A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) afastou preventivamente mais 15 policiais militares suspeitos de envolvimento com crimes ocorridos no Município de Milagres, há um ano, na madrugada de 7 de dezembro de 2018; e instaurou processos administrativos contra os policiais. Quatro portarias foram publicadas com as decisões no Diário Oficial do Estado (DOE) de ontem. Com isso, 19 PMs investigados por participação no episódio foram afastados da Polícia Militar do Ceará (PMCE).
Oito PMs são suspeitos de matar dois supostos assaltantes das agências bancárias. São eles o sargento José Marcelo Oliveira e os soldados José Anderson Silva Lima, João Paulo Soares de Araújo, Sérgio Saraiva Almeida e Daciel Simplício Ribeiro, da 1ª Cia do 4º Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque); e o sargento Leandro Vidal dos Santos e os soldados Fabrício de Lima Silva e Alex Rodrigues de Rezende, da 3ª Cia do 2º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
Conforme a portaria da CGD, relatos de testemunhas dão conta de que os policiais militares invadiram uma residência, na zona rural de Milagres, às 6h daquele dia, e mataram a tiros Lucas Torquato Loiola Reis, além de terem efetuado a prisão de Rivaldo Azevedo Santos. Entretanto, Rivaldo foi levado pelos mesmos PMs para Barro e, depois, deu entrada no hospital daquele Município já morto, às 11h40.
Uma outra composição da 1ª Cia do 4º BPChoque, formada pelo sargento Sandro Ferreira Alves e pelos soldados Elienai Carneiro dos Santos, José Maria de Brito Pereira Júnior e Diego Oliveira Martins, também é suspeita de participar do assassinato de Lucas Torquato – mas não de Rivaldo Santos.
Já o sargento Edson Nascimento do Carmo e o cabo Paulo Roberto Silva dos Anjos, pertencentes à 1ª Cia e à 2ª Cia do 3º BPChoque, respectivamente, foram afastados por disparar os tiros de fuzil que mataram cinco reféns, Cícero Tenório dos Santos, Claudineide Campos de Souza, Gustavo Tenório dos Santos, João Batista Campos Magalhães e Vinícius de Souza Magalhães. “Os laudos cadavéricos comprovam que os corpos das vítimas foram atingidos por projéteis de arma de alta energia cinética como os fuzis, tipo as armas utilizadas pelos supracitados militares”, explica a CGD, na portaria.
Fraude processual
O cabo Antônio Natanael Vasconcelos Braga, também da 1ª Cia do 3º BPChoque, é suspeito de apagar imagens das câmeras de monitoramento de um estabelecimento comercial que fica próximo às duas agências bancárias que seriam atacadas pela quadrilha. A suposta fraude processual cometida pelo policial militar teria ocorrido horas após a intervenção policial que terminou com a morte de 14 pessoas – sendo oito suspeitos e seis reféns.
Oficiais
A Controladoria Geral de Disciplina já havia afastado quatro oficiais da Polícia Militar por suspeita de participação no episódio que ficou conhecido como Tragédia de Milagres. As decisões foram publicadas no Diário Oficial do Estado de 13 de dezembro último. Ou seja, todas as decisões demoraram mais de um ano após os crimes.
O tenente-coronel Cícero Henrique Beserra Lopes e os tenentes Joaquim Tavares Medeiros Neto e Georges Aubert dos Santos Freitas também foram afastados pela suspeita de fraude processual. Georges Aubert é secretário da Segurança do Município de Milagres e manteve contato com o tenente-coronel Cícero Henrique “com o objetivo de alterar a cena do crime e induzir em erro a conclusão da perícia forense”, segundo a decisão. Já Joaquim Neto também teria participado da eliminação das imagens das câmeras de monitoramento da região.
Por fim, o capitão José Azevedo Costa Neto é suspeito de comandar a equipe que atirou com fuzis contra os suspeitos de atacar os bancos e também contra os cinco reféns. “As imagens da câmera instalada em um estabelecimento comercial na Rua José Esmeraldo comprovam que, apesar da condição indefesa dos reféns, os denunciados seguiram atirando contra os mesmos até a calçada da Farmácia Santa Cecília, quando já estavam a menos de 10 metros do injustificável alvo”, considera a CGD.
“É importante salientar que havia uma mulher e dois adolescentes entre os reféns, bem assim que todos eles trajavam roupas comuns e obviamente não portavam armas, de modo que não seria difícil diferenciá-los de assaltantes de banco”, conclui a decisão.