O religioso Arilton Moura, apontado com um dos pastores responsáveis por comandar um gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC), teria pedido um pagamento de R$ 15 mil mais um quilo de ouro em troca de atuar na liberação de recursos para a construção de escolas e creches.
Segundo o prefeito do município de Luis Domingues, Maranhão, Gilberto Braga (PSDB), relatou ao jornal Estadão, o homem teria solicitado o metal pois a cidade está localizada em uma região de mineração.
Mas afinal quanto custa um quilo de ouro? Qual foi o valor total supostamente cobrado pelo pastor? O Diário do Nordeste responde essas dúvidas.
Preço do 1kg de ouro no Brasil
Na terça-feira (22), a cotação do ouro fechou o dia valendo quase R$ 304 a grama, ou seja, um quilo do metal precioso equivale a cerca de R$ 304 mil, conforme o Estadão.
O metal precioso é vendido como uma commoditie — palavra que deriva do inglês "commodity", que significa mercadoria —, que são produtos, especificamente matérias-primas, produzidos em larga escala. São exemplos dessas os insumos agrícolas, como milho e trigo, minerais como ouro e o petróleo.
Considerando o pagamento antecipado de R$ 15 mil com o valor do metal, o religioso supostamente solicitou cerca de R$ 319 mil para protocolar a demanda no Ministério da Educação, e garantir a liberação da verba pública para a construção das instituições escolares no município maranhense.
À publicação, o prefeito detalhou que a conversa com Arilton Moura aconteceu em abril do ano passado, durante um almoço no restaurante Tia Zélia, em Brasília, logo após um encontro com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, na sede do ministério. A reunião, que estava fora da agenda oficial do titular, teria sido uma das diversas solicitadas pelos pastores Arilton e Gilmar Santos.
Braga relatou que o pastor fez a proposta na frente de outros prefeitos de cidades do Pará e não teria pedido segredo sobre a conversa. A reportagem do Estadão ainda apurou que, na ocasião, o pastor teria repassado os dados da própria conta corrente para que os prefeitos efetuassem os pagamentos.
Milton Ribeiro nega interferência de pastores
Nessa terça-feira (22), o ministro da Educação negou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha pedido atendimento preferencial a pastores na liberação de recursos para municípios. Em nota, ele disse que desde fevereiro de 2021, foram atendidos in loco 1.837 municípios de todas as regiões do País, em reuniões "eminentemente técnicas" organizadas por parlamentares e gestores locais, registradas na agenda pública do Ministério.
"Registro ainda que o presidente da República não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem, inclusive as pessoas citadas na reportagem", afirmou.
Apesar disso, em um áudio revelado pela Folha de S. Paulo, o próprio ministro da Educação comenta que daria prioridade para os pedidos dos pastores e disse que a liberação de recursos foi um "pedido especial" de Bolsonaro.
Ribeiro negou qualquer irregularidade e disse que o fato de ser evangélico não influi no modo como comanda o ministério. "Independente de minha formação religiosa, que é de conhecimento de todos, reafirmo meu compromisso com a laicidade do Estado, compromisso esse firmado por ocasião do meu discurso de posse à frente do Ministério da Educação", afirmou em nota.
Como mostrou o Estadão, Gilmar e Arilton estiveram em pelo menos 22 agendas oficiais do Ministério da Educação desde o começo de 2021, sendo 19 com a presença do ministro. Em eventos pelo Brasil agendados pelos pastores, o ministro deixa claro a influência deles no MEC. Num dos vídeos obtidos pelo Estadão, o ministro afirmou que "as coisas aconteceram também pela instrumentalidade dos senhores" ao discursar em reunião com prefeitos para tratar de obras.