Em meio a debates sobre um pedido de empréstimo do Governo do Ceará, o deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique (Republicanos) usou o microfone para fazer críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O discurso deflagrou um bate-boca entre parlamentares da oposição na Assembleia Legislativa (Alece). O deputado, que é também pastor de igreja, chegou a dizer que o ex-chefe do Executivo federal não conseguiria se reeleger e estendeu críticas aos aliados do ex-presidente.
Luiz Henrique iniciou sua fala criticando o que definiu como a “tolice” de uma “oposição insensata” e reforçou que não idolatra homens. “Nunca idolatrei o Bolsonaro, podem fazer cara feia para mim, principalmente os que o idolatram, não tenho medo de homens, sirvo a Deus”, disse o político.
Em suas críticas, o parlamentar relembrou a campanha eleitoral do ano passado. “É um absurdo o que vimos nas eleições, usaram o nome de Deus em vão. Idolatram um homem que xinga, fala palavrões, se alcooliza e faz tantas outras coisas que os crentes não fazem”, continuou.
Diante da insatisfação de integrantes da oposição e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro com as palavras de Luiz Henrique, o deputado Pastor Alcides (PL) rebateu. Além dele, os deputados Sargento Reginauro (União) e Felipe Mota (União) foram os que demonstraram maior incômodo, respondendo em tom exaltado e de pé.
Em um dos trechos de seu discurso, Luiz Henrique, que se intitula "profeta de Deus", tentou fazer previsões sobre o futuro eleitoral de Bolsonaro e de seus aliados. “Podem tentar dizer que vão vir de novo em 2026, podem colocar mulher, filho, quem for, mas eu já estou declarando: não volta, não”, disse sobre o ex-presidente.
“E vocês se cuidem porque senão nem vocês voltam nas próximas eleições, quem está falando aqui é um profeta de Deus, se cuidem, parem de idolatrar homens”
Acusação de "fazer teatro"
Em seguida, o deputado Pastor Alcides negou que a oposição no Estado seja “irresponsável” e que tenha “falsos profetas”, e ainda aproveitou para chamar de “teatro” o pronunciamento do colega de Casa.
“Como é complicado ser crente na Babilônia. Eu não me curvo diante dos manjares do rei, quando cheguei aqui recebi as propostas que o senhor recebeu, eu não caí, tenho um lado, tenho minha posição, não me curvo diante da esquerda, do poder das trevas, nunca. Teatrinho dessa forma não funciona, o cara tem que ser macho para as bandas da lata voar”
Felipe Mota e Sargento Reginauro se disseram atacados pelas falas contra a oposição de Luiz Henrique, que chegou a tentar conversar com os dois, mas os ânimos seguiram exaltados.
“Nos deixou insatisfeito, porque o Apóstolo Luiz Henrique tinha feito uma menção à toda oposição (...) Quem somos nós para apontar o dedo para alguém? E se fiz algo que desagradou ao povo cearense, sou homem para pedir desculpa, mas deixo na tribuna que apontar dedo em riste e me ameaçar, isso eu não levo para a casa de ninguém”, disse Felipe Mota.
Também exaltado, Reginauro disse que desconhece o trecho bíblico que “dá autoridade para condenar alguém em nome de Deus”. “Até onde estudei a Bíblia, se sou cristão de berço, eu nunca vi em uma passagem Deus conferir a um homem autoridade para condenar a oposição ao dizer que não vamos nem ser reeleitos. Oh, Senhor, perdoa-o’", concluiu.
Apóstolo Luiz Henrique fez uma réplica e ameaçou processar Alcides pelas supostas acusações de que ele teria “se vendido”. “Você falou que eu me corrompi e agora vai ter que provar, vai ser acionado juridicamente”, concluiu.
As declarações provocaram mais alvoroço no plenário da Alece.
Pacificação
Para acalmar os ânimos, o deputado estadual Osmar Baquit (PDT) também pediu a palavra e se dirigiu aos parlamentares da oposição. Ele ressaltou que o Apóstolo Luiz Henrique apenas se defendeu diante das insinuações de que ele teria “se vendido”.
“Ele não acusou o Reginauro nem o Felipe Mota, não estou entendendo essa indignação, vamos baixar a bola (...) Será que não quero bem ao Felipe Mota? Tenho ele como filho, o Reginauro todo dia dou um beijo nele. Agora, o camarada foi chamado de ‘se vendeu’, se ele não se indignar, ele vai fazer o quê?”, questionou o político.