A Executiva Nacional do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) aprovou, nesta sexta-feira (12), a renovação de Bruno Araújo (PE) como presidente da sigla. O mandato dele na função se encerraria em maio deste ano, mas agora foi estendido até maio de 2022.
Ex-ministro das Cidades e ex-deputado federal do Estado de Pernambuco foi eleito presidente da leganda no ano de 2019, substituindo Geraldo Alckmin com o apoio do governador de São Paulo, João Doria. À época, ele via em Bruno Araújo um rosto para personificar o projeto que denominado pelo governador de “novo PSDB”.
Fortalecer oposição
Na segunda-feira (8), em um jantar no Palácio dos Bandeirantes, aliados de João Doria apresentaram a ideia de colocá-lo na cadeira de Bruno Araújo ao fim do mandato do dirigente.
Com isso, buscariam fortalecer a posição do governador no PSDB, visando acentuar o caráter de oposição à gestão de Jair Bolsonaro e unificar a sigla em torno da candidatura presidencial do chefe do Executivo estadual de São Paulo em 2022.
O próprio Bruno Araújo estava no jantar, e se viu surpreendido pelo anúncio. Outros presentes não alinhados com João Doria, como o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira (SP) e o líder na Câmara dos Deputados, Rodrigo de Castro (MG), apresentaram objeções à ideia.
A tática voltou-se contra João Doria. Revelada pelo jornal Folha de S.Paulo na tarde seguinte, a proposta contrariou até aliados do governador.
Oposição
Falando publicamente, o governador não tocou no tema, mas centrou fogo na sua ideia de que o PSDB precisa ser de oposição clara Jair Bolsonaro.
E apontou para o deputado Aécio Neves (MG) como foco de dissidência governista dentro do partido, sinalizada no apoio de boa parte da bancada na Câmara dos Deputados ao candidato do Planalto ao comando da Casa.
Isso gerou um embate duro entre os dois, com acusações mútuas e o pedido de afastamento do mineiro por parte do governador. Essa parte da crise ainda está inconclusa, embora haja uma definição por parte de João Doria de deixar a temperatura abaixar.
Já a questão de Bruno Araújo evoluiu negativamente para João Doria. Um movimento de todos os diretórios estaduais do partido sugeriu uma recondução geral de mandatos, usando a pandemia como desculpa. Na realidade, queriam dar um sinal ao paulista.
Pacificação relativa
Sem opção, João Doria aquiesceu e o diretório paulista, comandado por seu aliado Marco Vinholi, também aderiu à proposta que foi consumada de forma unânime na reunião desta sexta. A ideia havia recebido apoio da maioria da bancada na Câmara dos Deputados e de todos os senadores da sigla.
Com isso, há uma pacificação relativa no partido. Bruno Araújo virou presidente da sigla em 2019 com o incentivo direto de João Doria, o que não o torna exatamente um adversário.
Alternativa presidencial
Por outro lado, ficou claro ao governador que o tucanato vai vender caro a unidade para 2022. A apresentação do governador gaúcho Eduardo Leite como alternativa presidencial, antes vista apenas como um diversionismo de adversários de João Doria, agora é um fato concreto.
Em um almoço em Porto Alegre com 21 parlamentares na quinta (11), Eduardo Leite sinalizou que topa assumir a posição.
Aliados de João Doria dão de ombros quando se fala em prévias, lembrando que o tucano venceu as duas que enfrentou para ser candidato e vencer a prefeitura paulistana (2016) e o governo estadual (2018).
Mas o jogo nacional é diferente. Se a questão não for resolvida neste semestre, haverá dificuldades de montagem de palanques estaduais em torno de uma candidatura Doria. O preço cobrado por potenciais partidos aliados também sobe.
Resistência da bancada federal
Desde a reeleição de Fernando Henrique Cardoso em 1998, apenas em 2014 o partido foi para o pleito unido. O resultado foi a quase vitória de Aécio Neves no segundo turno contra Dilma Rousseff (PT).
Além de Leite, Doria também terá de lidar com a resistência na bancada federal, Aécio à frente. Com isso, a acomodação com Araújo dá um respiro provisório ao clima de turbulência, mas não encerra a questão.
Aliados de Doria argumentam que o protagonismo nacional do governador na pandemia da Covid-19, onde derrotou até aqui Bolsonaro no manejo da crise por seu investimento na vacina Coronavac, dá a ele uma condição natural de candidato.
Para eles, se o PSDB se fizer de difícil, corre o risco de perder Doria para alguma sigla alternativa. Já entusiastas de Leite dizem que o gaúcho traria um ar de novidade para a corrida, apesar de admitirem que ele tem menor densidade política do que o paulista.