Ex-balconista de panificadora, filho de agricultores realiza sonho e se torna policial militar

Soldado ingressou na corporação em 2015, após ampliação das vagas de concurso e, hoje, integra o Cotar

Foi na praça da Basílica de São Francisco, em Canindé, quando vendia os tradicionais objetos religiosos comprados por romeiros, que o filho de agricultores natural de Itatira teve o primeiro contato com policiais militares, e passou a admirá-los. A partir daí, despertou o sonho de se tornar um deles.

Para proporcionar uma educação para os filhos, os pais de Mauro Sérgio Pereira decidiram se mudar com a família da zona rural de Itatira para a cidade que tem como padroeiro o santo protetor dos animais. 

Lá, local símbolo da fé do sertanejo, ele passou a vender terços e outros objetos religiosos para ajudar na renda da familiar. E começou a observar o trabalho dos agentes da Polícia Militar que faziam a segurança da Igreja Católica do município.

"Desde então, passei a admirá-los, pois quando eles estavam por perto, me sentia seguro. Eu queria um dia fazer alguém se sentir assim também", lembra. Em um dos três pedidos que fez na "fitinha" de São Franciso, estava o de se tornar um policial militar.

Balconista de panificadora

Alguns anos se passaram até ele concluir o Ensino Médio. Trabalhou como balconista em uma panificadora e precisou deixar os estudos de lado em um determinado período devido à falta de tempo e de condição financeira para arcar com cursos preparatórios. O fato, no entanto, não o desestimulou.

No ano de 2011, foi lançado o edital para o novo concurso público da instituição no Estado do Ceará. Não hesitou: saiu do emprego, juntou o dinheiro que tinha com o que alguns parentes puderam dar, e começou a estudar.

"Muitos me perguntaram se eu era louco. Não acreditavam que eu iria largar um emprego para tentar um concurso. Mas, na minha cabeça, não existia essa possibilidade de não dar certo. Como sou religioso, me apeguei ao meu santo padroeiro, São Francisco. Fiz promessa e fui à luta", recorda.

Concurso

Mauro Sérgio afirma que precisou deixar muita coisa de lado para se preparar. "Passei três meses estudando dia e noite, dormia cerca de quatro horas por dia. Parei de ver até a namorada para sobrar mais tempo para estudar, quão grande era a vontade de ser um policial militar", diz.

Quando saiu o resultado do certame, ele não estava entre os classificados. Outros 53 candidatos estavam à sua frente.

Entretanto, destaca, não desanimou e continuou perseverando, com o objetivo de tornar real o sonho despertado quando vendia objetos religiosos na Basílica de São Francisco.

"Me mudei para Fortaleza, entrei na faculdade de Direito. Quando estava no terceiro semestre do curso, dois anos e meio depois da prova do certame, o edital do concurso foi modificado, ampliando o número de vagas", explicou. 

Na "fitinha" de São Francisco, que simboliza a fé dos devotos, um dos três pedidos foi atendido. "Meu nome então saiu na lista dos convocados. Para mim, foi um milagre, uma graça alcançada. Foi um dos dias mais felizes da minha vida", rememora Mauro Sérgio.

'Guerreiro da Caatinga'

Depois do Curso de Formação na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp), na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ele tomou posse como soldado no ano de 2015. 

Ainda durante a preparação para o cargo, ouviu falar sobre o Comando Tático Rural (Cotar). Ali, passou a querer integrar a equipe dos "guerreiros da Caatinga".

"Foi aí que criei mais uma meta de vida na minha profissão, colocar o carcará (ave característica da Caatinga e símbolo do Sertão) no peito e pertencer a este seleto grupo de grandes guerreiros de caatinga do Sertão do Ceará", destaca.

Cotar

Encarando como mais um desafio a ser vencido, participou do Curso de Operações Táticas Rurais, que leva o aluno a ter um contato profundo com a Caatinga, com disciplinas que vão desde sobrevivência e resistência em ambientes hostis até o fortalecimento de valores como ser humano.

A parte mais difícil, conta o PM, é a semana da sobrevivência, que acontece em uma fazenda conhecida como "Cão Miúdo", em Novo Oriente, divisa do Ceará com o Piauí. "Um lugar onde de dia o sol é de rachar e à noite o frio é de tremer o queixo".

"Lá, tivemos restrição de água e comida para que pudéssemos nos adaptar ao ambiente quente e seco do Sertão. Tivemos que aprender técnicas de sobrevivência em ambientes inóspitos. Somos levados ao limite físico e mental", pontua.

Por 48 dias, Mauro Sérgio teve corpo e mente desafiados, até que o curso chegasse ao fim. O soldado Sérgio tornou-se soldado Mauro, porque havia homônimos no Cotar.

Realização profissional

Muito mais do que 48 dias, a caminhada árdua e desafiadora do policial militar já vinha desde a sua infância. "A dor é passageira e a glória é para sempre", descreve com orgulho.

Quando perguntado sobre o sentimento de pertencer hoje ao Cotar, ele garante ser apaixonado pelo que faz. "Sou realizado profissionalmente. Me sinto muito honrado em combater ao lado de grandes e valiosos guerreiros. É um sentimento inenarrável, e procuro retribuir essa grande satisfação com meu melhor no campo de batalha", destaca.