O Ceará deve despontar, este ano, como destaque na produção de mel de abelha. As estimativas de representantes do setor é que sejam produzidos 8 mil toneladas do produto, quatro vezes mais em relação à safra passada (2017-2018).
Juntos, mais de sete mil produtores cearenses poderão faturar quase US$ 7 milhões conforme a Federação Cearense de Apicultura (Fecap), o que equivale a mais de R$ 25 milhões, na cotação atual. São 254 associações e sete cooperativas espalhadas pelo Estado. Juntos, atuam em 169 dos 184 municípios cearenses. As regiões de destaque são Inhamuns e Cariri.
Na avaliação do presidente da Fecap, Algaci Abreu de Mesquita, as chuvas espalhadas por todo o Estado, apesar de mais reduzidas em algumas regiões, estão assegurando boa florada nestes meses da quadra chuvosa. "Devem estender a captação do néctar da vegetação natural até junho". No Cariri, onde há densa vegetação de aroeiras, a coleta deverá seguir até setembro.
Consequências
Com a produção elevada, o valor de venda do mel tende a ser reduzido. Além desta queda no preço, à medida que a quantidade de mel vai aumentando nas melgueiras, também vão surgindo entraves para o escoamento. O principal deles é o Selo de Inspeção Estadual (SIE).
Através do Programa São José, a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário (SDA) construiu 55 Casas de Mel, mas a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) ainda não forneceu o SIE. Até o fechamento desta edição, a instituição não havia informado o motivo da demora. Os apicultores também precisam se cadastrar na Adagri, atendendo a uma Norma reguladora do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mas há uma resistência da maioria por temer mais barreiras no transporte e comercialização do mel orgânico. "Há necessidade de se promover uma campanha para demonstrar a importância e necessidade do registro no órgão oficial estadual de inspeção sanitária", diz o presidente da Câmara Setorial do Mel, Vinicius Araújo de Carvalho.
Recuperação
Em Cariús, no Centro-Sul do Ceará, há cerca de 30 apicultores de base familiar. Devido ao longo período de estiagem, a produção de mel de abelha, nesses últimos seis anos, caiu de 30 toneladas para 24, em decorrência de chuvas irregulares e abaixo da média.
Entretanto, em 2019 o quadro voltou a ficar favorável a partir da melhoria dos índices pluviométricos. "Neste ano, vamos retomar ao patamar anterior de produção: algo em torno de 30 toneladas", observa o apicultor Luís Oliveira. "Se as chuvas continuarem teremos mais tempo de florada sertaneja", completa.
Na comunidade de Lírio, no alto da Chapada do Araripe, em Santana do Cariri, há cerca de 40 criadores de abelhas da espécie italiana. A maior parte do mel produzido por eles é vendida para empresas exportadoras.
As caixas de colmeias são instaladas na florada, que acontece, geralmente, no fim do mês setembro. Nessa época, surgem muitas flores de plantas frutíferas, como o mandacaru. É nesse período que aparecem apicultores de várias regiões, como dos estados do Piauí e Maranhão.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o interesse pela apicultura no Ceará está associado à procura pelo produto, por haver incentivo do Sebrae e à organização das associações, que garante a venda. Além disso, os produtores mais antigos aumentaram o número de colmeias em razão das boas condições climáticas, que favoreceram muitas floradas ao longo do ano, pois as chuvas ocorreram mais cedo este ano. O aprimoramento das técnicas de manejo na apicultura também favoreceu o crescimento na produção.
Exportação
Atualmente, o mel de abelha é o 13º produto nas exportações de agronegócios do Ceará. Na safra de 2016/2017, foram comercializados para o exterior mais de dois milhões de quilos. Na safra seguinte (2017/2018), os números foram além, chegando a 2.112.832 de quilos, conforme dados do IBGE.
Nesse contexto de exportação, os Estados Unidos são os maiores consumidores do mel cearense. Compram cerca de 80%. O restante tem como destino os países da Europa.