Quando o esgotamento físico e mental se prolonga demais, é sinal de alerta. Some isso a uma perda de interesse e motivação pelo trabalho, sentimentos negativos, depressão, ansiedade, além de sintomas como enxaqueca, pressão alta e tensão muscular e teremos um quadro característico da Síndrome de Burnout. “A Síndrome de Burnout é um quadro psicológico associado a uma percepção de exaustão que ocorre de forma prolongada, ou seja, está associada ao que podemos entender como um período crônico de estresse, e não uma situação pontual vivida como estressante”, explica Ana Carolina Souza, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro e sócia da Nêmesis, empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional.
Estresse fora do comum
A Síndrome de Burnout não é algo pontual. É um cansaço excessivo vivido no ambiente profissional. Outras situações fora do trabalho também podem causar estresse crônico, mas não se enquadram na definição de Síndrome de Burnout. “Um mito comum é acreditar que um único evento estressante pode causar Burnout. Porém, a síndrome é associada a períodos crônicos e não agudos de estresse”, explica Ana Carolina Souza.
Outro mito por trás da doença é acreditar que se trata de um cansaço comum. “O fato de ser uma resposta complexa, com aspectos físicos e emocionais, torna difícil sua identificação. No entanto, as pessoas devem estar atentas à intensidade de suas respostas e à cronicidade, ou seja, ao tempo que elas perduram”, alerta a neurocientista. O que contribui para o surgimento dessa síndrome são determinados contextos em que há uma percepção grande de esforço por parte do indivíduo, somada a sentimentos negativos importantes, como frustração, depressão ou ausência de significado associado ao trabalho. “Nesses casos, a pessoa entende que se esforça ao máximo, mas não consegue ver nenhum fruto associado ao seu trabalho, não vê para onde vai toda essa dedicação”, explica Ana Carolina Souza.
De acordo com a especialista, a percepção de que se alcançou muito pouco ou o que foi conquistado não teria valor representa um descompasso entre o que seria a doação o indivíduo ao seu trabalho e o retorno que entende que obtém. Essa sensação favorece o surgimento da Síndrome de Burnout.
Quem mais sofre
Qualquer pessoa pode sofrer com a síndrome, não é algo que acontece apenas com alguns. “Há uma tendência a se estigmatizar as pessoas que sofrem com a Síndrome de Burnout, entendendo que os profissionais considerados mais fortes ou bem-sucedidos não sofrem com Burnout, o que não é verdade. Diferentes pessoas e perfis de trabalho podem sofrer com a síndrome”, esclarece Ana Carolina Souza. Profissionais da área de saúde, professores e policiais têm maior propensão para desenvolver a síndrome, mas, de maneira geral, atividades que exijam um alto envolvimento e dedicação interpessoal apresentam maior propensão ao seu desenvolvimento. “A Síndrome de Burnout está associada a uma desconexão entre aspectos importantes, como o volume de trabalho, a percepção de controle do indivíduo sobre a situação, o seu reconhecimento e as relações com as pessoas (inclusive os gestores)”, pontua Ana Carolina Souza.
Como destaca a neurocientista, algumas condições mais específicas podem favorecer o surgimento do quadro, como o acúmulo excessivo de tarefas por um período prolongado, e/ou os níveis excessivos de exigência/pressão associados a uma alta demanda de trabalho. “Esse cenário tende a favorecer a sensação de impotência e inclusive a falta de perspectiva do colaborador, o que, junto com a sobrecarga de trabalho, favorecem o quadro de Burnout”, completa.
Tecnologia
O uso inadequado da tecnologia também pode contribuir. Com a diversidade de canais de comunicação disponíveis, muitas vezes, os profissionais podem ter a sensação de estarem sobrecarregados de tantas mensagens e/ou cobranças que vêm por meio de e-mails, mensagens e aplicativos. “Isso pode gerar dificuldade de alinhamento de prioridades, excesso de cobrança, erros de comunicação, entre outros problemas”, afirma Ana Carolina Souza.
Outro fator que contribui para o problema é a facilidade de se trabalhar de forma remota, gerando a sensação de se estar na ativa 24 horas por dia ou mesmo favorecendo culturas que consideram que as pessoas devem estar disponíveis e acessíveis para o trabalho constantemente, uma vez que podem responder e-mails e mensagens facilmente do seu celular. “Isso traz um excesso de carga horária, mesmo quando a pessoa está fora do escritório, o que, associado às cobranças e à pressão, pode piorar ou favorecer um quadro de Burnout”, argumenta.
Como prevenir
Como observa Ana Carolina Souza, existe uma maior conscientização a respeito da importância da criação de um ambiente saudável dentro das empresas e, com isso, cresce também a conscientização a respeito de questões ligadas à saúde mental das pessoas. A especialista destaca que, para evitar quadros de Burnout, é preciso que as empresas trabalhem o exercício da liderança saudável. “É saudável que os gestores tenham conhecimento do fenômeno e estejam constantemente atentos aos seus colaboradores como uma forma de prevenção. Ao perceber que algum dos colaboradores pode estar sob grande pressão, sobrecarregado ou desenvolvendo uma possível frustração associada ao trabalho, é importante buscar formas de reverter o cenário, evitar um desgaste maior, e um possível desenvolvimento de Burnout”, orienta a neurocientista.
O exercício da empatia, defende, é uma forma eficiente de leitura dos colaboradores, permitindo uma maior sensibilidade na hora de direcionar atividades e dar retorno sobre desempenho. “Existem diferentes formas de exercitar a empatia, uma delas é dar atenção às pessoas. Quando conversar com elas, faça contato visual e ouça atentamente o que dizem. Exercitar o que chamamos de ‘escuta ativa’, quando ouvimos o que o outro está dizendo, inibindo nossos julgamentos e pensamentos para que, de fato, seja possível compreender a perspectiva e os sentimentos da pessoa que fala”, diz. Para os líderes, uma dica interessante é sempre se lembrar qual é a importância das pessoas para a equipe. “No exercício da empatia, valorize sempre ver o que as pessoas têm em comum, buscando coincidências e não divergências”, finaliza Ana Carolina Souza, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Saiba mais
Principa is sintomas da Síndrome de Burnout:
. Cansaço excessivo, físico e mental
. Dor de cabeça frequente
. Alterações no apetite
. Insônia
. Dificuldades de concentração
. Sentimentos de fracasso e insegurança
. Negatividade constante
. Sentimentos de derrota e desesperança
. Sentimentos de incompetência
. Alterações repentinas de humor
. Isolamento
. Fadiga
. Pressão alta
. Dores musculares
. Problemas gastrointestinais
. Alteração nos batimentos cardíacos
Fonte: Ministério da Saúde