial de estrago. O histórico dos últimos crimes também mostra que os alvos preferidos dos criminosos mudaram, o que pode ser explicado pelo reforço da segurança nos prédios públicos e coletivos urbanos.
Estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) apontam que nos últimos 10 dias foram contabilizados, pelo menos, 109 ataques e capturados 147 suspeitos de envolvimento nestes atos criminosos, sendo 114 adultos e 33 adolescentes. Na madrugada de ontem, um caminhão caçamba foi incendiado, no bairro Jangurussu, em Fortaleza.
O proprietário do veículo destruído mora próximo ao local onde aconteceu o crime. Sem se identificar, o homem afirmou ao Sistema Verdes Mares que sempre estaciona o caminhão no mesmo lugar e que nunca tinha visto algo parecido: "Eu tenho oito anos nesta área. Sou único que continua aqui. Só deixei o carro neste local porque não tinha mais onde colocar", disse lembrando que tirava o sustento da família fazendo fretes.
O motorista se dirigiu até a rua onde havia estacionado, mas o veículo já tinha sido consumido pelas chamas. "Foi um colega meu que disse que colocaram fogo na minha caçambinha. Quando eu cheguei estava o fogo. Foi perda total. Derreteu as partes do motor e não dá para aproveitar nada". Ao redor do veículo foram encontrados vidros de garrafas que continham conteúdo inflamável. Uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará foi acionada ao local para controlar as chamas.
Policiamento ostensivo
O titular da SSPDS, André Costa, afirmou que a onda de violência é uma reação dos detentos que querem a volta de "regalias" nos presídios do Ceará. A reportagem apurou que os ataques têm ligação a supostas torturas ocorridas dentro das unidades prisionais. A facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) é tida como propulsora das ofensivas.
Para combater a criminalidade, o Governo optou por reforçar o policiamento nas vias públicas e transferir dezenas de presos chefes de facção. As medidas reduziram o número de ataques, por dia. Mais de 500 presos membros de facções criminosas já foram transferidos de penitenciárias estaduais na tentativa de desarticular a organização responsável por ordenar e executar os atentados.
Um dos transferidos é o paraibano Ednal Braz da Silva, 46, o 'Siciliano'. O homem pertence à cúpula da Guardiões do Estado. Em nota, a SSPDS divulgou que "o isolamento de chefes como 'Siciliano', em unidades federais, é uma medida utilizada com o objetivo de enfraquecer a atuação de grupos criminosos".
A reportagem apurou que a maior parte dos presos pelos ataques diz, em depoimentos, não pertencer à facção Guardiões do Estado. Em dezenas de inquéritos consultados ficou percebido que os capturados negam ser diretamente faccionados, mas assumem serem simpatizantes da organização. Há também aqueles que apenas informaram na delegacia ter conhecimento que a área onde residem, especificamente, no local do ataque, é território dominado pela GDE.
Dentre os que se disseram ser "simpatizantes" da facção local, estão os presos Gian dos Santos e Francisco Alisson Alves Gadelha. Santos é suspeito de participar de um ataque ocorrido na cidade de Pindoretama, e Gadelha estaria incitando ações criminosas, fazendo apologia ao crime por meio de perfis nas redes sociais.
A Secretaria informou que Francisco Alisson Alves Gadelha foi preso em Maracanaú. Já Gian dos Santos foi capturado junto a um adolescente quando colocavam fogo em um canteiro. Gian teria confessado participação em uma tentativa de incêndio a um veículo. Em depoimento, Gian dos Santos acrescentou que tocou fogo "para ver a loucura no mundo".