O Diário do Nordeste mostrou, na edição desta sexta-feira (8), o cenário de possíveis falhas técnicas e humanas nas composições de transporte metroferroviário da Capital cearense. Em Fortaleza, foram cinco acidentes em apenas 40 dias.
No interior do Estado, os episódios também acontecem com frequência nas cidades de Sobral, Crato e Juazeiro do Norte, locais que dispõem de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Em pouco mais de um mês (entre os dias 5 de junho a 22 de julho), houve dois acidentes com VLT do Cariri, deixando quatro pessoas feridas. E esses casos passaram a preocupar os usuários.
"Fiquei assustada com as imagens (do acidente)", pontua a estudante Aline Oliveira. O aposentado Francisco Calixto, residente na comunidade do Gesso, no Crato, encorpa o discurso. "Os mais antigos, que moram aqui há muito tempo, já viram até trem descarrilhar. Ficamos com medo que tenha uma tragédia e, Deus me livre, acabe pegando uma criança".
Apesar do temor de alguns, a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), empresa responsável por gerir os VLTs do interior, classificou os acidentes no Cariri como "casos isolados", e garantiu que "não há registros recorrentes, anteriores ou posteriores a eles".
A Companhia acrescentou ainda que, ao apurar os incidentes, não detectou problemas mecânicos nos trens. No entanto, houve confirmação de falha humana. Como resposta, a Metrofor informa que foram realizados novos treinamentos com os operadores envolvidos.
A manutenção dos trilhos e máquinas é outra questão debatida entre usuários. A discussão foi intensificada nesta semana após fotos de grampos soltos na via férrea circularem nas redes sociais. Essas peças são responsáveis por prender o trilho ao suporte de madeira.
Medidas
A Metrofor informa que possui equipes especializadas nas manutenções corretivas e preventivas nos VLTs do Cariri e de Sobral. "Os profissionais atuam para manter o bom funcionamento de trens, estações e da via permanente, no caso, os trilhos". São 21 pessoas trabalhando no Sul do Estado, e 19 na principal cidade da região Norte, atuando apenas nas conservações.
"Nas vias, são observadas preventivamente, por exemplo, a situação dos trilhos e dos dormentes em toda a extensão da linha, além da limpeza das vias, para que não haja acúmulo de lixo ou de vegetação. Nos trens, a lubrificação do motor, frenagem, sistema de portas, buzina e sistema pneumático também são itens monitorados com regularidade", explicou, em nota, a Metrofor. Um Pátio de Manutenções, instalado no meio do trajeto, concentra peças e equipamentos necessários para a execução dos serviços.
Dependendo dos manuais de operação e manutenção de cada sistema ou equipamentos que levam em conta, por exemplo, o tempo de serviço e quilômetros rodados, as verificações são semanais ou até diárias. Já as ações corretivas acontecem de acordo com a necessidade, a partir do momento em que é realizada uma notificação.
A empresa também explica que, para reforçar os cuidados preventivos, antes do início da operação com passageiros é realizada, nos dois sistemas, uma viagem de inspeção sem passageiros. Nela, é verificada, por segurança, o funcionamento regular dos veículos e equipamentos que devem operar para o início das viagens com seus usuários.
Imprudência
Em Sobral, os acidentes acontecem, geralmente, por conta do avanço de veículos, na maioria motociclistas, que não respeitam a sinalização e acabam sendo atingidos pelo VLT ao tentar ultrapassar a linha férrea. De acordo com a Metrofor, até 2017, foram registrados, em média, dois casos por mês por causa da imprudência dos motoristas. Boa parte foi de abalroamentos leves, sem gravidade e sem ocasionar despesas com indenizações para a empresa.
Na cidade, o último acidente aconteceu no dia 31 de maio deste ano, quando uma caminhonete foi atingida após o motorista não respeitar a sinalização de trânsito e frear muito próximo ao trilho. Apesar do susto, o condutor não teve ferimentos. No local, há uma cancela que indica quando o VLT está se aproximando, no entanto, os veículos atravessam no espaço livre.
Alternativa
Mesmo diante das queixas, os usuários deste modal ainda o avaliam como boa alternativa para locomoção. "É mais confortável, barato e menos quente", ressaltou Aline Oliveira.
Ela não é uma exceção. Prestes a completar uma década de funcionamento no próximo dia 1º de dezembro, o VLT do Cariri transporta, todos os dias, 1,3 mil pessoas. São 13,6 quilômetros de extensão entre nove estações, integrando os municípios de Crato e Juazeiro do Norte, num trajeto que dura 35 minutos. No Cariri, a capacidade do VLT é de até 330 passageiros. As tarifas custam R$ 1 (inteira) e R$ 0,50 (meia). Sua implementação custou quase R$ 26 milhões ao Governo do Estado.
O VLT de Sobral, no Norte do Estado, também apresenta boa procura. O equipamento teve aumento de 374% no número de passageiros transportados em 2018 na comparação com 2017, quando 362,3 mil passageiros usaram os trens. No ano passado foram 1,3 milhão de usuários. Os números de 2019 serão consolidados no início do próximo ano.
Em Sobral, a operação é em horário integral, atendendo nos três turnos, no período de 5h30 às 23h. Assim como em Juazeiro do Norte, a tarifa também custa R$ 1, com 50% de desconto para estudantes.