Nova mortandade de peixes encerra a piscicultura no Castanhão

Os cinco episódios de morte dos pescados, em apenas quatro anos, resultaram no fim da atividade pesqueira que gerava renda direta para mais de 60% da população de Jaguaribara. Centenas de piscicultores estão desempregados

O fim da piscicultura no Castanhão, o maior reservatório do Ceará, provoca grave impacto na economia da cidade de Jaguaribara: desemprego, queda de 70% no comércio varejista, fechamento de lojas de ração e de outros produtos ligados à atividade e famílias de piscicultores - agora sem trabalho e renda - enfrentando dificuldades de sobrevivência.

A descrição do cenário é da secretária de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Aquicultura e Pesca de Jaguaribara, Lívia Barreto. "A economia local depende da piscicultura, que gerou trabalho, renda e trouxe a esperança de dias melhores para centenas de piscicultores e trabalhadores, mas agora veio uma crise que parece não ter fim", disse. "O impacto é gritante, a situação é triste e muito preocupante".

Nos últimos quatro anos, com a queda seguida do nível do reservatório, que acumula atualmente 5,5%, houve registro de mortandade de pescado nos parques aquícolas. Há cinco meses, o episódio se repetiu, eliminando 95% do pescado existente nas gaiolas e atingindo até o peixe nativo. Em abril passado, houve uma nova onda de mortalidade nos criatórios. Até aquele mês, a estimativa era de 1.694 toneladas de pescado morto nos tanques-redes.

No início desta semana, a mortandade atingiu o restante dos criatórios, pondo fim à atividade no reservatório. "Ainda não temos o levantamento dessa última mortandade porque a prioridade é retirar o pescado morto das gaiolas", explicou Barreto. "Depois, vamos fazer o levantamento completo, saber quantos produtores foram atingidos, mas todo um parque aquícola foi dizimado".

Reivindicações

A Prefeitura de Jaguaribara já apresentou em, pelo menos, cinco reuniões com representantes da Casa Civil do Governo do Estado reivindicações para socorrer os trabalhadores e os pequenos piscicultores: distribuição de cestas básicas para 200 famílias, amparo financeiro mínimo para 78 famílias, assistência técnica e o envio de uma equipe para avaliar a situação econômica e social, que a cidade atravessa.

"Até agora, não recebemos nenhuma resposta concreta do Governo do Estado, nem conseguimos falar com o governador", lamentou Lívia Barreto. "O prefeito já decidiu não mais participar de nenhum encontro". Os piscicultores e autoridades locais lamentam a situação em que se encontram. Eles observam que a água do Castanhão é levada para outras cidades, o Governo recebe recursos com a venda da água bruta, mas não há medidas compensatórias para as atividades produtivas que sofrem com a escassez do recurso hídrico.

Já com relação à Secretaria Nacional de Pesca, houve o compromisso de prorrogação de dívidas de empréstimos no banco, o estudo para implantar um seguro para a atividade, assistência técnica especializada e cadastramento dos piscicultores. "Estamos aguardando um retorno até julho próximo", pontuou Lívia.

Afetados

Em decorrência da crise hídrica que reduziu consideravelmente o volume do Castanhão desde 2012, os médios e grandes piscicultores transferiram as gaiolas e atividades para outros reservatórios na Bahia e em outros estados. Ficaram os pequenos produtores e trabalhadores, que hoje sofrem a consequência do fim da atividade. Todos estão sem trabalho e sem renda.

A cidade de Jaguaribara, primeiro centro urbano planejado do Ceará, enfrenta uma crise econômica sem precedentes. A queda brusca da renda dos moradores decorre de cinco episódios de mortandade de pescado ocorridos nos últimos quatro anos. As ruas largas e planas mais parecem cena de filme de cidade "fantasma". São dezenas de prédios fechados.

"A nossa única fonte de trabalho e renda é o peixe e perdemos tudo", lamenta o piscicultor Luís Alves. O varejo se ressente da queda nas vendas. "Temos uma dependência direta da produção de pescado no Castanhão, que se acabou", disse o prefeito Joacir Alves dos Santos Júnior. Os vendedores lojistas confirmam o quadro. "Neste ano, as vendas caíram demais, não se vende nem a metade do que se costumava vender nessa época do ano", lamentou a comerciária Renata Pinheiro.

Para Lívia Barreto, o quadro é cada vez pior. "A cidade foi planejada, saneada, ruas largas, mas não se pensou nas atividades econômicas", pontuou. "Nenhum projeto prometido pelo Governo deu certo ou foi concluído".

Os projetos Curupati-Irrigação, Curupati-Peixe e o Mandacaru não foram efetivados, deixando até hoje as famílias que antes viviam na velha Jaguaribara sem condições de trabalho e renda. "Na cidade antiga, havia alternativa de sobrevivência, mas aqui, não", acrescentou Barreto.

O Diário do Nordeste entrou em contato com a Casa Civil do Governo do Estado para obter esclarecimentos sobre as reivindicações apresentadas pelos piscicultores, mas não obteve respostas.