A assessoria do Santuário de São Francisco das Chagas, organização religiosa que mantém o Zoológico São Francisco de Canindé (CE), anunciou uma decisão favorável à manutenção dos ursos Dimas e Kátia no município, após a divulgação do parecer elaborado pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).
Nesta sexta (30), o órgão estadual divulgou o parecer oficial. O documento aponta que o zoológico ainda deve cumprir quatro critérios de análises previstos na Instrução Normativa do Ibama, que trata do acondicionamento de animais do gênero em empreendimentos do tipo jardim zoológico. Segundo Jander Silva, assessor do Santuário, a direção do espaço deve entrar com um pedido de licenciamento a Semace, para regularizar a situação.
Os quatro critérios - de um total de 12 exigidos - são 1) Placa informativa com identificação da espécie e produção geográfica; 4) definição da área do recinto; 7) Ambientação 1; e 11) Nível de Segurança (a vistoria apontou a falta de um “corredor de segurança”).
Jander esclarece que os recintos do zoológico estão de acordo com a Instrução Normativa de 2005, mas a gestão ainda deve atualizá-los conforme as resoluções da legislação mais recente, de 2015.
“Nós tínhamos uma autorização de manejo até agosto. A Semace deu 90 dias pro zoológico apresentar um novo pedido de licenciamento”, destaca a assessoria do Santuário.
Manutenção
Jander Silva esclarece que o Zoológico São Francisco de Canindé não poderia acatar o pedido de transferência dos ursos, mobilizado pelo Instituto Luisa Mell (SP), sem o aval do Ibama e da Semace.
“Os ursos não são propriedade do Santuário, são da União. Se o poder público apontasse para tirá-los daqui, tudo bem. Mas não podemos encaminhar a transferência sem essa autorização. Pensa com a gente: se nós liberássemos e eles acabassem morrendo sem se adaptar (ao novo habitat)? Qual seria a nossa responsabilidade nisso?”, questiona Jander.
O assessor destaca que o Santuário de São Francisco das Chagas não tem interesse comercial na manutenção dos ursos. A direção cobra uma taxa simbólica de R$ 3 para a entrada dos visitantes e, ainda segundo a assessoria, “a gente cuida desses animais dentro da espiritualidade franciscana. O zoológico é mantido pelos recursos arrecadados com os romeiros”.
Reação
Neste sábado (1º), a ativista Luisa Mell, autora da denúncia a respeito da falta de condições climáticas para a preservação da saúde dos ursos, reagiu, pelo Instagram, ao resultado da vistoria da Semace, alegando que não foram consideradas as necessidades específicas dos animais e a questão climática ainda foi ignorada.
A ativista tem recebido, no Instagram, apoio de outros protetores de animais:
Entenda o caso
A ativista Luisa Mell começou uma campanha nas redes sociais no fim de setembro para que os dois ursos-pardos-siberianos, batizados de Dimas e Kátia, fossem transferidos ao Rancho dos Gnomos, uma associação de bem-estar de animais em Cotia, interior de São Paulo. O local abriga espécies de climas frios.
Dimas foi retirados pelo Ibama de um circo após acusações de maus-tratos e está no zoológico desde outubro de 2008. Kátia chegou três anos depois.
O argumento da campanha para levá-los é que o nordeste brasileiro é uma das regiões mais quentes do país e inadequada para esses animais. Luísa conseguiu retirar a ursa Marsha, agora batizada de Rowena, do Piauí para a associação.
Leia nota do zoológico sobre o pedido de transferência:
Encontro
A nota também trata do encontro que o Instituto Luísa Mel e o Santuário de Canindé teve na tarde do dia 1º de novembro. Na ocasião, a ativista visitou a cidade e postou um vídeo mostrando o local em que os ursos vivem.
A reunião contou com a presença da própria Luísa Mell e do diretor finaceiro do Instituto Luísa Mell, Marcelo Glauco, e outras pessoas pertencentes a instituição.
Representando a paróquia e o Zoológico, estavam presentes Frei Marconi Lins, reitor do Santuário, Henrique Weber Menezes Viana, veterinário, Renata Lygia, bióloga, e Maria Verbene Mendonça Cunha, coordenadora do Zoológico.