Os detalhes do crime que vitimou o menino Paulo Victor Silva de Oliveira, morto no bairro Mondubim, permanecem sob investigação das autoridades. Nessa terça-feira (9), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) comunicou que o soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) investigado por efetuar os disparos que atingiram o adolescente está afastado das funções por 120 dias.
Ilana Bezerra, mãe do adolescente, considera que o afastamento não é punição suficiente e pede que o militar seja preso: "ele precisa pagar pelo que fez com o meu filho, com a minha família. Afastar por 120 dias não é uma garantia. Tenho fé na Justiça de Deus, ainda vou saber que ele vai ser preso", diz.
O praça tem nome preservado pela reportagem porque o inquérito ainda não foi concluído e ele é investigado. De acordo com a CGD, as imagens da ocorrência do dia 24 de julho de 2022, divulgadas pelo veículos de comunicação, destoam da versão do soldado.
Para a comissão processante, as imagens "deixam dúvidas acerca da narrativa exposta pelo soldado, quando de sua declaração no Boletim de Ocorrência". O vídeo de uma câmera da região foi obtido pelo Diário do Nordeste e mostra a ocorrência.
VEJA VÍDEO:
A chegada de uma viatura da Polícia Militar provoca correria. Policiais cercam jovens que estão em uma via, e Paulo Vitor é baleado e cai. O adolescente é retirado do local pelos policiais na viatura, enquanto a comunidade entra em desespero.
Paulo Victor Silva de Oliveira havia saído de casa a pedido da mãe, para comprar uma pasta de dele.
Ele não respondia a atos infracionais
"Espero que nenhuma mãe passe o que eu passei. Esse homem tirou uma vida. A prisão dele não vai trazer a vida do meu filho de volta, mas é o mínimo que precisa ser feito. Não consigo dormir, os irmãos perguntam pelo Paulo Vitor", diz Ilana.
O soldado agora responde a um processo administrativo disciplinar. A Controladoria explica que o afastamento preventivo é porque "os fatos que lhe são imputados, em tese, se revelam incompatíveis com a função pública, além de ser necessário à garantia da ordem pública e à correta aplicação da sanção disciplinar, pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias".
Arma de fogo, algema, identificação profissional e qualquer outro instrumento de caráter funcional devem ser apreendidos e remetidos à CGD. O PM segue dentro da Corporação e deve ficar à disposição dos recursos humanos.
VERSÕES DO CASO
A PMCE disse que foi ao local após denúncia "de que suspeitos armados estariam traficando drogas na região". A Corporação fala que "apreendeu um revólver calibre .38 com seis munições deflagradas depois de uma ação preventiva e ostensiva com intervenção policial na Rua Tancredo Neves, no bairro Mondubim, em Fortaleza.
Conforme relatório policial, as equipes da 2ª Companhia do 21º Batalhão Policial Militar iniciaram diligências para checar a denúncia, quando foram surpreendidas com disparos de arma de fogo. Diante disso, os militares revidaram, em legítima defesa, segundo relato dos agentes que atenderam a ocorrência. Um adolescente de 16 anos, ferido durante a ocorrência, foi prontamente socorrido a uma unidade hospitalar, onde posteriormente foi a óbito."
Na versão da PM, "a arma de fogo foi apresentada na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), assim como os policiais envolvidos na ocorrência, para que fossem tomados os procedimentos cabíveis". A nota do órgão não deixa claro se a arma estava com o adolescente baleado.
A família do adolescente condena a ação dos policiais: "A Polícia matou um inocente. Foi isso que aconteceu. Foi isso que eles fizeram e precisam ser responsabilizados. Ele não tinha envolvimento com drogas, com nada disso. Nós não vamos nos calar".