O prefeito afastado de Uruburetama, José Hilson de Paiva, que se apresentou à polícia na tarde desta sexta-feira (19), em Fortaleza, disse em depoimento que a prática de filmar pacientes em consultório se tornou um vício, um fetiche. A informação foi divulgada pela Delegada de Cruz, Joseanna Oliveria, durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (19).
Segundo ela, o médico fez os regitros não autorizados para se proteger de falsas acusações de abusos. Inicialmente, conforme o depoimento, as gravações eram feitas apenas com pacientes com quem ele disse ter alguma intimidade, até que a prática se tornou um vício que ele não conseguia mais parar de fazer.
Joseanna informou ainda que o médico disse, em interrogatório, que a esposa, a ex-prefeita Maria das Graças Paiva, não sabia da prática, apesar de ter entrado muitas vezes com pacientes no consultório. "Era leiga, pois ele nunca falou para ela", disse.
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O médico chegou a procurar ajuda para tratar o que ele diz ter se tornado um fetiche. "Às vezes ele deixava a câmera ligada e filmava a sala mesmo sem ter pacientes, era um hobby", revela Joseanna.
As gravações teriam sido feitas até o ano de 2017, quando ele assumiu o cargo de prefeito de Uruburetama, e não tinha mais tanto tempo para realizar as consultas. Desde então, ele conta, todo material passou a ser armazenado em CDs, pen drives, computadores e outros dispositivos móveis.
Busca e apreensão
O secretário André Costa informou que foram realizados mandados de busca e apreensão em Cruz, Uruburetama e Fortaleza, mas somente nas cidades do interior, os policiais conseguiram encontrar material para análise. Na residência do médico, no bairro Cidade dos Funcionários, nada foi apreendido. O secretário acredita na possibilidade de destruição de provas de material na capital cearense.
Uma força tarefa vai ser montada no município de Cruz para a análise do material apreendido, que segundo André Costa, vai conribuir com o inquérito policial.
Vínculo de confiança com as vítimas
A delegada Joseanna Oliveira disse na entrevista que as vítimas do médico mostraram indignação por terem sido enganadas. Segundo ela, médico no interior é visto como alguém integro, com quem as pacientes mantém um certo vínculo de confiança. "Elas acreditavam estar se submentendo realmente a um tratamento médico. Muitas delas são bem simples, mulheres da zona rural, são até de certa forma ingênuas, achavam que o constrangimento pelo qual passavam nas consultas era necessários no processo de busca pela cura que elas tanto queriam, talvez por isso não denunciavam os abusos", explica a delegada.