Agricultores trocam enxada por fantasias

Há quem afirme que somente no Carnaval até os mais “sérios” liberam geral e extravasam a alegria. Para isso, a fantasia é indispensável. No período momino é possível ver desfilar, sem preconceitos, homem vestido de mulher; malucos belezas e bichos dos mais variados. Nessa época, agricultor vira sambista e mostra que o importante é viver seu personagem, tão diferente de seu dia a dia, pelo menos, nos quatro dias dedicados à folia.

Os integrantes da Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro (Esurd) no Carnaval popular de Várzea Alegre, vivem momentos de preparativos das fantasias e de ensaios da bateria e do samba-enredo. O clima é de festa e de expectativa. Neste ano, a escola leva para às ruas da cidade o tema “A Esurd conta história de trancoso”, que será expresso em alas com integrantes fantasiados de personagens infantis.

A Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro é formada em sua maioria por agricultores. O nome está ligado ao sítio que fica distante apenas três km do Centro da cidade. Foi lá que teve origem, em 1963, quando três músicos, pequenos produtores rurais, resolveram sair tocando sanfona, zabumba e pandeiro. O grupo voltou a se reunir nos anos seguintes. O bloco cresceu ao longo das últimas décadas.

Para este ano, devem desfilar 400 componentes. Transformou-se em escola de samba. Agora, a agremiação tem enredo próprio, temas e alegorias diferentes a cada ano. Comissão de frente, alas e bateria, rainha e porta bandeiras, adultos e mirins. A Esurd é a expressão viva da cultura cearense, que apesar das transformações, que passou, ingresso de moradores da cidade, mantém as características de origem e o desejo de animar a maior festa popular do Brasil.

Nos últimos anos, a Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro faz a abertura do desfile que reúne vários blocos, na tarde de domingo de Carnaval. Os aplausos conseguidos ao longo do desfile são o resultado de vários meses de dedicação e organização dos seus diretores. Um grupo de seis costureiras e de mais 20 mulheres que fazem o acabamento das fantasias trabalham num ritmo intenso de pelo menos um mês antes da folia.

A costura das alegorias é feita em casas de integrantes no Sítio Roçado de Dentro e nos finais de semana, quando um grupo se reúne no barracão, sede da associação de moradores que leva o nome da escola de samba. Todos trabalham como voluntários, com dedicação, motivados pela alegria e pela certeza de fazer o melhor desfile no Carnaval. “Aqui a gente não se cansa e cada um ajuda”, diz a dona-de-casa e costureira, Núbia de Souza. Uma outra costureira que não larga a máquina no período da tarde é Maria da Conceição (Neném). “Esse trabalho é feito com amor”, disse. “Queremos que as fantasias fiquem bonitas e bem acabadas”.

Nos últimos anos, em face das dificuldades financeiras, o grupo começou a utilizar tecidos de baixo custo, como o TNT, uma espécie de malha. Mas o cetim e os acessórios: pedras, correntes, plumas e fitas são adereços ainda usados na confecção das alegorias. Tudo muito colorido e bonito, sob a inspiração dos desenhos de Daysi Diniz e Beatriz Souza.

Nos últimos dias, foram intensificados os ensaios da bateria, que reúne 70 componentes, e é feito em praça pública, no bairro Varjota. Antes de morrer, o mestre Tim passou o apito, o comando da bateria, para o sobrinho, Lázaro de Souza. Hoje ele também conta com a ajuda do músico, Carlos Joviniano de Alencar. Os temas mudam a cada ano, mas geralmente a música é de Israel Batista e a letra é feita em parceria entre Daysi Diniz e Nonato de Souza. No passado, o sanfoneiro Pedro de Souza, um dos fundadores, também participava da composição musical.

Honório Barbosa
sucursal Iguatu