'Parece que o Bolsonaro ainda não assumiu o papel de presidente', diz Tasso

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o tucano reclamou do 'bate-cabeça' no Governo Federal e rechaçou a adesão do PSDB à base aliada à Bolsonaro

Futuro relator na comissão especial do Senado sobre a reforma da Previdência, que deverá ser instalada nesta terça-feira (19), o senador Tasso Jereissati (PSDB) disse que os "bate-cabeças e bobagens" ditas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) têm atrapalhado a aprovação da proposta de mudanças nas regras das aposentadorias. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada nesta segunda-feira (18), o parlamentar defendeu que o PSDB apoie a agenda econômica do governo, mas rechaçou a ideia do partido integrar a base aliada à Bolsonaro.  

Para Tasso, existem diferenças "fundamentais" entre o PSDB e o Governo Bolsonaro que não representam a "visão de mundo nem de vida" da sigla tucana. Ele comparou o perfil do ministro da Economia, Paulo Guedes, "de forte abertura do Brasil ao comércio exterior", ao de Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, "influenciado por um filósofo, Olavo de Carvalho, com ideias absolutamente fora do padrão". 

O governo não tem cara. É um monstro, um Frankenstein com um pedaço de cada, um objeto disforme. A articulação política do governo está bagunçada. São vários grupos que não se dão entre si e têm opiniões que contrastam em vários assuntos. A gente não sabe quem é quem, quem fala por quem"

Essa falta de articulação política, considera o senador, é um dos problemas que o Governo Bolsonaro enfrenta para tocar a reforma da Previdência.

Com bate-cabeças e bobagens ditas e feitas pelo presidente, assuntos secundários e polêmicos levantados desnecessariamente, trazendo para dentro do Congresso discussões e rejeições. Parece que Bolsonaro ainda não assumiu o papel de presidente da República do Brasil. Essa é a sensação que passa. Ao contrário: ele está fomentando a discórdia. É a antítese do que um presidente quer para o seu governo"

Previdência 

Ele reclamou também do desencontro de informações entre os próprios interlocutores do Palácio do Planalto sobre a proposta previdenciária encaminhada ao Congresso.

A equipe econômica coloca a necessidade de fazer R$ 1,5 trilhão com a reforma da Previdência, diz que isso é inegociável. Aí o presidente vai e fala na imprensa que pode diminuir a idade de aposentadoria das mulheres. Qual é a informação verdadeira? Qual o impacto de fazer uma ou outra coisa? Tem gente demais falando"

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Das mudanças propostas na aposentadoria, Tasso destaca o Benefício de Prestação Continuada (BPC) como o ponto que foi "unanimemente mal recebido" pelos parlamentares e que, na opinião dele, deveria ser retirado da reforma. Além disso, o cearense avalia que a proposta de desvincular gastos públicos do Orçamento para estados e municípios, com o intuito de garantir apoio dos governadores à reforma, prejudica o andamento da proposta. 

Política 

Na entrevista da edição impressa da publicação nacional, o senador cearense aborda ainda as questões internas do seu partido, o PSDB, e a possibilidade de reunião de nomes nacionais como o apresentador Luciano Huck e Joaquim Barbosa em um novo partido, de centro, com ideias novas, mas descarta uma saída do PSDB