A intervenção policial ocorrida em Hidrolândia, interior do Ceará, na noite de 9 de julho de 2021 e que repercutiu nacionalmente completa um mês. Há 31 dias não só as vidas das três vítimas baleadas pelos militares, mas a dos familiares delas, mudaram. As sequelas físicas causadas pelos ferimentos causam dor e a sensação de impunidade angustia.
Os PMs suspeitos de balear uma criança, uma grávida e um jovem continuam em liberdade e o Inquérito Policial Militar (IPM) ainda não foi concluído. Aos soldados José Ferreira da Silva Filho e Jonas Ferreira Soares o que ficou aplicado, até o momento, foram medidas cautelares, como proibição de acesso ao limite territorial do município de Hidrolândia e afastamento das funções policiais militares ostensivas.
Pedro Henrique Peres, de 21 anos; e a namorada Amanda Carneiro, grávida de gêmeos, estavam no carro abordado pelos agentes. A mulher escapou dos disparos, mas Pedro foi atingido e está com sequela em um dos olhos e em uma das pernas.
Um familiar do jovem vítima reclama da demora para finalizar o inquérito e diz que até o momento não soube de ninguém da vizinhança de onde a intervenção aconteceu ter sido chamado enquanto testemunha para prestar depoimento. Para o homem, que optou por ter sua identidade resguardada, a demora na investigação é fator a favor dos policiais, mas não desmotivará a família na busca por Justiça.
"Não concordamos com o fato de eles não responderem por tentativa de homicídio, porque foi isso que aconteceu. Aguardo ansioso a conclusão do inquérito e o MP oferecer a denúncia, se for o caso. Foi feita perícia no carro, ouviram as vítimas atingidas e as duas não atingidas enquanto testemunha, o que é errado, porque as duas outras que estavam no carro só não foram atingidas por circunstâncias alheias à vontade deles. Isso foi mais uma tentativa de proteção aos policiais", disse o familiar.
O parente destaca ainda que Pedro vem sendo acompanhado por uma psicóloga, e que chora todos os dias: "Não voltamos a nossa vida. Nunca mais foi o que era. O Pedro Henrique passou por três oftalmologistas e vai precisar de uma cirurgia para preparar o olho para ser colocada uma prótese".
"É motivo de frustração para nós que esperávamos uma investigação com rigor, conforme a fala do próprio governador. Aguardamos ansiosamente o resultado do inquérito. Nós pedimos o mínimo. Pedimos segurança do Estado"
Expectativa
Amanda Carneiro lembra com detalhes do que viveu em 9 de julho de 2021. Agora, aos quatro meses de gestação, ela agradece a Deus pelo livramento e se diz aliviada por todos terem sobrevivido: "estamos nos recuperando aos poucos".
A jovem também é irmã da criança de 10 anos baleada durante a intervenção. Amanda fala sobre a quantidade de disparos efetuados e acredita que os policiais militares agiram com intuito de matar todos que estavam no automóvel.
"Todos nós naquele carro poderíamos não estar mais aqui para contar essa história, corremos risco de vida e principalmente os atingidos. Eles atiraram para matar, fizeram 13 disparos, um atirou sete vezes e o outro seis, com uma arma .40. Espero que estejam em liberdade por pouco tempo, até que o caso seja fechado. Não guardo rancor de nenhum deles, mas desejo que a Justiça seja feita, o mínimo para eles é perderem a farda. Acho isso muito necessário, porque nós não fomos os primeiros a sermos vítimas do mau treinamento dos soldados militares e nem seremos os últimos", opinou Amanda.
Só quem passa por isso sabe a dor, o medo, aflição que isso nos causa. O trauma que ficou da Polícia é grande. Se sentimos medo de alguém que deveria nos proteger é sinal que algo está errado"