Juazeiro do Norte. O cuidado era chegar antes do meio-dia. Bem antes. E nem pensar, nas proximidades da das 18 horas. Principalmente desta hora, de noas, em que os anjos cantam e chamam Maria para rezar. Foi na Quinta-feira Santa. Por pouco. A partir das 12 horas, as portas estariam cerradas para todo e qualquer atendimento.
A mulher poderia ser comum. As características da pessoa chamam a atenção para uma simples sertaneja, com passos apressados se dirigia ao portão. Prestou atenção na pontualidade. Estava observando naquele momento as flores cultivadas no jardim, no quintal da casa.
A conversa flui como “um rio de água doce”. É assim que Maria do Carmo fala da paciência. Uma fonte doce. Fala de muito sofrimento de um privilégio de poucos, mas incompreensível. De mortes previstas, na sua própria família. Outra, a de próprio pai, evitada pela oração. A do seu irmão Vicente foi prevista seis meses antes de sua morte. Todos os meses ela o precavia. Na última semana. Um dia antes, foi o seu pai, quem mais acreditava nos dons de Maria, que chegou à casa do filho, fazendo o pedido para que não fosse para as águas de um açude, onde se encontraria com a morte. Essa, nem oração. “Foi muito sofrimento. Isso mata a gente”, diz Maria, ao ouvir do seu irmão de 46 anos e com 17 filhos para criar, sobre as visões não passavam de uma besteira.
O dentista viu sofrimento no Nordeste. O secular, causado pela seca. Maria tranqüilizou o senhor após um pedido. Ela ouviu das “irradições do paraíso celeste do infinito” que viria muita água, para encher o Orós, mas sem transbordar. São vozes que ela escuta. “É o pai e mãe do céu”, afirma.
A sensitiva é um mistério a ser estudado. Veio ao mundo agoniada para sair da barriga da mãe. Nasceu só, sem parteira. E hoje, justifica que só, viverá até o fim. Aos dois anos afirma que já sentia seu destino. Até hoje, não tem que se assustar com as coisas de Deus, como veio dele, segundo ela, esta afirmação. Pediu a preparação, por precisar de seu contato para cura os irmãos. Até hoje, aos 76 anos, ela recebe gente em sua casa. Não é a multidão dos anos 60 e 70.
A cada dia eram mais de 100 em sua porta, enchendo salas e quartos. Hoje, há mais médicos. Mas, a crença nos dons espirituais de Maria Raio X sobrevive ao tempo.
Para o escritor e advogado Emerson Monteiro, estas pessoas agem de um jeito que reflete possibilidades mentais acima da capacidade comum e ainda não desenvolvidas pela grande maioria da população. Com isso, propiciam o desenvolvimento favorável dos chamados “dons espirituais”, quando utilizados de modo positivo. Para ele, as diversas religiões consideram o assunto sob diferentes abordagens. “Umas avaliam como manifestações do Espírito Santo, outras como portas para o plano invisível, para a existência imaterial, comunicações com outros planos além até da existência física”, analisa ele. A própria ciência oficial, de acordo com o espiritualista, através da Psicanálise, por exemplo, atribui serem tais manifestações elementos de contato com o inconsciente, o que permite margem de estudos no âmbito da criatura humana ainda tão pouco conhecida, apesar dos tantos avanços nas diversas áreas da racionalidade. A sensitividade, portanto, se trata de espaço amplo aberto ao aprimoramento das relações consigo com “Eu” e com a sociedade. No Brasil, existe caso típico paranormalidade, respeitado no mundo inteiro: o médium Francisco Cândido Xavier, Chico Xavier, que, através da escrita automática, ou psicografia, subscreveu em torno de quinhentas obras literárias de boa qualidade, transmitindo a mensagem cristã num estilo correto e admirado. Ko