Parto humanizado não é parir na banheira, não é dar à luz via parto vaginal ou ter o acompanhamento de uma doula no trabalho de parto. O conceito de humanização do nascimento vai além do local e da via de parto. Tem muito mais a ver com autonomia e respeito às escolhas da mulher. “Quando falamos em humanização da assistência aos nascimentos, estamos nos referindo a uma forma de construir essa relação a partir do respeito à autonomia da mulher que está grávida, usando como mediação, nesse processo os conhecimentos e as evidências científicas fazem com que as múltiplas profissões atuem com interdisciplinaridade, a partir das escolhas autônomas, esclarecidas da parturiente", afirma a médica Liduina Rocha, Presidente da Sociedade Cearense de Ginecologia e Obstetrícia (Socego).
Mesmo quando intervenções são necessárias, para a segurança da mãe e do bebê, a humanização existe a partir do entendimento de que a mulher tem a liberdade de decidir sobre questões como o manejo da dor, posições de parto, entre outras. Esse protagonismo feminino na hora de dar à luz é, inclusive, estimulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no seu conjunto de recomendações para os cuidados durante o trabalho de parto e pós-parto. São 56 recomendações, entre elas a escolha de um acompanhante durante o trabalho de parto e o nascimento; garantia de cuidados respeitosos e boa comunicação entre mulheres e a equipe de saúde; contato pele a pele da mãe com o recém-nascido na primeira hora após o nascimento; manutenção da privacidade e convidencialidade, entre outros.
Normal ou Cesárea
Ainda é comum associar parto humanizado com parto natural. Independente da via de parto – cesárea ou natural – a humanização do nascimento é o que buscam os profissionais preocupados em diminuir os índices de violência obstétrica e de cesáreas desnecessárias. “O trabalho é pela humanização do nascimento. Se for necessária uma cesariana, ela tem que ser feita”, pontua Luís Carlos Weyne, médico obstetra. Sendo necessária, acrescenta, a cesariana também pode ser feita com técnicas de humanização.
Foi o caso da empresária Ana Karolina Sousa que, com 41 semanas de gestação, entrou em trabalho de parto, mas acabou precisando fazer uma cesariana, que considera humanizada.
“Fui para o hospital apenas quando recomendado, graças à equipe contratada eu tive essa opção. Eu tinha minha enfermeira obstétrica, acupunturista e doula comigo em casa. Não tomei nenhuma medicação ou analgesia durante o trabalho de parto. O cordão da minha filha foi cortado tardiamente e ela ficou comigo até 4 horas e meia depois que nasceu”, recorda. Para Ana Karolina Sousa, não havia preferência quanto à via de parto, mas que sua pequena Sofia chegasse ao mundo na hora dela.
A possibilidade de contar com assistência multidisciplinar tem sido uma busca progressiva em Fortaleza, em especial por mulheres usuárias das maternidades privadas, como observa Liduina Rocha. “Não é incomum, no consultório, na primeira consulta de pré-natal, as mulheres declararem que nos procuraram pela possibilidade da assistência em equipe humanizada”.
Como reforça a médica, não há um único formato de equipe para que uma assistência se caracterize como humanizada, mas para a execução das boas práticas de assistência ao parto é “importante que as maternidades (públicas e privadas) garantam uma ambiência com a presença de uma equipe que tenha obstetra, enfermeira obstétrica, neonatologistas, anestesista, além da possibilidade da participação de outros profissionais (no caso das maternidades privadas), como doulas, fisioterapeuras e acupunturistas", afirma a médica obstetra.
No âmbito privado, profissionais consideram que houve avanços na assistência ao parto com a possibilidade do uso de recursos, como chuveiro, banheira, cavalinho, bolas,
além da permissão de acompanhantes e doulas. “No SUS, temos construído avanços, mas ainda precisamos melhorar bastante e estamos nos esforçando nesse sentido, por meio do programa Nascer no Ceará, para garantir às mulheres e aos bebês uma ambiência não somente humanizada, mas também segura. A segurança, inclusive, é também um aspecto importante da humanização e deve ser oferecida universalmente a todas as mulheres, independente de classe social, raça, idade, presença de riscos obstétricos ou não”, argumenta Liduina Rocha.