A operação Hasta da Polícia Civil contra corrupção e lavagem de dinheiro, deflagrada nesta terça-feira (6) em quatro cidades do Ceará, constatou empresas de fachada e suspeitos com padrão de vida incompatível com a atividade formal. Duas pessoas foram presas em flagrante.
Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em Fortaleza, Itatira, Caucaia e Pacatuba. A polícia aponta que os alvos integram uma organização criminosa que frauda licitações milionárias em prefeituras.
As investigações apontam que pelo menos dez empresas, registradas no nome de laranjas, são coordenadas pelo grupo. Havia contratos para serviços diversos, principalmente para locação de veículos.
Segundo o delegado Marcelo Vegas, da Delegacia de Combate à Corrupção (Decor), foram bloqueados 2 milhões de reais, em imóveis, móveis e bens.
Também houve bloqueio de 420 contas, com cerca de R$ 700 mil. Nos endereços dos alvos, os policiais apreenderam R$ 120 mil em espécie. Vegas afirmou que foi encontrado dinheiro em real, euro, dólar e uma moeda coreana.
Outro ponto que chamou atenção dos policiais foi a estrutura das empresas, sem capacidade técnica de oferecer os serviços pelos quais foram contratados.
"Uma das empresas sequer possuía domicílio. Pintaram na casa de um dos investigados o pedaço de um muro com o nome da empresa. Sequer tinha um imóvel", destacou o delegado.
Prisões
Durante o cumprimento dos mandados, houve duas prisões em flagrante. Uma das pessoas foi detida por falsificação de moeda pública, após os policiais encontrarem dólares falsos em sua casa.
O outro alvo atirou contra os policiais e foi preso por tentativa de homicídio. Em sua residência, foram apreendidas diversas armas.
A polícia destacou que, durante os cumprimentos de mandados, foram encontrados alvos com padrão de vida incompatível à atividade financeira.
Os alvos da operação podem ser investigados por fraude à licitação, peculato, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Fraudes em licitações
As investigações da Operação Hasta começaram há pouco mais de um ano, em junho de 2020. Inicialmente, se apurava falsificação de assinaturas.
"Em meados de 2020, nos chegou conhecimento de um rapaz que havia falecido. Dois dias após a morte, a empresa que estava no nome dele havia sido transferida para outra pessoa. Durante a investigação, se comprovou que tanto esse rapaz quanto a terceira pessoa eram laranjas", afirmou o titular da Decor, Osmar Berto.
Com o avanço dos trabalhos, os policiais identificaram outras empresas e constataram ligação entre elas. A polícia estima que essas empresas arrecadaram R$ 133 milhões em licitações nos últimos oito anos.
A próxima etapa dos trabalhos visa confirmar ou não os indícios de envolvimento de agentes políticos e servidores públicos, segundo o delegado.
"Há indícios de que, para que essas empresas conseguissem lograr êxito nesses certames, sejam licitações ou dispensa de licitação, há indícios de que muito provavelmente a gente possa chegar a outras pessoas envolvidas. Averiguar se realmente se agentes políticos ou servidores públicos criam facilidades para que essas empresas sejam contratadas"
A polícia não divulgou quais prefeituras podem vir a ser investigadas e ressaltou que os mandados cumpridos em Fortaleza, Itatira, Caucaia e Pacatuba tinham como alvo os endereços dos investigados.
O delegado destaca que deve ser averiguada como era a fiscalização do poder público nos serviços contratados.
"Porque a investigação já comprovou que algumas empresas não possuem condições técnicas de prestar os serviços contratados. Devido a esse motivo, surge o indício de algum agente público envolvido", afirmou Berta