Rickson Emanuel de Melo Queiroz, o 'RK', de 22 anos, apontado pela Polícia como o namorado de uma jovem de 19 anos que foi raptada e colocada no porta-malas de um veículo, tinha o objetivo de matar antigos comparsas do braço da facção criminosa Comando Vermelho (CV) que atua no Centro de Fortaleza.
Segundo uma fonte da área de Segurança, que preferiu não se identificar, 'RK' era o cobrador e o matador do CV no Centro. Ele cobrava grupos da facção que realizava o tráfico de drogas em pontos de prostituição e matava aqueles que mentissem sobre as vendas. Rickson teria cometido vários assassinatos por essa motivação.
Entretanto, após a prisão de um comparsa, em outubro de 2020, 'RK' decidiu fugir para o Rio de Janeiro, para não ter o mesmo fim. Ele levou uma arma de fogo da facção, o que foi considerado um roubo, e Rickson foi jurado de morte.
No fim de dezembro, o criminoso voltou a Fortaleza com o plano de matar os antigos comparsas da facção, para não ser executado antes. A primeira vítima foi um adolescente de 16 anos, identificado como Bruno Nascimento da Silva, crime que aconteceu dentro de um bar, na Rua Floriano Peixoto, no Centro, na noite da última segunda-feira (4).
Para se vingar do assassinato de Bruno, um primo dele e outras pessoas raptaram a jovem de 19 anos, a torturaram e a mantiveram refém, na terça (5). A mulher foi salva pela Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) após uma pessoa avistar a mão dela por fora de um porta-malas de um carro, naquele dia.
Horas depois, a Polícia chegou a 'RK' e efetuou a prisão do suspeito. Ele responde a pelo menos dois homicídios, contra o adolescente de 16 anos e outro que teve o motorista de aplicativo Marcelo dos Santos Brito como vítima, registrado em maio de 2020. Ele também é suspeito de roubo.
Motorista de aplicativo
De acordo com relatório policial, Marcelo era motorista de aplicativo, porém devido aos problemas com os documentos do carro, fazia corridas ‘por fora’ só para pessoas que conhecia e confiava. Foi quando ele estreitou sua relação com ‘RK’. Testemunhas próximas à vítima disseram à Polícia que semanas antes de Marcelo ser morto ele vinha fazendo corridas para garotas de programa de boates no centro de Fortaleza e fazia corridas para o traficante Rickson, responsável pelo abastecimento de drogas para as prostitutas.
De acordo com o inquérito policial, Marcelo e ‘RK’ trafegavam pela Capital buscando e entregando drogas e armas de fogo. No dia 2 de maio, a vítima levava Rickson e outras três pessoas no seu carro, um Fox, na cor branca. Foi quando ‘RK’ disparou contra Marcelo, assumiu o volante e empreendeu fuga. Não há informações sobre quem mais estava no veículo naquele dia.
“Nos foi repassado que RK é conhecido por tocar o terror nas boates do Centro, ameaçando e intimidando as pessoas para que ninguém diga nada contra ele para a Polícia”, conforme trecho do relatório da investigação sobre o homicídio do motorista. Um mês depois, o traficante foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e a Justiça ordenou sua prisão preventiva.
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A mulher salva do sequestro negou ser namorada do traficante. No entanto, o coordenador das células de proteção comunitária da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), Paulo Martins, disse que a jovem foi vista no dia 4 de janeiro deste ano pelo grupo que a raptou conversando com um homem, na Rua Padre Mororó, no Centro, um matador de pessoas.
No dia seguinte, a jovem foi vista pelo bando na Rua São Paulo, também no Centro, local que ela costumava ir. Por volta das 15h, o grupo chegou perto dela em um carro, conversou e pediu informações sobre o homem com quem ela conversava no dia anterior. Por ela não ter dito o que eles esperavam, foi raptada.
Ao longo do trajeto, a jovem percebeu que a trava do porta-malas estava com defeito, e colocou uma das mãos para fora, com o objetivo de chamar a atenção de quem passava, para salvá-la. Quando o carro passava com a vítima na Rua Pará, no bairro Panamericano, um casal notou a mão dela para fora do porta-malas e filmou o fato.
Mais à frente, o casal viu uma equipe da Guarda Municipal, que acompanhava funcionários da Prefeitura de Fortaleza que podavam árvores na região, e denunciou o ocorrido. Quatro quarteirões depois, a composição deu ordem de parada ao motorista, e a vítima saiu do porta-malas gritando aos agentes que o grupo iria matá-la. A Polícia Civil investiga a possível relação entre vítimas e suspeitos.