Duas semanas após as redes sociais serem tomadas pela hashtag #ExposedFortal, com relatos de vítimas de crimes sexuais, a Polícia Civil do Ceará deflagrou operação para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços na capital cearense. A ação busca obter elementos de provas que auxiliem na condução do inquérito policial em andamento.
Durante o cumprimento dos mandados foram apreendidos celulares, computadores e HDs. "O material foi recolhido dos imóveis dos alvos da operação e encaminhado para Pefoce para extração de informações e análise do conteúdo dos dispositivos", afirmou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que não informou quantos mandados foram cumpridos durante as diligências.
O trabalho investigativo é conduzido pelas delegacias de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca) e da Criança e do Adolescente (DCA), com apoio do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) e do Departamento de Inteligência Policial (DIP). A SSPDS disse não poder repassar detalhes "para não comprometer o trabalho policial".
Relatos
Os relatos de crimes sexuais ganharam repercussão nas redes sociais. Há duas semanas, adolescentes passaram a relatar que foram vítimas de ameaças por parte de outros jovens, que tinham arquivados fotos íntimas delas e estariam divulgando as imagens em grupos de WhatsApp. Em sua maioria, as vítimas são menores de idade.
Os suspeitos utilizavam o espaço para tecerem comentários sobre as vítimas, dando notas para as fotos íntimas, e chegavam a ameaçar algumas delas. Uma das jovens disse que o grupo foi criado há cerca de quatro anos, mas foi desfeito. Neste ano, um novo grupo foi criado e as ações criminosas repetidas, contou a garota, que terá a identidade preservada.
O titular da SSPDS, André Costa, se posicionou pedindo rigor na apuração do caso e pedindo que as vítimas registrassem boletins de ocorrência para facilitar na identificação dos envolvidos. Nos dias seguintes vieram relatos de outros casos de crimes sexuais, desta vez, envolvendo professores e coordenadores de instituições de ensino particulares e públicas. A reportagem apurou que professores e coordenadores foram afastados dos colégios particulares.
Providências
A Secretaria da Educação (Seduc) disse não ter sido comunicada oficialmente sobre as denúncias, mas assegurou que adotará as providências necessárias para que os fatos sejam apurados. A Seduc disse ainda que também ficará à disposição para prestar as informações solicitadas pelos órgãos de investigação e prestará assistência aos alunos e familiares. Destacou a importância de manifestações por meio do canal da Ouvidoria para que os fatos sejam esclarecidos de forma mais rápida e eficiente. Por fim, a Seduc ressaltou que "repudia a adoção prévia de medidas punitivas aos professores/servidores sem que haja a devida apuração em respeito ao direito constitucionalmente assegurado à ampla defesa e ao contraditório".
O Ministério Público do Ceará (MPCE) também acompanha o caso. Conforme o órgão, desde o dia 23 de junho foram adotadas providências voltadas para o acolhimento de vítimas e identificação de abusadores "em casos de divulgação criminosa de imagens íntimas de mulheres, crianças e adolescentes em aplicativos de redes sociais".
O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv) encaminhou relatório que serviu de base para a instauração de uma Notícia de Fato, e que pode resultar em uma investigação aos crimes cibernéticos contra a intimidade e privacidade das pessoas expostas. A reportagem questionou o MPCE se suspeitos já foram denunciados oficialmente pelo órgão, no entanto, o Ministério se posicionou ontem por nota afirmando que os casos seguem em sigilo e, por isto, não seria possível fornecer nenhuma atualização.