Ministro Ramos revela que tomou vacina 'escondido' e tenta convencer Bolsonaro a se imunizar

O chefe da Casa Civil revela que se vacinou porque "quer viver" e acredita na ciência, mas que fato não era para ser divulgado por orientação do Planalto

Luiz Eduardo Ramos, 64, ministro da Casa Civil, afirmou nesta terça-feira (27) que se vacinou contra a Covid-19 neste mês e ainda revelou que foi orientado a tomar o imunizante"escondido". Fala foi feita em reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu), onde ele ainda afirmou ter medo pela vida do presidente Jair Bolsonaro, caso ele não seja imunizado

"Estou envolvido pessoalmente tentando convencer o nosso presidente, independente de todos os posicionamentos, que nós não podemos perder o presidente para um vírus desse. A vida dele, no momento, corre risco, ele tem 65 anos [na verdade, 66]", disse o ministro. 

Desde que mudou de discurso, Bolsonaro, que se posicionava contra a imunização, já falou mais de uma vez que pode ser imunizado, mas que quer ser o último da fila.

Ramos disse no encontro que a informação de sua vacinação acabou vazando, mas diz que orientação foi não divulgar o fato. "Não tenho vergonha, não. Eu tomei e vou ser sincero, porque, porra, eu, como qualquer ser humano, eu quero viver. E se a ciência e a medicina estão dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor?", disse Ramos.

Casa Civil diz que vacinação não foi escondida

Em nota, a Casa Civil disse que Ramos foi vacinado em 18 de abril com a primeira dose da vacina da AstraZeneca "como cidadão comum, em seu carro e enfrentando fila como qualquer brasileiro".

"Ao dizer, de maneira informal, que teria tomado a vacina 'escondido', o ministro se referia ao fato de ali estar um dos mais de 38 milhões de brasileiros que já se vacinaram e não um ministro de Estado", diz o comunicado, que acrescenta que a imunização do ministro foi divulgada na imprensa.

"O ministro, portanto, não tomou a vacina de forma escondida e nunca foi orientado a não relatar tal fato. Apenas não quis fazer desse momento um ato político", encerra a nota.

O comunicado da pasta não menciona as declarações do ministro sobre o risco à vida de Bolsonaro nem a campanha para que o presidente seja imunizado.

Reunião

No encontro desta terça-feira, também participaram os ministros Marcelo Queiroga (Saúde) e Paulo Guedes (Economia). Eles não sabiam que a reunião estava sendo transmitida ao vivo pela internet. Guedes inclusive, ao saber da transmissão, pediu para "não colocarem no ar".

Paulo Guedes disse na reunião que "o chinês inventou o vírus" da Covid, mas tem uma vacina menos eficiente do que a desenvolvida por empresas americanas.

A frase sobre as vacinas da China e do EUA foi dita num contexto em que o ministro da Economia defendia a maior eficiência de empresas privadas em comparação com o setor público.

"O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem cem anos de investimento em pesquisa. Então os caras falam: 'qual o vírus? É esse? Tá bom'. Decodifica, tá aqui a vacina da Pfizer. É melhor do que as outras", disse Guedes.