Nos últimos dez anos, o Ceará apresentou um vaivém no número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) - que englobam homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Ontem, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) divulgou a quantidade dos CVLIs, em igual período, relativos a este ano. E uma surpresa: o número foi o menor dos últimos dez anos. Entre janeiro e agosto de 2019, foram 1.488 pessoas mortas violentamente no território cearense. Valor mais baixo só ocorreu em 2009, quando foram contabilizados 1.486 casos.
Embora o pico de casos na última década tenha ocorrido em 2017 - quando o Estado registrou 3.233 mortes violentas entre janeiro e agosto -, o resultado deste ano ainda aponta uma alta concentração de homicídios no Ceará. Desta forma, a quantificação dos CVLIs ainda preocupa a SSPDS e especialistas que atuam na área.
"Estamos chegando na média nacional, mas é um número que a gente não fica satisfeito, é um número que a gente quer trabalhar para baixar ainda mais. Saímos de 2017 com uma média de homicídios em torno de 14 a 15 ao dia. Neste ano, a média é de 6 ao dia", afirma o titular da Segurança Pública estadual, André Costa.
Naturalização
De acordo com o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará, o sociólogo César Barreira, a queda deve ser celebrada, mas o ideal é não tratar como costume índices tão altos. "O que eu acho que a gente não pode é naturalizar algumas coisas. A gente tem sempre que desnaturalizar essas taxas altas, que inclui o número elevado de homicídios envolvendo jovens".
O especialista acredita que está havendo uma conscientização em todos os estados para baixar os números de CVLIs e pontua que, como havia números tão altos, é mais fácil haver uma queda. "Os órgãos de Segurança Pública tinham de saber quem mata e quem morre. Embora ainda não estejam totalmente esclarecidos, temos mais conhecimento sobre isso. De certa forma, é um conjunto de fatores que levaram a essa diminuição", acredita.
Políticas
Conforme André Costa, a redução ocorreu graças às políticas públicas implementadas pelo Governo do Estado nos últimos anos. "A gente aumentou o efetivo policial, trouxe melhorias salariais e criação de carreira para motivar esses policiais. Isso é o mais importante de tudo. Fazemos muita coisa, mas quem faz mesmo o crime reduzir na rua é o policial que está agindo", conta o secretário.
Além disso, o titular da Secretaria da Segurança ressalta os investimentos em tecnologia e inteligência aplicados pela Pasta. Fato corroborado por César Barreira, a inteligência é também apontada pelo especialista como um dos fatores da redução. Contudo, ele também acrescenta um rearranjo das facções criminosas, especialmente na Guardiões do Estado (GDE).
"Começou a haver uma redefinição de hierarquias. A GDE agora está trabalhando mais na sedimentação e nas hierarquias. Não sou a favor de dizer que todos os homicídios decorrem de tráfico de drogas, mas a presença das facções é responsável por um número muito elevado de homicídios", explica o sociólogo César Barreira.
O secretário André Costa, porém refuta esta tese: "não é que é um rearranjo, é um enfraquecimento mesmo. Uma coisa é ter redução sem o Estado estar agindo. Outra é haver redução porque o Estado exerce forte controle nos presídios, aumenta o número de policiais nas ruas, porque investe em políticas sociais. O que a gente vê é o enfraquecimento dessas organizações criminosas", conclui.