Há exatos quatro anos, Marcelo Barberena Moraes era preso sob suspeita de matar esposa e filha de oito meses de idade. O caso ocorrido em Paracuru, cidade a 90 quilômetros de Fortaleza, repercute até hoje e segue sem data para um desfecho. Há poucos dias, Barberena foi solto porque, para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), houve tempo excessivo sem que ele fosse julgado. Ontem, o acusado do duplo homicídio e o advogado assistente da acusação do crime concederam entrevista ao Sistema Verdes Mares. Cada um apresenta versões diferentes de uma mesma história.
As falas de Marcelo Barberena trazem certezas de que ele nada teve relação com os assassinatos. De acordo com o acusado, até então único suspeito pelas mortes, ele foi forçado pelas autoridades a confessar que seria autor do crime, mas se arrependeu e agora busca provar sua inocência.
Ao lado do advogado de defesa Nestor Santiago, ele contou sua versão para o caso. "Eu fui dormir 0h30 e acordei 5h40. Fui falar com a Adriana. Cheguei no quarto e a Adri estava gelada. O travesseiro sujo de sangue. Saí dali nervoso. Chamei o Rafa, meu irmão médico, e chamei a Ana, minha cunhada. O Rafa foi atender a Adri e a Ana foi atender a Jade. Nos primeiros minutos eu fiquei nervoso. Vi que tinha sangue e a Adriana não estava respondendo. Me sentei no chão", contou.
Na versão de Marcelo, a arma de fogo dele foi retirada do carro da família e utilizada, naquela madrugada, por uma outra pessoa. Marcelo Barberena conta que já não dormia mais junto à esposa, Adriana Moura de Pessoa Moraes, porque o casal estava em processo de separação. Ele afirma não ter ouvido os disparos devido ao sono profundo motivado pelo cansaço atrelado à ingestão de bebida alcoólica.
Laudos emitidos pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) e anexados ao processo garantem que no imóvel não foram encontrados sinais de arrombamento, assim como há documentos mostrando que o DNA de Barberena foi encontrado na arma utilizava no crime e a acústica da casa permitia que do quarto onde o acusado estava naquela madrugada era possível ouvir os disparos.
Voluntária
Conforme o assistente da acusação, advogado Leandro Vasques, a confissão da autoria do crime aconteceu de "maneira absolutamente voluntária". Para Vasques, o acusado construiu uma versão mentirosa "fruto de um delírio tentando ludibriar alguns e querendo fabricar uma acusação mentirosa", disse Vasques.
Marcelo Barberena conta que gostava da filha Jade Pessoa de Carvalho Moraes, e desmente as suposições que estaria insatisfeito por a criança ser do sexo feminino ou a presença de a criança ter motivado o distanciamento entre ele e a esposa Adriana.
A acusação aponta que houve motivo torpe para o crime e que as provas periciais são inquestionáveis. Por determinação da Justiça, mesmo solto, Barberena deve se apresentar às autoridades a cada dois meses e está proibido de se ausentar do Ceará, mesmo que temporariamente. Ainda não há data marcada para o julgamento. O advogado Nestor Santiago recorreu da qualificadora de motivo torpe para a morte da filha Jade.