Em até 60 dias, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) quer voltar a operar pelo menos um dos dois poços mais profundos do Ceará, na Chapada do Araripe, na divisa do Ceará com Pernambuco. Os dois sistemas estão paralisados desde março passado e são estratégicos para o abastecimento das cidades de Araripe, Salitre e Campos Sales.
Os dois poços, de cerca de mil metros de profundidade, têm um histórico de paralisações que já perduram por dezenove anos. O problema mais recente decorreu da complexidade da operação. As bombas trabalham sobre alta pressão, profundidade de 400 metros e com água que tem temperatura muito elevada. Esses condicionantes danificam as peças – rolamentos e rotores.
Nesta semana, técnicos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e da Cagece concluíram um estudo com uso de câmeras para captação de imagem ao longo do percurso. O objetivo é verificar as condições dos poços. O relatório dessas sondagens monitoradas deverá ser divulgado em 15 dias.
Para o diretor de Operações para o Interior da Cagece, Hélder Cortez, colocar os dois poços em operação de forma mais permanente é um desafio a ser vencido. Ele, no entanto, se mantém esperançoso.
“Estamos em contato com o fabricante dos motores-bombas, que é em São Paulo, e a empresa firmou parceria com a Cagece para desenvolver equipamentos próprios para as condições desses poços. Acredito que teremos uma solução viável e duradoura”.
Antes do fim de novembro próximo, Cortez espera operar em fase de teste pelo menos um dos poços. A vazão inicial era de 75 mil litros por hora, mas com o decorrer do tempo foi reduzindo.
A Cagece tem estrutura montada no alto da serra do Araripe com reservatórios, sistema de captação e distribuição de água por meio de adutora que deveria atender as três cidades.
“Vamos aproveitar essa estrutura e quando encontrarmos uma operação viável, vamos perfurar mais poços e formar na área um aquífero para atender os três municípios – as cidades e localidades rurais”, prevê Hélder Cortez. “Esses novos poços serão de menor profundidade (600 metros) e as bombas ficarão mais elevadas, facilitando o funcionamento”.
Abastecimento
Atualmente, a cidade de Araripe e as sedes dos distritos de Lagoinha e Pajeú são abastecidas por reserva hídrica acumulada durante a quadra invernosa deste ano no açude João Luís. Campos Sales encontrou viabilidade no açude Poço da Pedra.
Já a cidade de Salitre enfrenta maiores dificuldades. Depende de poços profundos e a Cagece já perfurou mais de 35 e tem em planejamento implantar mais seis neste ano. “Estamos ampliando a rede de distribuição de água que só atende a metade da cidade”, pontuou Cortez.
Histórico
Os dois poços foram perfurados em 2000 pela Petrobrás, que fazia sondagem na tentativa de localizar petróleo na Chapada do Araripe. Não encontrou o óleo preto, mas descobriu outra riqueza para suprir a sede do sertanejo: água de boa qualidade.
Os reservatórios foram repassados para o governo do Estado que em 2001 iniciou os sistemas de captação de água, que até hoje permanece como desafio técnico.
O histórico mostra que houve tentativas fracassadas de reativação dos poços em 2001, 2011, 2013 e 2016. A última recuperação começou em novembro de 2017 e se estendeu até fevereiro de 2018 com serviços de instalação de tubulação, bomba elétrica e desobstrução.
A bomba fica a uma profundidade de 412m e foi usado um guindaste de 70 toneladas que permitiu a colocação do equipamento, que pesa, com a tubulação, 30 toneladas.