Estrangeiros flagrados com cocaína em barco chinês estão foragidos

Um colombiano, um sul-coreano e dois chineses foram condenados por transportar mais de uma tonelada de droga, próximo à costa de Fortaleza, em 2005. O barco, destinado à leilão pela Justiça, naufragou há mais de cinco anos

Um barco à deriva, próximo da costa do Ceará, é abordado pela Polícia Federal (PF). Nos minutos seguintes, os investigadores se deparam com mais de uma tonelada de cocaína. Quatorze anos depois de uma das maiores apreensões de drogas da história do Estado, os quatro estrangeiros que estavam na embarcação são considerados foragidos pela Justiça, e o barco naufragou.

O colombiano Eduardo Santana Garzon, o sul-coreano Seong Hee Nam e os chineses Kwang Chul Lim e Young Man Jong foram acusados pelo Ministério Público Federal (MPF) de tráfico internacional de drogas. Conforme a denúncia, no dia 26 de setembro de 2005, o grupo estava a bordo do barco pesqueiro chinês Dong Hee, em alto-mar, no Oceano Atlântico, a 18 km de distância do Porto do Mucuripe. A embarcação saiu do Suriname, na América do Sul, com destino a Senegal ou África do Sul (a investigação não concluiu o ponto final exato), no continente africano.

Ao fazer uma vistoria no barco, os policiais federais encontraram 1.131,55 kg de cocaína, divididos em 33 fardos, no porão da casa de máquinas, em um compartimento lacrado com 41 parafusos. A priori, apenas Eduardo Garzon foi responsabilizado pelo tráfico de drogas. O colombiano confessou à Polícia Federal que, em águas internacionais, próximo ao Suriname, houve uma negociação entre os tripulantes do Dong Hee e de um barco menor e ficou acertado o transporte da droga, que foi arremessada de um avião na água. Então, Garzon deixou o barco menor e ingressou na outra embarcação para acompanhar o transporte do ilícito até a África. Ele receberia $ 10 mil (dólares) pelo trabalho, segundo o MPF.

Já o comandante do barco, o sul-coreano Seong Nam, e os auxiliares, os chineses Kwang Lim e Young Jong, apresentaram a versão de que foram contratados para transportar outra mercadoria e, somente no meio da viagem, descobriram que a carga se tratava de entorpecente. Em alto-mar, eles contactaram a Embaixada da Coreia do Sul, localizada na Venezuela.

Naquele dia, o colombiano recebeu voz de prisão; enquanto os chineses foram liberados, mas precisaram continuar no Brasil para aguardar os procedimentos de deportação, pois estavam sem documentos pessoais; e o sul-coreano também foi liberado e, com ajuda da Embaixada Nacional, voltou ao seu país.

Entretanto, a PF reinquiriu os asiáticos. O sul-coreano não compareceu e, desde então, começou a ser procurado pelas autoridades. Já os chineses, no novo interrogatório, voltaram atrás e revelaram conhecimento do transporte de cocaína. A motivação do contato com a Embaixada da Coreia do Sul, no meio da viagem, seria o baixo valor oferecido para o tráfico, o que desagradou o trio.

Entenda o caso Dong Hee



Condenação

A 11ª Vara da Justiça Federal no Ceará, em decisão proferida no dia 9 de junho de 2006, considerou que os réus eram "traficantes experientes e sagazes" e condenou o colombiano Eduardo Garzon a 9 anos e 9 meses de prisão; e os chineses Kwang Lim e Young Jong, a 14 anos e 7 meses de prisão. Já o processo contra o sul-coreano Seong Nam foi desmembrado, em razão do réu não ter se apresentado à Justiça brasileira.

Garztáon estaria com 62 anos hoje e, segundo o processo de Execução Penal que tramita na Justiça Estadual, é considerado foragido desde o dia 18 de julho de 2008. Ele esteve preso no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Mas, ao progredir para o regime semiaberto, no dia 15 de abril daquele ano, e ser transferido para a Colônia Agropastoril do Amanari (unidade já desativada), em Maranguape, aproveitou para fugir.

O colombiano ainda tem seis anos, seis meses e quatorze dias de pena a cumprir. No dia 12 de setembro de 2018, a Justiça Federal determinou a inclusão de Eduardo Santana Garzon no Sistema Nacional de Procurados e Impedidos (SNPI), da Polícia Federal, e no Canal de Difusão Vermelha da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) - a lista dos mais procurados do mundo.

Os dois chineses também estiveram presos no IPPOO II e aproveitaram a progressão para o regime semiaberto para fugir. Lim, hoje com 46 anos, deixou de cumprir 4 anos, 7 meses e 15 dias da pena. E Jong, com 65 anos, deve o cumprimento de 8 anos e 7 meses da pena. Já o sul-coreano Seong Nam, aos 61 anos, segue sendo procurado pelas autoridades. Em 6 de março de 2012, a Justiça Federal no Ceará solicitou cooperação da Justiça da Coreia do Sul para cumprir o mandado, mas não recebeu retorno.

Barco chinês naufragou há cinco anos em Fortaleza

O barco pesqueiro chinês Dong Hee, apreendido pela Polícia Federal junto da carga de cocaína, naquele dia 26 de setembro de 2005, naufragou na costa de Fortaleza, há mais de cinco anos, segundo informações prestadas pela assessoria de comunicação da Justiça Federal no Ceará.

Naufrágio foi descoberto pela Justiça apenas no dia 3 de abril último, quando o oficial de Justiça noticiou o fato no processo criminal. A 11ª Vara Federal, na sentença condenatória dos réus, proferida em 9 de junho de 2006, tinha decretado perda do bem em favor da União.

No dia 29 de março de 2017, a Justiça Federal informou à Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) em relação à possibilidade de liberação do barco para realização do leilão. Mas já era tarde. Em 3 de maio deste ano, o Ministério Público Federal pediu para a Senad se manifestar sobre o naufrágio da embarcação, mas ainda não houve resposta no processo.

O barco Dong Hee saiu de Suriname com destino à África e passou próximo ao Ceará, quando foi interceptado pelos policiais federais. A reportagem apurou, com uma fonte da PF no Ceará, que essa é uma rota de tráfico antiga, menos utilizada hoje do que na época da apreensão. Mas ainda há criminosos que fazem o trajeto pelo Oceano Atlântico, principalmente contrabandistas com produtos diversos para revenda no mercado legal.

A investigação não chegou ao líder do grupo criminoso responsável pelo transporte de mais de uma tonelada de cocaína, apesar de ter surgido o nome de 'Jong' no depoimento dos suspeitos. A principal pista para a PF era um aparelho celular via satélite, utilizado pelos tripulantes do barco para manter comunicação com comparsas, que também foi apreendido.