O secretário de Audiovisual, André Sturm, desponta como favorito para substituir o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, demitido nesta sexta-feira (17) após fazer um discurso com alusão nazista em um pronunciamento oficial da Pasta, o que provocou uma onda de indignação e repúdio com repercussão internacional.
Até a definição do novo secretário, assume interinamente José Paulo Soares Martins. André Sturm era secretário de Cultura de João Doria, no Governo de São Paulo, e foi levado para o Governo Federal a convite de Roberto Alvim.
A aliados, Bolsonaro justificou a demissão de Alvim por amor a Israel. “A questão de Israel é muito cara ao presidente. Ele nos disse que não poderia permitir que feridas que jamais serão cicatrizadas sejam expostas no Governo dele”, disse o deputado Ottoni de Paula (PSC-RJ), que estava na sala do presidente no momento da demissão.
Bolsonaro considerou insustentável a permanência de Alvim no Governo. A polêmica surgiu após um vídeo ser divulgado para anunciar o Prêmio Nacional das Artes. Na gravação, Alvim fez alusão a uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels.
Em sua conta no Facebook, Alvim disse que o discurso dele semelhante ao do ministro da Alemanha nazista é “coincidência retórica”. Assim como Goebbels havia afirmado em meados do século XX que a “arte alemã da próxima década será heroica” e “imperativa”, Alvim disse que a “arte brasileira da próxima década será heroica” e “imperativa”.
Repercussão
O vídeo em que Alvim emula um discurso de Goebbels repercutiu na imprensa ao redor do mundo. Segundo o jornal americano “The New York Times”, a reação ao vídeo foi o mais recente caso “em um debate mais amplo sobre liberdade de expressão e cultura na era Bolsonaro”.
“O presidente fez sua campanha prometendo uma correção de curso após uma era de líderes de esquerda, que ele acusa de terem tentado impor o ‘marxismo cultural’. Críticos dizem que ele e seus aliados estão abordando de forma dogmática as artes, o sistema público de educação e os direitos sexuais e reprodutivos”, afirma a reportagem.
Na Alemanha, o caso também foi noticiado. A revista “Der Spiegel” citou a mensagem publicada pela embaixada alemã no Brasil, que afimou se opor a qualquer tentativa de “banalizar ou mesmo glorificar o tempo do nazismo”. Já o “Frankfurter Allgemeine” destacou que, apesar de ter negado a apologia a Goebbels, Alvim disse que não há nada de errado com sua frase.
O “Washington Post” definiu Alvim como “um dos maiores militantes da guerra cultural no Governo” e lembrou que o ex-secretário já comparou a esquerda a “baratas”.
O jornal britânico “The Guardian” também descreveu Alvim como um aliado do Governo Bolsonaro na “guerra cultural”, e lembrou que a mesma ala já promoveu ataques a pautas como as mudanças climáticas e o feminismo.
As emissoras de TV BBC e CNN também citaram como respostas contrárias ao vídeo a reação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e da Confederação Israelita do Brasil.
Na França, o jornal “Libération” classificou o caso como um escândalo, enquanto o “Le Figaro” lembrou que o posto de Alvim era o equivalente ao de ministro da Cultura, Pasta que “simplesmente desapareceu no Governo” depois de ser absorvida primeiro pelo Ministério da Cidadania e, depois, pelo Turismo.
Convite a Regina duarte
A atriz Regina Duarte confirmou, nesta sexta-feira (17), ter recebido o convite para assumir a Secretaria Especial da Cultura. Ela admitiu, porém, não estar “preparada”. “Não é a 1ª vez que sou convidada para esse cargo, me assusta muito”.
Nota de Israel
A Embaixada de Israel no Brasil apoiou, em nota, a decisão do Governo de demitir Alvim. “O nazismo e qualquer uma de suas ideologias, personagens e ações não devem ser utilizados como exemplo em uma sociedade democrática sob nenhuma circunstância”.