Um homem suspeito de furtar a igreja de Itaiçaba, no litoral leste do Ceará, foi capturado e agredido por moradores e pelo pároco da cidade, Juciêr Alves. Em imagens feitas por populares, o padre (de camisa escura e calça), aparece puxando os cabelos e pisando no suspeito, enquanto outros homens o agridem com chutes e tapas. Alves diz que foi ao local para evitar linchamento e minimiza as cenas de agressão. “Se a gente analisar, não é uma atitude agressiva. A gente reagiu compulsivamente”, alega o padre.
De acordo com a Polícia Militar de Itaiçaba, o suspeito invadiu a igreja, tentou arrombar o cofre e teria levado dinheiro da urna onde são depositadas doações de fiéis. Após capturar e agredir o homem, a população acionou a polícia, que o encaminhou para a Delegacia de Aracati. O caso ocorreu na última quinta-feira (21).
O pároco não quis confirmar se o suspeito havia levado algo de valor da igreja. À frente da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem há três anos, ele afirma que se trata de um “fato isolado e atípico”.
Padre aparece em vídeo agredindo suspeito de furtar igreja em Itaiçaba, no Ceará https://t.co/KdIYnrPE4X pic.twitter.com/sldCUGWQKl
— Diário do Nordeste (@diarioonline) 10 de outubro de 2018
*vídeo desfocado propositalmente por conta do teor violento
As cenas das agressões provocaram indignação em representantes de entidades religiosas e associações populares, que se manifestaram por meio de uma nota de repúdio contra a atitude do pároco.
“Por acreditarmos que Jesus Cristo é Misericordioso, nós Integrantes da Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, Associação Quilombola do Cumbe – Aracati/CE, Organização Popular – OPA, e demais grupos e coletivos, vêm a público manifestar veemente repúdio às agressões realizadas pelo pároco da paróquia de Itaiçaba Padre Juciêr Alves para com um jovem que na sua fala foi acusado de ter furtado dinheiro da Igreja de Itaiçaba”, diz a nota.
De acordo com o manifesto, a “atitude demonstra querer realizar justiça com as próprias mãos, postura contrária às orientações dadas a um presbítero”.
O padre Juciêr Alves se justifica afirmando ser um “caso consolidado” com a polícia e a igreja. De acordo com ele, populares o procuraram após o ocorrido para se solidarizar.
“A gente tá aqui pra praticar o bem e anunciar o evangelho. Hoje, isso é uma situação consolidada. Eu me desculpei com o bispo, e acho que é melhor cada um de nós continuar promovendo a paz e pedir perdão pelo pecado”, acrescenta.
Em sua página pessoal no Facebook, o pároco divulga evento com o tema “Juventude construindo uma cultura de paz”, marcado para este mês de outubro na paróquia da cidade. Questionado sobre a contradição de adotar postura violenta sendo um porta-voz pela igreja das práticas de paz, Juciêr Alves defende que isso se deve à “humanidade das pessoas”.
“Nosso propósito é evangelizar e acolher os marginalizados. Mas as pessoas que estão na igreja são pessoas humanos, todos nós. É a humanidade das pessoas”, frisa.
Para as pastorais e associações religiosas contrárias à ação do padre, a atitude deve ser refletida por todos os católicos para que não venha a se tornar cotidiana. “Ali estavam outros e outras a observar a postura truculenta daquele que deveria ser o exemplo, a luz e o espelho a quem reflete o próprio Jesus de Nazaré”, acrescentaram, em nota.
Ainda de acordo com a nota divulgada, “a cultura de violência precisa acabar, e é dever dos cristãos e das cristãs ser construtores/as da paz, que é fruto da justiça e da igualdade. (...) Nunca! Jamais devemos incitar ou sermos coniventes com qualquer tipo de violência e injustiça cometida a qualquer pessoa em nosso meio”, concluem.
A Pastoral da Juventude do Meio Popular; a Associação Quilombola do Cumbe, de Aracati; a Organização Popular; o Conselho Missionário Diocesano; a Comissão Pastoral da Terra, de Russas; Comunidades Eclesiais de Base; e a Pastoral da Pessoa Idosa, de Aracati, assinam a nota de repúdio.