A prática de exercícios físicos nunca foi tão necessária. As proibições impostas pela pandemia alteraram a rotina de atividades, influenciando a imunidade e a saúde mental. Agora, com a liberação prevista pelo plano Responsável de abertura das Atividades Econômicas e Comportamentais do Estado do Ceará, os praticantes precisam se adaptar a uma nova realidade, na qual são obrigatórios o uso de máscara, o distanciamento físico e os cuidados com higiene. Mas afinal, treinar com máscara prejudica ou não o desempenho do treino?
Para exercícios leves e moderados, o uso da máscara não inviabiliza a atividade física, sendo bastante recomendada para melhora do sistema imunológico. Mas, considerando o clima úmido e quente como o nosso, há de se ficar atento à forma como o corpo responde aos exercícios intensos com a máscara. “A ventilação pode ficar alterada, dificultando troca gasosa”, explica o profissional de Educação Física Jean Cavalcante, fisioterapeuta e membro da Comissão de Educação Física e Saúde do Conselho Regional de Educação Física (CREF5).
O professor explica, ainda, que “a avaliação física realizada pelo profissional de Educação Física, neste momento de retomada dos treinos, é extremamente importante para prescrever de forma segura e correta os exercícios próprios para cada pessoa”, ressalta Jean Cavalcante.
Avaliação física traz segurança
A avaliação física se justifica pelo fato de que agora novos parâmetros de desempenho serão considerados pelo profissional de Educação Física, a partir do treino com máscara. Afinal, para muitas pessoas, foram quatro meses paradas ou, pelo menos, com uma rotina reduzida de atividade física. Dessa forma, é recomendável que durante os exercícios sejam observados sinais como hiperventilação, fadiga muscular e sudorese intensa – fatores que podem limitar o praticante.
“O intervalo (descanso) maior na execução das práticas é importante para otimizar a respiração, podendo ainda de forma rápida ser ingerida água com material próprio, respeitando as normas de distanciamento e higienização constante com álcool em gel, que é fundamental nos exercícios físicos”, reforça Jean Cavalcante.
Um receio comum entre os praticantes de corrida, principalmente, era de que a máscara contribuísse para o aumento da temperatura corporal na região da cabeça. Mas, como esclarece Welton Godinho, professor universitário, Mestre em Fisiologia e membro da Comissão de Saúde do CREF5, a temperatura do corpo aumenta como resultado do exercício em si, ou seja, o uso da máscara não representa aumento significativo da temperatura da cabeça dos usuários, segundo pesquisas. “Uma recomendação é que a pessoa se hidrate bem, evite horários mais quentes, tome medidas habituais para evitar desidratação”, acrescenta.
Desconforto pode ser amenizado
Inicialmente, o desconforto de praticar atividade física com a máscara pode ser desestimulante, mas a boa notícia é que dá para se acostumar. “Na prática do exercício, o aprendizado é fundamental, então a pessoa vai ter que se adaptar a utilizar. É um processo que, no início, vai gerar desconforto, mas em algum momento as pessoas vão comentar que não sentem mais a máscara”, observa Welton Godinho.
Para diminuir a sensação, é preciso experimentar vários modelos: com elástico, de tecido, de prender na orelha ou amarrar na cabeça. Muito do desconforto é gerado por modelos que apertam, deixam marcas no corpo e causam incômodos, independentemente de estar exercitando-se ou não.
O importante é encontrar a mais confortável que garanta a proteção do usuário. “As máscaras não foram feitas pensando em desempenho, foram feitas para proteção. Não foram feitas para fazer exercício, então é esperado que causem desconforto e dificuldade, mas tem um papel protetor já reconhecido”, destaca o professor.
Cuidados com a saúde
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suor, exacerbado pelo exercício, molha mais rapidamente a máscara, o que a faz perder a ação protetora ao ficar úmida, criando maior resistência ao fluxo de ar. Isso dificulta a respiração, exigindo mais esforço para a realização de uma mesma intensidade de treino. Dessa forma, máscaras extras são recomendadas para a troca durante a atividade. “A máscara não é uma barreira para o ar, mas sim para gotículas de água, por onde se entende que o coronavírus se espalha. Uma dica é sempre andar com máscara sobressalente, especialmente quem tem o hábito de transpirar muito durante o treino”, orienta Welton Godinho.
O importante é não deixar de usar a máscara, por si e pelo outro. “Quando você usa máscara não está só se protegendo, mas protegendo as outras pessoas, diminuindo a taxa de transmissão da doença. Usar máscara é um ato de cidadania”, finaliza o professor.