Alunos desenvolvem protótipo que reutiliza água de ar-condicionado

O equipamento criado por acadêmicos do IFCE, campus Quixadá, possibilita utilizar o líquido condensado dos aparelhos em hortas suspensas. Além disso, a invenção pode ser utilizada para lavar banheiros, pisos e aguar jardins

Estudantes do curso de Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, em Quixadá, desenvolveram um protótipo capaz de reutilizar a água de ar-condicionado e aplicá-la em hortas suspensas

Dezembro é um mês marcado pela elevação no consumo de água. A soma de fatores como, o início das férias escolares e o período com temperaturas mais quentes, resulta numa maior demanda hídrica. Para se ter uma ideia, o Ceará possui, de acordo com a Funceme, cinco municípios na lista com as maiores temperaturas máximas médias do País no mês de dezembro.

Diante deste cenário, é fundamental e imprescindível o uso consciente da água aliado a práticas de reúso. Preocupados com o futuro hídrico do Estado, onde 43 reservatórios estão no volume morto ou secos, e 89 possuem, atualmente, menos de 30% de sua capacidade, estudantes do curso de Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em Quixadá, desenvolveram um protótipo capaz de reutilizar a água condensada de aparelhos de ar-condicionados e aplicá-las em hortas suspensas.

Segundo o professor Lucas da Silva, os protótipos já foram testados, aprovados e serão instalados nos mais de 60 equipamentos da Universidade no início de 2020, quando começa o ano letivo. A água reutilizada vai irrigar as mini-hortas com opção de plantio de hortaliças de pequeno porte ou plantas ornamentais.

O processo é totalmente automatizado. A invenção conta com um sistema de irrigação por capilaridade, e uma placa eletrônica, de arduino, para programar o gotejamento. Desta forma, a única preocupação do usuário será a de colher os vegetais quando estiverem prontos para consumo. O equipamento foi desenvolvido pelos acadêmicos Nidson Maia Maciel, Ariane de Brito Silva e Alice Ferreira Mendes.

Desenvolvimento

A ideia surgiu há dois anos, quando o grupo ainda estudava na Escola Maria Edilce Dias Fernandes, na cidade vizinha, Ibicuitinga, onde concluíram o ensino médio. Nidson conta que o desejo de "criar algo para economizar água" surgiu ao ver as dificuldades do pai, agricultor, na roça plantada na localidade de Cipó dos Anjos, na zona rural de Quixadá. "Ainda pequenos, aprendemos a não desperdiçar", acrescenta o acadêmico.

Orientador do projeto, o docente Lucas da Silva, PhD em Desenvolvimento do Meio Ambiente, considera a proposta dos três alunos interessante. "Eles encontraram uma solução para um problema do nosso dia a dia. Geralmente, essa água vai embora pelo ralo. A ideia de dar uma utilidade a ela, inclusive para serviços domésticos, já que o excedente será armazenado em um depósito e usado para lavar banheiros, pisos e até nos jardins, merece atenção e interesse de empresários", ressaltou.

Ariane de Brito explica que um ar-condicionado de 9 mil BTUs condensa de 12 a 15 litros de água a cada 8h ligado. Os mais potentes, de 12 mil BTUs, também muito comuns para uso doméstico, produzem em média 20 litros pelo mesmo período de funcionamento. Toda essa água, agora, será reutilizada no campus de Quixadá, e a expectativa é que o protótipo seja patenteado e, posteriormente, comercializado. Alunos e professores da disciplina de Administração, também do IFCE, ficarão responsáveis por sugerir a melhor forma de aplicar o invento no mercado, definindo, por exemplo, valores.

Ao tomar conhecimento do protótipo, o engenheiro mecânico Newton Victor Filho, no ramo há mais de 40 anos, avaliou que a invenção pode ter boa aceitação no mercado diante do apelo e da necessidade do uso consciente de água. Ele observa ainda que o número de aparelhos condicionadores de ar cresceu nos últimos anos devido à baixa no valor praticado, aliado ao aumento no poder de consumo.

Importância

O desafio na utilização correta da água se torna vital diante da intensa variabilidade climática do Ceará. As chuvas se concentram entre os meses de fevereiro a maio. Fora deste período, o Estado convive com chuvas espaçadas e de baixa intensidade.

Segundo o secretário dos Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, "gestão de água não é só gerir o recurso hídrico existente, mas está associada à operação, manutenção e economia da estrutura hídrica de forma planejada. Do contrário, há o risco de se ter falta de água",

Apesar da quadra chuvosa de 2019 ser uma das melhores dos últimos anos, as chuvas que atingiram o Ceará foram irregulares e não trouxeram aporte suficientemente aos principais reservatórios do Estado. Atualmente, o volume armazenado nos açudes do Ceará é de apenas 15,14%.