O exame pericial feito na arma de onde teria partido o tiro que matou a empresária Jamile de Oliveira Correia registrou amostra de DNA de Jamile apenas na ponta do cano. A pistola calibre 380 foi apreendida pela Polícia Civil no dia 2 de setembro em poder do advogado Aldemir Pessoa Júnior, namorado da empresária e suspeito de ser o autor do disparo. Os peritos não encontraram DNA da vítima no “cão”, nem no gatilho, o que leva os investigadores a acreditar que a arma foi limpa nesses locais.
Também foi detectado no ferrolho, parte lateral da pistola, o DNA de Aldemir e de um policial que pegou na arma na Delegacia, na presença do suspeito, do advogado dele e da delegada que investiga o caso, Socorro Portela. O laudo afirma que na extremidade do cano foi encontrado material genético do sexo feminino compatível com o coletado no projétil extraído do corpo de Jamile no exame cadavérico.
O pedido da Polícia Civil para analisar a arma em busca de material genético tinha como objetivo descobrir se a empresária tentou se matar ou foi vítima de feminicídio. Um investigador (identidade preservada), que já elucidou muitos crimes de homicídio ouvido pela reportagem indagou ao ver o laudo: “como ela tentou se matar e ficou segurando a arma pra atirar nela e não foi achado DNA em outras partes? Outro questionamento feito pelo investigador diz respeito ao fato de ter sido detectado material genético de um inspetor que pegou na arma por pouco tempo. “Se deu positivo para o DNA de um policial que pegou na arma rapidamente, é revelador para a investigação não ter sido encontrado DNA dela”.
O laudo da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), obtido com exclusividade pelo Sistema Verdes Mares, afirma que de acordo com cálculos estatísticos, a possibilidade de que outra pessoa tenha o mesmo perfil genético do encontrado na arma é de um em três decilhões de indivíduos.
O documento aponta que no material extraído do “cão”, do “gatilho”, em “15 projéteis intactos” e num “estojo” não foi obtido perfil genético. Para que a análise fosse feita, foram coletadas amostras do projétil retirado do corpo de Jamile. Além disso, o filho dela forneceu material genético no dia 9 deste mês e o advogado Aldemir Pessoa Júnior no dia 12.
No cabo da arma, o laudo atesta a descoberta de uma mistura de material genético de pelo menos “três contribuintes”, mas não foi possível individualizar os perfis por conta das características do material coletado. O laudo não especifica que características são essas.
Contradições
O adolescente filho da empresária concedeu, pelo menos, três depoimentos aos investigadores. No primeiro relato, o menino teria dito que ele e Aldemir tentaram intervir no suicídio. O adolescente contou para as autoridades que os dois entraram no closet e avistaram a mulher já tentando se matar. Para tentar intervir, o adolescente teria batido na arma já encostada no peito da mãe, fazendo com que ela disparasse acidentalmente.
Em um novo depoimento, o adolescente contou que mentiu na primeira versão e alegou ter sido instruído por Aldemir a falar que tinha presenciado a mãe atentando contra a própria vida. Agora, o adolescente afirma que sequer chegou a encostar na arma e que, quando entrou no closet de Jamile, ela e Aldemir protagonizavam uma luta corporal pelo objeto, sem que ele tivesse conseguido visualizar quem segurava a pistola.
Conforme o filho da vítima, no momento que ele entrou no closet, de relance, viu uma arma de cor prata. Era a pistola utilizada no atentado. Menos de um minuto depois, o disparo aconteceu: “Não consegui ver nada porque eu estava atrás dele e ele é muito alto”, afirmou. O laudo ainda aponta que em nenhuma parte da pistola foi verificado DNA do filho adolescente.
Em entrevista concedida ao Sistema Verdes Mares, o adolescente lembrou o que Aldemir disse a ele um dia antes do primeiro depoimento: “tu vai falar o que eu vou te falar agora porque essa delegada é chata, extremamente arrogante e pode até me acusar de ter matado tua mãe. Eu fiz o que ele mandou. Não consegui associar direito as coisas, não consegui raciocinar na hora”, relatou o adolescente.
Conforme o depoimento de Aldemir, ele deixou que seu material genético fosse recolhido por livre espontânea vontade, já destacando que seria provável a perícia encontrar o DNA dele, porque a arma era de sua propriedade. Na semana passada, o advogado concedeu entrevista ao Sistema Verdes Mares e destacou que não tinha interferido na investigação.
“Não modifiquei lugar nenhum. Não limpei nada. Eu não limpei a arma, não existe por que eu limpar a arma. A arma era minha. Com certeza teria minha digital e se duvidar nem a minha não tem, porque o exame é fraco. A Jamile pegava nessa arma e não era uma vez. Quem guardava era ela, quem escondia era ela. Não era eu quem tinha arma comigo para matar qualquer pessoa. Estou sofrido, estou sem minha companheira”, afirmou Aldemir Pessoa Júnior.
O perito aposentado Ranvier Aragão foi procurado pela reportagem para falar sobre o laudo. Ele disse que “essa ausência de DNA pode ser devido à limpeza”. O advogado Flávio Jacinto, que representa a família de Jamile, não quis comentar o resultado do laudo.
Já o advogado José Carlos Mororó, que faz a defesa de Aldemir Pessoa Júnior, informou que “o laudo já era esperado. É um exame moderno. As pessoas que pegaram na arma foi constatado DNA delas. Nossa linha de defesa continua a mesma. Foi suicídio”. O advogado disse ainda que Jamile apontava a arma para o peito quando esta disparou. No entanto, ele não explicou a ausência de material genético da empresária no gatilho e no “cão” da pistola se foi ela quem efetuou o disparo.
A Polícia Civil ainda aguarda o resultado do laudo de comparação balística que comprovaria que o projétil retirado do corpo de Jamile partiu da arma submetida ao exame de DNA. A previsão é que o inquérito policial deste caso seja concluído no próximo dia 2 de outubro.