Em meio à disputa pelo comando das casas do Congresso Nacional, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adotou postura de cautela e interrompeu as negociações para a realização de uma reforma ministerial no início deste ano. A articulação com os partidos do Centrão, que vinha ocorrendo desde o ano passado, foi paralisada após o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) ter efetivado alianças com partidos de oposição na corrida pela presidência da Câmara dos Deputados.
A bancada do PT anunciou na última segunda-feira (4) que apoiará o candidato do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A legenda tem a maior bancada, com 52 parlamentares. O avanço do bloco de Maia convenceu Bolsonaro a seguir conselho de assessores palacianos, sobretudo da cúpula militar, de interromper negociações até que o cenário de favoritismo se torne mais claro, o que esperam que ocorra até o final do mês.
Além do PT, PDT, PSB, PC do B e Rede oficializaram a entrada na candidatura de Baleia. O receio no Governo é de que o movimento possa mudar a posição de legendas como Solidariedade e PTB, que já tinham sinalizado apoio ao deputado federal Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão e nome de Bolsonaro. O diagnóstico no Planalto é de que agora há chances concretas de uma vitória de Baleia Rossi. Caso ela ocorra, o mapa de cargos articulado até o momento terá de ser refeito, já que Bolsonaro precisará negociar espaço com o MDB para garantir a votação da pauta de interesse do Governo.
Em conversas reservadas, integrantes do Centrão já tratavam com o Planalto a divisão de ministérios após uma eventual vitória de Lira. Nas negociações, eram discutidas indicações para os comandos de pastas como Turismo, Educação, Minas e Energia e, ainda, a Secretaria de Governo
Para a Saúde, mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente avaliava retirar o general Eduardo Pazuello e nomear o líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O assunto, segundo assessores palacianos, foi abordado no final de 2020 em reunião no Planalto. Para o lugar do ministro Onyx Lorenzoni, que hoje comanda a Cidadania, a ideia era nomear um indicado do Republicanos.
Apoios
Com o anúncio do PT, Baleia conta agora com o apoio de um conjunto de partidos que soma 278 parlamentares.
Já Lira tem o respaldo de siglas que totalizam 206. Para vencer a eleição, marcada para o início de fevereiro, é necessário ter o apoio mínimo de 257 parlamentares. A sinalização de apoio, no entanto, não significa a adesão completa das bancadas das siglas à chapa eleitoral.
Isso porque elas só se tornam oficiais após o registro da candidatura, na véspera da votação, e podem mudar de postura até lá. Além disso, o voto é secreto, podendo haver traições de deputados à decisão oficial da bancada. Nos bastidores, por exemplo, já são contabilizadas traições em legendas como PSL, PCdoB e até mesmo no PT, entre aqueles que votaram contra o apoio a Baleia Rossi na bancada do partido.
A um mês para a eleição legislativa, a equipe ministerial tem, em conversas de bastidor, se dividido sobre o apoio de Bolsonaro ao líder do Centrão. Na cúpula militar, e até mesmo no núcleo ideológico, há integrantes que não escondem simpatia por Baleia, apesar de rejeitarem Maia.
A posição unânime, contudo, é de que agora Bolsonaro não pode abandonar Lira, gesto que irritaria o Centrão e poderia fomentar retaliações contra a pauta do Governo. A estratégia é que Bolsonaro siga declarando apoio público a Lira, mas que a articulação política mantenha, em caráter reservado, contato com Baleia. O diálogo, segundo relatos feitos à reportagem, tem sido capitaneado pelo ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
O general tem uma boa relação com Baleia e simpatia pelo deputado. Apesar de Bolsonaro ter como principal objetivo neste início de ano derrotar Maia, o ministro da articulação política já foi mais de uma vez elogiado pelo atual presidente da Câmara.
A resistência a Lira tanto entre militares como entre ideológicos deve-se, sobretudo, à pressão do bloco do Centrão por cargos no Governo, com o objetivo de oferecê-los como moeda de troca por votos na disputa legislativa. Em conversa reservada, o próprio presidente já se queixou sobre o apetite do Centrão.
Comitiva
Filiado ao mesmo partido de Rodrigo Maia, o deputado federal Elmar Nascimento (BA) não só decidiu apoiar o candidato que é do grupo adversário ao do correligionário como passou a atuar na campanha do líder de Arthur Lira.
Viagem
Ontem, Elmar integrou comitiva do líder do Centrão em viagem ao Amapá e ao Pará. Em Macapá, Lira visitou o governador Waldez Goés (PDT). Em Belém, esteve com o governador Helder Barbalho (MDB). Os dois são filiados a partidos que compõem o bloco de apoio de Baleia Rossi. Lira busca se vender como um candidato independente e não submisso ao presidente