Achados fósseis de mastodonte em Itapipoca

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Com a descoberta de fósseis, a zona rural de Itapipoca abrigou, pelo menos, 20 animais da fase pré-histórica

Itapipoca.
Um morador da localidade de Sítio Santa Rita, distante cerca de 30km da sede deste Município, encontrou em meio a escavações fragmentos de ossos de um mastodonte, animal pré-histórico, que faz parte da Ordem dos Proboscídeos, um grupo de animais com trombas, habitante daquela região, entre 8 mil e 30 mil anos atrás.

Os fragmentos encontrados pelo agricultor Eurivan Cordeiro já se encontram no Museu de Pré-História de Itapipoca (Muphi). Os ossos fragmentos foram localizados na mesma região onde, em 2001, um irmão de Eurivan encontrou um dente de um animal desta mesma espécie. "A peça se encontrava guardada no Museu de Paleontologia do Crato e foi trazida para Itapipoca, que se juntará aos ossos fragmentados encontrados por esse agricultor", disse o paleontólogo e curador do Muphi, Celso Lira Ximenes, acrescentando que os moradores da região têm contribuído bastante para novas descobertas. "Pessoas como Eurivan são importantes para nós, porque através deles é que são encontrados os materiais que vão nos ajudar em novas pesquisas". Eurivan Cordeiro conta que encontrou os pedaços de ossos por acaso e que pouco costuma visitar a área que, em época de chuvas, é o leito do Rio Cruxati.

"Será muito gratificante para mim saber que, em algum dia, quando minha filha for visitar o museu para pesquisar, irá encontrar o meu nome como parte dessa história", disse, orgulhoso, o agricultor.

Para Celso Ximenes, a primeira descoberta, em 2001, mostrou que naquela região existe um sítio, e a segunda descoberta reforça a existência de camada fossilífera, na região de Santa Rita. Ele lembra que ainda não foi feito nenhum tipo de trabalho de investigação detalhado na área, pelo fato da equipe de pesquisadores estar atuando em outro sítio no Município. Mas acredita que até o final deste ano ou início de 2011, os trabalhos deverão se concentrar nesta região.

"Inicialmente nós pretendemos fazer sondagem, cavar trincheiras, para analisar mais detalhadamente se existem camadas predeterminadas, bem formadas de fósseis. Mas isso não descarta que aqui é um sítio paleontológico", disse.

Os trabalhos de pesquisa em Itapipoca apontam a existência de, pelo menos, sete sítios paleontológicos, de onde são encontrados fósseis (dentes e ossos fragmentados). Os sítios estão localizados na Barra do Sororó e nas localidades de Jirau, Coelho, Cajazeiras, Pedra D´Água, Lajinhas e João Cativo. Pelos fósseis encontrados, pode-se constatar que pelo menos 20 espécies diferentes de animais pré-históricos pertencentes à megafauna viveram na região de Itapipoca.

No território já foram encontradas dezenas de peças esqueletais variadas e dentes isolados, nos sítios paleontológicos de João Cativo (Mucambo de Baixo), Pedra d´Água (área distrital do Deserto), Jirau (Lagoa do Juá) e Rio Cruxati (Santa Rita). Nesses sítios, todo o material resgatado até agora é representativo da espécie Haplomastodon waringi, que viveu em Itapipoca até pelo menos 8 mil antes do presente. Os principais animais da megafauna que viveram na zona rural de Itapipoca foram o eremotério ou preguiça gigante; o notrotério ou preguiça anã; o pampetério ou tatu gigante; o mastodonte, toxodonte, xenorinotério, o paleocavalo, a paleolhama e também o tigre dentes-de-sabre.

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Animais indicam ambiente da época

Os mastodontes, assim como todos os outros gigantes da megafauna, foram animais pré-históricos indicadores de ambientes naturais bem diferentes dos atuais, pela sua necessidade constante de grandes quantidades de comida e água. Jamais sobreviveriam na atual condição mais seca da caatinga. Sua extinção também pode estar ligada às mudanças que originaram o atual clima semiárido no Nordeste do Brasil, sendo uma das mais importantes espécies para esses estudos.

No Brasil, fósseis de mastodontes já foram encontrados nos Estados do Acre, Roraima, Amazonas, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. No Ceará, já foram descobertos nos seguintes municípios: Itapipoca, Sobral, Baturité, Quixadá, Quixeramobim, Tauá e Fortaleza. O Estado do Ceará revela-se no cenário mundial como lugar de expressivos acervos na área. Assim como na zona rural de Itapipoca, o Cariri possui sítios paleontológicos de raro valor.

MAIS INFORMAÇÕES

Museu de Pré-história de Itapipoca (Muphi)
Zona Norte do Estado
(88) 3631. 3211

SIMPÓSIO BRASILEIRO

Equipe apresenta pesquisa

Itapipoca. A equipe do Muphi apresentou em julho passado, durante o 7º Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, realizado na cidade do Rio de Janeiro, os primeiros resultados de identificação de espécies de animais pré-históricos com o material fóssil resgatado nas campanhas de escavação de 2005 a 2006. Com o trabalho intitulado "Nota preliminar sobre os fósseis de vertebrados do Sítio Paleontológico Jirau, Pleistoceno de Itapipoca, Estado do Ceará", os pesquisadores Celso Lira Ximenes e Antônio Sílvio Teixeira dos Santos, do Muphi, e Felipe Augusto Correia Monteiro, da Universidade Federal do Ceará (UFC), divulgaram a identificação de novas ocorrências de animais extintos que viveram em Itapipoca há mais de 10 mil anos.

Após a preparação dos fósseis em laboratório, um trabalho de identificação foi feito a partir de consulta bibliográfica. Uma parte do material foi levada ao Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), em Belo Horizonte, para realizar a identificação de espécies, através de anatomia comparativa na coleção de paleontológica daquela instituição.

Os resultados proporcionaram a confirmação de 19 espécies de mamíferos da megafauna pré-histórica e pequenos animais associados. As grandes novidades foram o primeiro registro para o Estado do Ceará de um tatu gigante denominado de Paquiarmatério (Pachyarmatherium brasiliense), que chegava a pesar até 100kg, e que até o presente só havia sido registrado no Estado do Rio Grande do Norte; e de uma preguiça terrícola gigante que chegava a 500kg, denominada ocnotério (Ocnotherium giganteum). Também foram encontrados fósseis de tartarugas e jacarés ainda não identificados. Os pesquisadores destacam que a alta diversidade de fósseis em Itapipoca indica que a região deve ter sido um reduto ecológico para a megafauna e espécies associadas. Os fósseis estão bem conservados, em função das boas condições pluviométricas e hidrográficas e dos tanques naturais

WILSON GOMES
REPÓRTER