A Polícia Civil do Ceará (PCCE) prendeu, na última sexta-feira (7), um homem foragido da Justiça de Rondônia em Fortaleza. Ele é suspeito de praticar estelionatos e extorsão em diversos estados do País. Os detalhes da prisão foram divulgados em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (11).
Identificado como Ítalo Rodrigues Alves, 33 anos, ele era investigado pela prática do "golpe Don Juan", no qual se relacionava com as vítimas com o intuito de obter dinheiro e bens. Embora as vítimas tivessem idades variadas, alguns aspectos do perfil delas eram comuns: solteiras, com boas condições financeiras e sem dívidas acumuladas.
As investigações apontam a existência de pelo menos cinco vítimas no Rio Grande do Norte. Há, também, vítimas no estado de origem do suspeito, no qual já havia sido expedido um mandado de prisão contra ele. A PCCE acredita que outras vítimas possam surgir após a reverberação da prisão.
Como o suspeito chegava às vítimas
Segundo a investigação da Polícia, Ítalo, hábil em Tecnologia da Informação (TI), chegava às vítimas por redes sociais, sites de relacionamento e em eventos dos quais ele participava. Ele ludibriava as mulheres para obter dinheiro, compras e objetos de alto valor, tendo chegado até a abrir empresas em nomes das vítimas.
O suspeito se apresentava como empresário do mundo esportivo, divulgando produção de eventos no ramo e buscando arrecadar dinheiro e patrocínio. Conforme Rommel Kerth, titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Ítalo ostentatava roupas de grifes, fotos com políticos e participação em programas televisivos potiguares — um conjunto atrativo para as vítimas.
"Aproveitando dessa fragilidade dessas mulheres, ele se aproximava com uma conversa de que estava ali para fazer determinado investigação, e essa mulher acabava se sentindo seduzida não apenas pela pessoa dele, mas com a possibilidade de lucrar com esses investimentos".
Após recolher o capital necessário para a realização dos supostos eventos,Ítalo os cancelava e sumia com os valores recebidos. Apenas na cidade de Natal (RN), a apuração estima que ele tenha embolsado R$ 35 mil com apenas uma pessoa.
Também no Rio Grande do Norte, Ítalo chegou a abrir uma empresa para a realização de um show gospel. Conforme o titular da DRF, o suspeito le angariou fundos de diversos patrocinadores e empresários. Na data marcada, o evento não ocorreu. "Tudo aquilo que ele havia prometido não tinha sido cumprido", pontua.
Alguns empresários conseguiram reaver parte do dinheiro após bloqueio, enquanto outra parte foi apropriada pelo criminoso. A empresa está no nome de uma das vítimas dos golpes, que não foram realizados sob nomes fraudulentos.
Ainda de acordo com Rommel Kerth, o suspeito, quando não conseguia chegar ao estágio de montar essas empresas, usufruía dos bens das vítimas enquanto não era desmascarado.
A versão dele era de se tratavam de relações amorosas que enveredaram para um lado comercial e não deram certo. Contudo, segundo o delegado, a prática dele era "corriqueira" — "ele seleciona essas mulheres e, já na sequência, abre a empresa nos nomes delas", explica, afirmando que ele permanecia na vida das vítimas durante a execução do golpe.
Outros golpes
Além dos golpes relativos ao teor sentimental, o suspeito ainda tem registro de extorsão em seu nome, ocorrido no Rio de Janeiro em 2020.
No Rio de Janeiro, ele montou uma empresa com outras pessoas, tendo dado golpes em clientes associados à companhia. Além da prática ilícita, ele extorquiu o proprietário de uma empresa.
No caso em questão, ele chegou a realizar ameaças dizendo fazer parte de uma facção, afirmando que, caso a vítima não pagasse quantia financeira devida, a organização criminosa mataria a vítima e desapareceria com os familiares dela. Em razão disso, as autoridades de segurança fluminenses realizaram inquérito e o indiciaram por extorsão.
Ítalo ainda fazia golpes com venda de passagens aéreas por meio do Facebook. "Ele também conseguia cooptar as pessoas a participarem dessas compras por um valor bem mais atraente e se apropriava dos valores depositados".
Prisão em Fortaleza
Devido aos crimes, ele tentou se esconder em território cearense, porém foi localizado em trabalho conjunto entre a PCCE e a Polícia Civil do Rio Grande do Norte (PCRN). Ele estava em uma pousada na região da Praia de Iracema.
Dada a circunstância da prisão, a PCCE acredita que ele estaria planejando efetuar golpes em Fortaleza. "Nós pegamos uma documentação na qual ele abriu uma empresa na rodoviária", pontua Rommel Kerth, acrescentando que, apesar de a pousada oferecer serviço gratuito de internet, ele solicitara instalação de uma linha própria. O suspeito também estava portando maquinetas de cartão de crédito.
De acordo com o delegado da DRF, a empresa aberta, "ao que tudo indica", seria de transporte terrestre.
Agora, o suspeito está à disposição da Justiça. A PCRN está dando seguimento às investigações, e a PCCE espera a abertura de um mandado de prisão no estado potiguar.