Quatro pistoleiros se tornaram réus recentemente pela morte de um tenente da Polícia Militar do Ceará. Carlos Herbênio Almeida Bezerra foi morto em 2016, mas só em 2022 o crime parece ter sido revelado a ponto de o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciar os envolvidos.
No dia 2 do último mês, o órgão acusou Ricardo Sérgio Saraiva Diógenes, Edilano da Silva Nogueira (o Delano), Josivam Reinaldo de Monte (Galeco dos Colchões) e Gilderlan Soares Granja de terem participado da execução do policial. No dia 29, o grupo se tornou réu.
A morte do PM se tratou de uma vingança. Carlos Herbênio esteve durante anos à frente do destacamento de Jaguaretama, combatendo a pistolagem que imperava na cidade. Em uma das ocasiões, comandava a operação que resultou na morte do irmão de Ricardo Sérgio.
Um dos representantes do MP que assinou a denúncia explica que as investigações do caso foram conduzidas por uma equipe de policiais da Capital, devido a peculiaridade, complexidade e risco de influência, caso fosse desenvolvida na cidade.
“Não tínhamos como contar com testemunhas, geralmente utilizadas para desvendamento de crimes. Devido a periculosidade dos acusados, não havia pessoas disponíveis a colaborar com as investigações. Tivemos que contar com o trabalho de inteligência e integração da Polícia Civil de algumas cidades da região e da capital. Utilizando de provas não tradicionais, porém, lícitas”.
POLICIAL CAMINHAVA QUANDO FOI ALVEJADO
O MP destaca que o homicídio contra o tenente foi por motivo torpe, meio cruel, “que resultou em perigo comum, como, também, mediante recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa da vítima”. O silêncio entre as testemunhas do crime indicou o medo da população em falar o que viu, porque impera a lei do silêncio na cidade.
Os moradores e as autoridades desconfiavam do envolvimento de Ricardo. Por intermédio do setor de Inteligência da Polícia veio a informação que o suspeito arquitetava um plano de fuga para Josivan Reinaldo, um dos executores.
“A PM foi a casa do suspeito e ficou de campana, quando avistaram um veículo Corola, tendo o motorista descido e chamado por Ricardo momento em que a PM, com apoio do Gate adentrou no imóvel”, conforme denúncia.
“O NEGÓCIO DEU CERTO. MATARAM O POLICIAL QUE MATOU MEU IRMÃO”
Dentro da residência de Ricardo Sérgio, foram encontradas munições, armas e uma tornozeleira eletrônica. Ele deveria estar sob monitoramento, cumprindo pena em regime semiaberto, mas havia retirado o aparelho.
Posteriormente, quando verificado o celular de Diógenes, policiais encontraram uma mensagem dele comemorando a morte do policial: “O negócio deu certo! Mataram o policial que matou meu irmão”. Herbênio foi alvejado com 24 disparos de arma de fogo, o que caracterizou o meio cruel.
O desenrolar das investigações indicou que Josivan Reinaldo, o ‘Galego dos Colchões’ foi visto caminhando próximo à vítima, no mesmo local onde o crime aconteceu.
Fato é que no dia do assassinato se confirmaram as ameaças recebidas há anos. A esposa do policial, na época delegada da cidade, havia recebido meses antes áudio de um denunciando alertando que Edilano estava em Jaguaretama “pronto para derrubar o policial e a mulher dele”.
Herbênio vinha incomodando a quadrilha porque também tinha denunciado um esquema fraudulento de clonagem de veículos naquela cidade. A informação é que Edilano e Ricardo chefiavam o esquema: “isso também motivou a ira dos denunciados, que decidiram eliminá-la, já que a mesma estava atrapalhando a empreitada criminosa dos mesmos”, conforme a acusação.
A esposa do PM foi colocada em um programa de proteção à testemunha após uma sequência de ameaças
A MORTE DE ‘GORDO’
Após anos à frente do bando herdado, Lucivando Saraiva Diógenes, o ‘Gordo’ morreu. Em 2008 ele trocou tiros com uma patrulha da Polícia Militar na Fazenda Desterro, distrito de Caiçara, na zona rural de Jaguaretama, em junho de 2008.
Naquela época, a patrulha estava sob comando do subtenente Carlos Herbênio Almeida Bezerra. O nome e a face do agente não foram esquecidos por aqueles que se enlutaram com a morte do ‘Gordo’.
Em 2019, o policial foi executado. Mais um crime registrado em Jaguaretama. O tenente caminhava, quando foi surpreendido por dois homens armados, vindos em uma moto. Não houve chance de defesa.
Ricardo Saraiva Diógenes e sua irmã logo foram apontados como autores do atentado, que se resumiu a uma vingança.