Antônio Vicelmo
sucursal Crato
Quem nunca possuiu um animal de estimação? E quem não se comoveu até às lagrimas com a perda desse animal? É impossível não se derreter com um cachorro balançando o rabo de genuína alegria com a volta da família ao lar. Impossível não se sentir enternecido com os afagos de um gato enrolando-se em nossas pernas. Impossível não se emocionar ao ouvir o canto do pássaro na copa de um cajueiro. São demonstrações sinceras de amor incondicional, amizade e ternura que se tornam cada vez mais raros neste mundo de violência e desamor.
Não é sem razão que o cachorro é considerado o melhor amigo do homem, uma ligação afetiva que vem dos tempos mais remotos. No Cariri, o cachorro ainda é o companheiro inseparável do vaqueiro que se embrenha no mato a procura da rês desgarrada. É o guarda-noturno que vigia a casa e anuncia a chegada de estranhos. O cachorro é a campainha das casas pobres do sertão, o companheiro de caçadas nas noites de lua clara.
Com o passar dos anos, o cachorro passou a ocupar outros espaços no coração das pessoas e na modernidade das cidades grandes. Surgiram clínicas veterinárias, pet shop com direito a consultas, cirurgias, banho, tosa, medicamentos, internamentos e produtos diversos. No Crato, já funcionam três clínicas do gênero. O veterinário Manoel Moraes de Brito, proprietário da loja Mundo Animal, diz que “a companhia de um cachorro, seja um vira-latas ou um belo cão com pedigree, é um prazer e um refúgio de amor e amizade. É um relacionamento que não exige nada em troca. Ao contrário do homem que sempre espera uma retribuição”.
Manoel Moraes lembra que no mundo moderno, virtual, as pessoas têm cada vez mais dificuldades para se relacionar. Já não se sentam mais nas calçadas como antigamente. “A violência empurrou o ser humano para dentro de casa. A vida moderna não propicia o companheirismo e a amizade, ao contrário, vivemos em uma sociedade onde a solidão, as relações virtuais e a violência fazem parte do cotidiano”. Ao fazer este comentário, Moraes lembra que o animal assume um papel múltiplo e multifuncional junto às pessoas. “Significa não à solidão, significa amizade e principalmente significa vida”.
“Se o cão é, tradicionalmente, conhecido como o melhor amigo do homem, está se tornando rapidamente o melhor amigo da mulher”. É que diz a médica veterinária Maria Alice Calado, funcionária do Centro de Zoonoses do Crato, especialista em pequenos animais que, geralmente , são os preferidos das mulheres. Para muitas mulheres, segundo Alice, eles podem ser uma fonte de amizade, reafirmação e até mesmo, de uma forma engraçada e unilateral, alguém com quem conversar.
Alice cita uma pesquisa feita pela Blue Cross, segundo a qual, seis entre dez mulheres disseram que não hesitariam em procurar seus animais de estimação para conversar quando estavam estressadas.. Apenas quatro entre dez homens estressados disseram que fariam o mesmo. Outro exemplo da diferença entre os gêneros; quando comparado com homens, o dobro das mulheres disse sentir mais saudade de seu animal de estimação do que do parceiro, de amigos ou parentes quando viajando.
São cada vez mais freqüentes os apelos nas emissoras de rádio do Cariri, procurando cães desaparecidos. Quando isso acontece, a consternação é geral. Algumas crianças adoecem com a ausência do animal de estimação. É a reação natural do homem, carente de solidariedade, que encontra nos animais um amigo e um confidente.